Filhos $ Amantes (TVD) Cap. 1

Capítulo 1

“É de bom tom estranhos serem apresentados. Eles são: David da Costa ( Vôvo ) e Ímola Hernandes Carrel”.

Nova York, altas horas. Burburinho no final dos anos 70. Em frente do Studio 54, pessoas comuns acotovelavam-se. Entrar na famosa discoteca era privilégio ou sorte. Vôvo jogava na segunda hipótese. Ainda hippie nas vestes, não tinha mais tribo. Ali, alguns apenas ficavam para ver celebridades chegarem. A música, as drogas, a amoralidade, do lado de dentro, não se analisavam. Eram vivenciadas. Foi quando Vôvo percebeu que entravam Stivie Rubell e fascinante mulher. Ela também o notou. Cochichou algo no ouvido do acompanhante. Este veio na direção de Vôvo e fez o convite:

___ Vamos entrar? Gostei de tua roupa!

Num passe de mágica ele estava nos domínios da decadência e dos excessos de endinheirados... Sentiu-se perdido naquele mundo alucinante. Porém, foi por breve tempo. Logo a mulher elegante, que o olhara e o atraíra, cumprimentou-o:

___ Olá! Estavas com dificuldades para entrar!

___ É, não tinha o nome na lista, não conhecia ninguém, respondeu Vôvo.

___ Agora, conheces...

___ Isto aqui é muito concorrido e surpreendente! O próprio dono me convidar! exclamou Vôvo.

___ É a divina decadência! O que fazes em Nova York?

___ Nada... Entrei pelo México, clandestino... Me liguei a um grupo de rock há uma porrada de anos, e... Qual teu nome?

___ Carrel... Sou estilista de modas...

___ Prazer, pode me chamar de Vôvo. Pensei que fosses americana...

“Casal hetero ou homossexual?”. Detalhe. Eles foram para cama e um completou o outro. Traziam a experiência de terem conhecido diversos parceiros. Não precisaram de juiz de paz ou padre para dizerem: sim. O quê os uniu foi a possibilidade de ficarem juntos. E como num jardim de terra fértil tudo floriu... ‘Mel Ferrer apaixonou-se por Audrey Hepburn porque ela se parecia com um garoto, segredou Carrel...’

“Virtualmente amorais, personas felizes e clowns”. Não negavam o passado. Contudo, permanecerem como antes seria desatino. O vício e a dependência, aprenderam, acontecem pelo não abandono. Os anos loucos foram loucos e fim. Recordavam os feitos como personagens, isentos de paixão. Descontraídos, riam de si mesmos. Concluíam que a existência é uma gostosa piada: viver e morrer...

“Sem problemas e neuroses”. Casal acumula chatice. Relacionamento cai na rotina. As desavenças são para expôr-se as discordâncias e geram a separação. Disse um especialista: ‘quem é bom de cama é péssimo de diálogo’. Se o tesão da novidade passou, outras descobertas hão de vir. Vôvo e Carrel fugiam à regra. Às vezes, naquelas horas de enlevo, eles eram um só. Ménage à trois, à quatre, ficaram nos tempos jovens, doidos, das cavalgadas em dragões. Isso foi na época do Woodstock e do Studio 54. Agora estavam mais Osho. Não eram bons, eram conscientes. Praticavam no dia a dia a harmonia do bem viver. Sem filhos, adotaram um cachorro: o Barão. Na contra-mão da Família, da Igreja, da Pátria, existiam. Com um site na Internet, escreviam sobre o cotidiano, política, gente famosa. Desde 1994 Carrel era proprietária da sauna gay: Thermas Vapor Dourado ou simplesmente TVD...

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