COORDENAÇÃO E SUBORDINAÇÃO: PROCESSOS DE RELACIONAMENTO

CARONE, Flávia de Barros. Subordinação e coordenação: confrontos e contrastes. 3. ed. São Paulo: Àtica,1993.

Desde os primórdios, a humanidade sente a necessidade de desenvolver algum meio de comunicação que possibilite a interação comunicativa entre os habitantes de uma determinada comunidade e também entre comunidades.

Assim, pode-se observar que a história da humanidade está inerentemente ligada a um sistema de comunicação, ou seja, a uma ou várias línguas. As línguas conseqüentemente, são fundamentadas por um conjunto de regras gramaticais, que têm como pretensão homogeneizar o uso do idioma por seus falantes e/ou escritores.

Mas, para estabelecer relações gramaticais e/ou lógicas entre as termos, as línguas inclusive a portuguesa, utilizam, principalmente, dois processos de relacionamento entre as palavras: a coordenação e a subordinação.

No entanto, os processos da coordenação e da subordinação, costumeiramente, são abordados pelas gramáticas tradicionais de modo fragmentado, não traduzindo a real importância, que esses processos desempenham na construção de textos falados e/ou escrito.

Diante deste panorama, alguns estudiosos da língua portuguesa, como Flávia de Barros Carone dedicam-se à "problemática" que envolve o uso e a importância das orações coordenadas e subordinadas.

Carone (1993) que foi doutora em letras e professora da Universidade de São Paulo, desenvolve em cinco capítulos de seu livro, "Subordinação e coordenação: confrontos e contrastes", o seu posicionamento teórico.

Logo no prefácio, a autora enfatiza que baseará seus estudos nos posicionamentos teóricos trilhados por Louis Hjelmslev. Além disso, ela destaca que utilizou alguns conceitos da sintaxe estrutural de Lucien Tesnière.

No primeiro capítulo, "No país do espelho", observamos que é enfatizado o dilema que envolve o "porque", ou seja, essa conjunção pode vir numa oração subordinada adverbial causal ou numa oração coordenada explicativa.

O segundo capítulo, "um pouco de teoria", caracteriza inicialmente a função e o functivo. A autora afirma que o "o termo função não se aplica exatamente aos elementos que se relacionam, mas à própria relação que entre eles se estabelece" (CARONE, 1993, p.10). Neste sentido, um termo, numa oração não "exerce", nem "tem" uma função, mas a contrai. Já functivos são os dois elementos que contraem entre si uma função. Desse modo, numa perspectiva glossemática, essa relação de dependência fundamenta-se no fator pressuposição, que pode ocorrer ou deixar de ocorrer entre dois functivos. E os tipos de função definem-se a partir desse dado, com três possibilidades: a solidariedade, a seleção e a combinação. Porém, a autora refuta piamente a tendência que há em se relacionar a solidariedade à predicação; a seleção à subordinação; e a combinação à coordenação.

Neste capítulo também é enfatizado a catálise e a homogeneidade. Isto é, de uma maneira geral a catálise é uma recuperação mental; é uma extração de um significado a partir de um significante. Já a homogeneidade é um fator que caracteriza a relação de dependência entre a totalidade e os derivados; em outras palavras, as partes encontradas em uma dada operação divisória dependem da totalidade de um modo homogêneo.

No terceiro capítulo "subordinação e coordenação", Carone (1993), apresenta inicialmente a importância da subordinação, destaca que a língua portuguesa é predominantemente centrífuga, pois os numerosos complementos e adjuntos do verbo e do nome situam-se normalmente à direita destes. Além disso, destaca que o binarismo é um traço

fundamental que caracteriza o sintagma, ou seja, os sintagmas, por mais complexos que sejam, são organizados por pares functivos. Todavia, ela focaliza o debate nas orações coordenadas, que suscitam muitos problemas. Dentre estes, podemos destacar a coordenação de termos e de orações e a coordenação de funções diferentes. No entanto, a partir do quarto capítulo do livro observamos, inicialmente, que Carone (1993) propõe iniciar os estudos das orações a partir das subordinadas, haja vista que as orações subordinadas são mais coerentes, constituindo-se numa etapa necessária para a compreensão da coordenação. A autora destaca ainda a importância dos fenômenos da transmissão e da remissão para a análise de qualquer período dentro de um texto.

Entretanto, percebemos que há um aprofundamento mais intenso, no que diz respeito, a coordenação de orações, onde a autora expõe realmente os seus argumentos, segundo os quais, a conjunção que liga as orações coordenadas pertence à segunda oração, e a chamada "independência", ou "autonomia" das orações coordenadas é uma ilusão, haja vista que a seqüência das orações não pode deixar de ser rígida; não pode ser alterada, todavia, Carone (1993: 61) destaca que:

o único sentido válido que se pode entender a propalada "independência" das orações coordenadas diz respeito ao fato de que a conjunção coordenativa não opera o fenômeno da translação, que é imposta pelos instrumentos de subordinação e se completa com a inserção da oração subordinada em um ponto da outra – para estar a seu serviço, como termo subalterno.

E para encerrar o quarto capítulo, a autora enfatiza a importância da correlação e da justaposição e a polêmica questão que engloba o "infinitivo", o "particípio" e o "gerúndio", pois estes termos ora são vistos como nomes, ora são vistos como verbos. Desse modo, o infinitivo é nome substantivo, em relação a seus subordinantes e é verbo em relação a seus subordinados; o gerúndio é nome advérbio em relação a seus subordinantes e é verbo em relação a seus subordinados. Já o particípio suscita discussões, pois embora seja adjetivo em relação aos seus subordinantes, ele nem sempre é verbo em relação aos seus subordinados.

Já no último capítulo do livro "Algumas conclusões inocentes e outras nem tanto", há uma retomada a alguns pontos relevantes que foram explanados no desenvolvimento do livro, dentre os quais pode-se destacar a definição entre a coordenação e a subordinação; o princípio da homogeneidade dos functivos; e o "porque" enquanto palavra explicativa ou causal.

Diante disso, podemos observar que a autora propõe de maneira abrangente os seus argumentos, destacando os principais pontos que envolvem as orações coordenadas e subordinadas. Carone (1993), ao basear seu posicionamento teórico em estudiosos da linguagem como: Hjelmslev Louis e Lucien Tesnière, acaba aderindo a conceitos prontos e a críticas previamente formuladas, esse fato fica bem evidente, ao constatarmos a presença intensa de exemplos originários do latim e da língua inglesa, em seu texto. Então, esta é a principal falha que o livro da editora Ática e pertencente à série princípios, apresenta, ou seja, uma falta de exemplos atualizados, que reforcem os posicionamentos teóricos da autora.

Mas é válido citar que o texto cumpre seus objetivos iniciais, que são justamente dar noções gerais aos leitores acerca das principais características que envolvem as orações coordenadas e subordinadas, principalmente a propalada questão dos paralelismos gramaticais.

Assim, pode-se recomendar, sem restrições, a leitura do devido texto aos alunos de graduação do curso de Letras, como também aos demais interessados. Vale lembrar, contudo, que se trata de uma leitura inicial, servindo mais como uma introdução a um campo de pesquisa mais profundo e amplo

junior trezeano
Enviado por junior trezeano em 15/01/2009
Código do texto: T1386239