Resenha: Psicopedagogia hospitalar, Olívia Porto, WAK Ed., Rio de Janeiro, 2008.

Resenha: Psicopedagogia hospitalar, Olívia Porto, WAK Ed., Rio de Janeiro, 2008.

No caminhar da Psicopedagogia Brasileira, diferentes estilos e modos de atuar existem como resultados de trajetórias pessoais, de sujeitos em busca de fundamentação teórica que subsidie práticas e intervenções. Olívia Porto destaca-se neste cenário por sua sólida formação e atuação, brindando-nos com trabalhos que nos auxiliam na busca de matizes capazes de criar e sustentar novos pensamentos e ações pautadas no aprender e no ensinar, acreditando, como muitos de nós, que a aprendizagem é melhor modo de se atingir a emancipação humana. Neste seu mais recente trabalho, “Psicopedagogia Hospitalar, intermediando a humanização na saúde”, a autora elabora interessante síntese do pensamento psicopedagógico, com inúmeros elementos que aqui busco destacar.
O livro, prefaciado por Auredite Cardoso Costa, psicopedagoga com atuação importante na Psicopedagogia em nosso país e presidente da Seção Sergipe da ABPp Associação Brasileira de Psicopedagogia, discute aspectos essenciais à inserção do “agirfazer” psicopedagógico no campo hospitalar. Em sua apresentação, logo nas primeiras páginas, percebemos a necessária revisão de valores que fomente perspectivas humanísticas, capazes de ressignificar nossa humana trajetória.
Citando Leonardo Boff, um dos maiores pensadores brasileiros da atualidade em minha compreensão, Olívia nos relembra de nossa “animalidade” social, e destaca, ainda, nossos necessários esforços para melhor compreender e viver e relação eu-tu, já presente em trabalhos importantes no pensamento ocidental, como Martin Buber. No primeiro capítulo, intitulado “Humanização nos hospitais e na saúde”, temos um breve histórico do hospital e da saúde, onde a relação humana é que ganha destaque, mostrando a importância dos princípios da Ética e da Bioética como premissa para uma atuação capaz de dar novos significados e sentidos nos humanos encontros, contatos e relações de ajuda.
Aqui, Porto destaca que a intervenção psicopedagógica hospitalar pode ser um novo exercício de nossa profissionalidade, visto que o trabalho com as instituições e a clínica psicopedagógica já foram validados por nossa sociedade, pois são inúmeros os processos de colaboração que a Psicopedagogia tem construído na proposição de compreender a aprendizagem humana como um movimento que ocorre o tempo todo, em todos lugares, espaços e tempos humanos de vivência com o meio, com a cultura, com a vida, enfim.
A seguir, com suportes teóricos advindos de suas intervenções, estudos, pesquisas e ações profissionais, a autora elabora forte discussão sobre “Grupos e Equipes”, explicitando as diferenças entre ambos e equipe e caracterizando os papéis da liderança, se buscamos, de fato, humanizar o humano, como nos lembra Edgar Morin.
Compondo condições e critérios para a definição do sucesso em nossas intervenções psicosocioeducativas, no campo hospitalar, a autora conclui o capítulo enfatizando o papel das dinâmicas grupais nas relações humanas em equipes e grupos, afirmando que é possível validar cada sujeito que está presente, com seu trabalho e papel, como sujeitos desejante, aprendente e ensinante nas instituições que cuidam da saúde.
No capítulo terceiro, “Psicopedagogia Hospitalar” a ênfase está na própria necessidade da intervenção psicopedagógica nos hospitais e serviços de saúde: aqui, o que encontramos, são idéias elaboradas com o intuito de nos encorajar para um desafio a mais em nossa Psicopedagogia, que é o de estar presente como elos colaboradores para a restauração da saúde e da dignidade nestes espaços de transicionalidade humana. Rico em suas proposições, tal capítulo discute, com profundidade de ideais, o campo psicopedagógico hospitalar, propondo reflexões bem definidas sobre possíveis normas de conduta do psicopedagogo hospitar, trazendo esclarecimentos e sugestões de ações, como o uso do lúdico e da brinquedoteca, por exemplo, além das diferentes possibilidades presentes na Arteterapia, como ferramentas conceitual teórica e prática de intervenção com crianças, jovens e adultos.
O capitulo final desta importante obra, que preenche uma lacuna existente na bibliografia brasileira sobre o tema, Olívia Porto nos brinda com alguns interessantes estudos de caso, como modo singular de compartilhar suas vivências e fomentar o nosso desejo de continuar a aprender para intervir melhor. Na conclusão, uma convocação nos é feita, a medida que a autora enfatiza que “estamos só no começo desta trajetória na área hospitalar,mas, com nossas dedicação, aperfeiçoamento, determinação, ousadia e coragem, conseguiremos, sem dúvidas, romper mais um paradigma- o psicopedagogo na instituição hospitalar.”
De leitura essencial, com bibliografia bastante atual, este novo trabalho de Olívia Porto, com absoluta certeza, pode proporcionar boas discussões em Cursos de Formação e Especialização em Psicopedagogia e de Saúde em nosso país.
Parabenizo a autora por mais este interessante trabalho e, aos leitores, desejo um bom estudo, com muitas reflexões e aprendizagens.

Vivenda dos Anjos, Boca do Mato, Cachoeiras de Macacu, RJ.
Prof. João Beauclair, 7 de fevereiro de 2009.

Outros importantes livros da autora:

PORTO, Olívia. Bases da Psicopedagogia: diagnóstico e intervenção nos problemas de aprendizagem. Terceira Edição, WAK Editora Rio de Janeiro, 2007.

PORTO, Olívia. Psicopedagogia Institucional: teoria, prática e assessoramento psicopedagógico. Segunda Edição, WAK Editora Rio de Janeiro, 2007.