Filhos $ Amantes (TVD) Cap. 39

Capítulo 39

Desde que Alan e Targino passaram a freqüentar a TVD, pouco comentavam, entre si, as aventuras que viviam com os zods. Saiam para olhar o mulherio, para tomar banho de mar, para ver filmes ou ficavam na pensão onde o nordestino morava. Os pais de Alan não sabiam da existência dele. E quando Targino deixou escapar que um cliente o convidara para passar uma semana em Canoa Quebrada (Fortaleza), Alan silenciou...

Em casa, na sala de vídeo, Alan escolhia um filme para assisti-lo com o amigo. Selecionou “Sonhos”, de Akira Kurosawa. Também tinha os seus. Todos muito estranhos. Seu subconsciente deixava vir à tona o mistério intrincado de sua vida, através deles.

“Numa sala de trabalho, junto com outras pessoas, via aparecer um homem negro. Embriagado, ele se encaminhava em sua direção e quase num sussurro dizia: sou teu pai...

Na parede de uma sala, quadro com pintura abstrata era removido por ele. De um buraco retirava uma penca de bananas maduras. Ao depositá-la no chão surgiam muitas aranhas...

Deitado numa cama com o pai, criança, encostava as nádegas no sexo dele. Sentia frio, mas mesmo assim o pai o repelia, virando para o outro lado, emitindo um muxoxo de reprovação...

Na cozinha, ao abrir a porta do forno, deparava com apetitoso pão caseiro que não parava de crescer...

Dentro de um carro estacionado à frente de grande portão pintado de verde, conversava com dois amigos. Uma viatura da polícia buzinava, tentando entrar. O portão se abria e os homens sumiam... Apenas ele continuava, sozinho, num banheiro sujo, com forte cheiro de esgoto. Uma torneira pingava insistentemente. Sobre a pia de mármore encardido, óculos de lentes escuras o tentavam a usá-los. Ao colocá-los, se sentia mais seguro e via tudo diferente...

Madrugava. Deitado, sentia os passos da mãe que chegava em casa. Apressou-se em abrir a porta. Outras pessoas de aspectos vulgares estavam com ela. Um homem com o braço no ombro dela perguntou: cadê o cofrinho, garotão? A mãe permaneceu impassível...

Na montanha distante, ao céu azul, via Nosso Senhor Jesus Cristo ascender, sorrindo para ele...”

Na Thermas Vapor Dourado, os sigs andavam nus, geralmente “armados”, apregoando a mercadoria. Ele, com seus quinze centímetros, circulava discreto. Mas, não despertava menos atenção. O belo rosto, o ar refinado, a pele alva e um certo retraimento geravam-lhe boa renda. Repassava o produto dos “programas” para Targino que só aceitava após protesto e recusa:

___ Ó xenti, sô teu cafetão não! Num acho isso certo! Num quero o teu dinheiro...

___ Então joga fora, rasga, bota fogo, testava-o Alan.

___ Sô maluco não! Daí, daí! “Lembrou-se. Um zod de aspecto sisudo olhou-o com interesse. Peludo, transparecia masculinidade. Aproximou-se, puxando conversa:

___ Faz tempo que freqüentas aqui? Nunca te vi antes!

___ É, sou novo na casa, respondeu Alan.

___ Gosto dos teus modos... não pereces sig...

___ Cuidado, posso ser algo mais perigoso: um serial killer! ironizou Alan.

___ Mas, está te faltando uma horrenda tatuagem, observou o cliente.

___ Não gosto de marcas no meu corpo, afirmou Alan.

___ Essa tua pele branca e macia merece muitas lambidas, falou o zod, tocando-o.

Alan estremeceu ao contato daquele urso. Teve uma sensação de nojo e ódio. Baixou os olhos e, ao erguê-los um sorriso iluminou seu rosto. Apresentou-se:

___ Chamo Alan... Que tal pegarmos uma suíte?

___ Claro, claro! Estou transbordando de tesão por ti! Fazes passivo?

Alan não respondeu. Insistiu no convite:

___ Vai, espero aqui...

___ Não demoro, meu anjo! falou o zod afastando-se.

Dentro do reservado, Alan dirigiu-se para a cama, sem desfazer-se da toalha. O zod entrou por último. Fechou a porta, encostando-se nela e de forma burlesca cantarolou ora em inglês, ora em francês:

___ Boys!... My name is Lolita... And I’m not supposed to...Play...with boys... Moi?... Hã... Hã!... Mon coeur est à Papa...

Alan sorriu. O idiota devia ser um cinéfilo. Não imaginava que ele tão jovem, conhecia também Adorável Pecadora (Let’s Make Love) de George Cukor, com Marilyn Monroe. Resolveu alimentar sua representação, traduzindo a letra da música de Cole Porter:

___ “Rapazes!... Meu nome é Lolita... E eu não deveria brincar com rapazes... Eu?... Hã... Hã!... Meu coração é do Papai...” Imitas bem a Marilyn, até pareces com ela!...

___ Mentiroso, ela não tinha pelos! Assististe a todos os filmes dela? quis saber o zod, surpreso.

___ Alguns, na sessão da tarde... O meu preferido é “Quanto Mais Quente Melhor” (Some Like it Hot) de Billy Wilder... É difícil de acreditar que ela com aquela cara e aquele corpão todo estudava o colegial em Adorável Pecadora!

___ Coisas de roteirita, meu bem! Eu era muito jovem quando ela morreu em 1962... Ela era divina! afirmou o cliente. Não imaginava que sigs como tu admiravam velhos ídolos...

___ A minha velhinha favorita é Brigitte Bardot, confessou Alan.

___ Ulala! Não és biba, és?

___ Fica pelado e mostra esse bundão branco... Vou dar um trato nele, prometeu Alan, desafiadoramente.

___Ora, ouvi conversa! A festa vai ser boa... Que bofe animado!

O cliente desfez-se do roupão. Engatinhando, subiu na cama e pôs-se de bruços ao lado de Alan que ouviu:

___ Vem, ela é toda tua!

___ Calma! pediu o sig. Não sou um amador...

___ Não gostastes dela? perguntou o zod.

___ Não é isso! Apesar dos pêlos, por quaisquer “quinhentinhos” penso em La Bardot de “Deus Criou a Mulher”... Vê como estou ficando, disse Alan, desfazendo-se da toalha. Não é lá essas coisas...

___ Não te desmereças, meu lindo! O que importa é a eficiência e o diâmetro... Põe uma camisinha e manda brasa, meu Roger Vadim!

Alan obedeceu. Sobre aquele pulha, lembrou-se do que fazia com os ursos de pelúcia presenteados pelo pai. Seu pênis tornou-se um punhal afiado e penetrou o zod com fúria. Aos solavancos tomou sua cabeça entre as mãos e bateu-a contra a parede. Descontrolado, quase urrando, não ouvia a voz do zod dominado, esperneando: pára, pára...

No começo, o cliente sentiu certo prazer com a violência praticada. Que energia tinha o rapaz! Parecia tão delicado! Porém, zonzo com os golpes, reuniu forças e desvencilhou-se dele.

Alan, ao atingir o gozo, foi jogado para fora da cama. Confuso, pediu desculpas. Ficava alucinado naqueles momentos. Tentou reiniciar o programa. Seria de graça, prometeu. Segurou o braço do zod. Este não estava mais a fim. Deixou o dinheiro sobre a cama e saiu da cabine praguejando:

___ Porra, minha cabeça está sangrando! Serial gay killer de merda!...

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