Sobre Canto Presente

Canto Presente: Autor: Paulo Nunes Batista: Departamento de Cultura: Goiânia: 1969. 117p.

Em mãos, Canto Presente, livro do poeta Paulo Nunes Batista, mais um presente que recebo do autor. De publicação mais recuada, para mim é inédita. Não poderia ser diferente, pois só vim conhecer este carismático poeta em 1990 em Campina Grande, por ocasião de uma sua visita ao Nell (Núcleo de Estudos Lingüísticos e Literários) da UFPB. Levado por outro poeta cordelista e pesquisador José Alves Sobrinho, que se nos apresentou, nos concedendo rica entrevista acerca da literatura de cordel.

Poeta de vasta, diversificada, profunda e singular obra. Não se pode aquilatar em qual das modalidades o Paulo Nunes Batista é melhor. De ampla cultura tanto erudita quanto popular, vem singrando espaços, deixando a admiração de todos que entram em contacto consigo e sua obra, sua produção, sua verve renovadora.

Obra que foi alvo de apreciações e comentários dos mais criteriosos literatos. Só para citar alguns: Bernardo Elis, Licínio Barbosa, Enéas Athanázio, Francisco Vasconcelos, Jorge Amado, Anderson Braga Horta, Ascendino Leite, Neuma Fechine e tantos outros. (o autor pode completar esta lista).

Quer como cantador do povo, como andarilho, clássico ou cidadão comum, sendo único – é sempre aquele ser humano muito autêntico. Fiel as suas origens nordestinas; seu tradutor com todas as palavras e gestos.

Vem espalhando como dádiva divina, mensagens em forma de poesia solta, rimada, abcs, artigos, ensaios, crônicas, contos; estórias que encantam e libera o espírito a vôos altaneiros.

Canto Presente – não é diferente dos posteriores, trás a marca da reflexão filosófica, o existencial, a revolta, o protesto, a angústia do ser-, em busca do auto-conhecimento.

Mágico da poesia, artesão da palavra, captador do sentimento vário. Descobre em tudo, de tudo faz nascer um poema, um repente escrito, com aguda sensibilidade de poeta nato.

Descendente de poetas pelo lado materno e paterno- das plagas nordestinas- em especial paraibanas – nasceu predestinado ao canto. Este é o Canto Presente. Já houve outros anteriores e sempre sua voz interior e profética alcançará dimensões universais. Ecoará. Seu espírito – o auto conhecimento: verdadeiro nascedouro de toda glória. A riqueza interior aliada ao carisma exterior, pelo gênio humanitário, acolhedor e reflexivo, faz com que por onde passe deixe marcas positivas, altruístas, afetivas.

Inteligência e criatividade, cultura e humanitarismo – apagam quaisquer vestígios pretéritos que por ventura possa ter tido, quota de fraquezas humanas, - porque humano, portanto vulnerável.Aventura para o poeta Paulo Nunes Batista, em sua existência, tomou o nome de sonho; Narcisismo vestiu-se de brilho próprio, como força, emanando luz de si para os outros.

Canto Presente foi o prenunciar de tantas canções que comporia em verso pela vida afora. Voz forte e terna. Poemas de verso branco e poesia metrificada, ambas modalidades, com busca de perfeição na vida de beletrista. Sentindo o mundo com lirismo e realismo ao mesmo tempo. Foi crescendo como poeta e escritor, através das décadas; embora nasceu poeta. Profundo conhecedor do seu mister, possui élan ímpar e sempre incansável para as coisas sóbrias, espirituais, que preencham suas necessidades intrínsecas, e sobretudo metafísicas. Este aspecto bastante ressaltado no livro “Vôo Inverso”.

Em Canto Presente, o poeta cobre diversas temáticas do conviver humano. Poemas que são quase sempre um contar de estórias em verso, - e ou diálogo consigo mesmo (monólogos) e com o mundo – sobre tudo que perpassa o mortal homem na terra. No discurso poético está implícito ou explicito o grito social, a ânsia de justiça, a afeição, o amor humanitário, a camaradagem, o cósmico, a paz. Simbolismo, realismo, lirismo!

Eis alguns poemas reveladores desta assertiva: Sempre que penso em ti; Como é bom ser bom; Estória do Pescador da Goiabeira; Chuva; Sombras; Na detenção; Poema que voltou; Quero ver o mar; Divagando na noite; É isso; Ocaso; Manhã;Balada; O Sino; Canto a Oxumaré; Poema para Iemanjá; A Cólera e a Rosa; E finalmente Na nossa rua, Festando na Trindade, Goiânia e Bom dia Amor.

Hoje – após conhecer várias obras do autor Paulo Nunes Batista, posso afirmar sem dúvida de errar: que nunca conheci poeta igual. Cria momentaneamente, improvisando, cria pensando sozinho no silêncio das madrugadas, cria reflexivamente dialogando com o cosmos, em busca de uma explicação para a angústia humana, cria ao criar tantos sonhos – pela estrada longa, e queira Deus a prolongue; vida, que só ele sabe os espinhos,- estes que soube transformar em flores.

maria do socorro cardoso xavier
Enviado por maria do socorro cardoso xavier em 09/04/2006
Código do texto: T136495