Filhos $ Amantes (TVD) Cap. 43

Capítulo 43

“Juan despediu-se dos parentes. Retornava para casa. Vinha da missa de sétimo dia da morte da avó Lurdes. Ela morrera, dormindo, aos 81 anos. Fora uma boa mulher. Substituíra os pais, em sua educação, que desapareceram no acidente com o “Bateau Mouche 4” em 1988. Com 150 pessoas a bordo a embarcação naufragou entre a ilha da Contunduba e o Pão de Açúcar, no Rio de Janeiro. Morreram 57 pessoas. Foi a viagem de mais uma reconciliação. Ele tinha 10 anos ao perdê-los. Os pais não se davam bem, a não ser no sexo. Os conflitos eram inevitáveis. Amara os briguentos ao som de xingos, gritos e lágrimas...

A avó, de descendência espanhola, era paterna. Desde a primeira vez que ela viu a nora sentiu que não haveria harmonia entre ambos. A princípio a mãe foi submissa. Não discutia as decisões do pai. Tirava-lhe os sapatos, vestia-lhe as meias. Era sim meu bem, não meu amor... Criada num orfanato pouco sabia do mundo fora. Geniosa latente aguardava o momento de mostrar-se. Tinha pêlos nas ventas. Um soco do pai a fez reagir, despertar:

___ Nunca mais levanta a mão pra mim, maldito! Jogo óleo quente no teu ouvido quando estiveres dormindo...

Na jovem calada, ingênua, obediente, solidificou-se a verdadeira personalidade. ‘A mosca morta nem sabia fazer sexo, dizia o pai.’ ‘Eu era virgem, criada dentro de regras, defendia-se a mãe’. O pai gabava-se de tê-la ensinado a satisfazer um homem na cama.

___ É... eu me aperfeiçoei, respondia ela. Ninguém reclama...

___ O que tás insinuando, cadela! Que sou corno? Não brinca comido que eu te dou um tiro nas fuças! ameaçava o pai.

___ Ah, vira pra lá e dorme! falava a mãe, dando-lhe as costas.

A avó tinha o dom da premonição. Lia a sorte nas cartas. Costumeiramente, pessoas marcavam consultas. Queriam saber de amor, de negócios, de saúde... Para o próprio filho afirmara: não tem mais jeito... vocês não se separam mais... criaram raízes de tesão... ficarão juntos até o fim da vida... Quando Juan foi gerado, a vontade dos pais era que fosse menina. Até já tinham escolhido o nome para o bebê: Maria Fernanda. Essa história nunca o abandonou. Mesmo que eles não lhe dedicassem a atenção devida, cresceu entre brinquedos, livros, vídeo game e Internet. Sob a tutela da avó tornou-se alegre, brincalhão, sem problemas. Era protegido por ela quando ocorriam os bate-bocas.

Numa noite, a mãe chegou tarde. O pai a esperava bufando como um touro. O menino estava na sala vendo TV e pode ouvi-los no andar de cima da casa:

___ Isso são horas de uma mulher casada chegar?

___ Não enche o saco! Fui ao cinema... já que não me levas... a condução demorou, desculpara-se ela.

___ O que não vão dizer os vizinhos?

___ Que és corno! Tás satisfeito? retrucou ela.

A porta do quarto bateu e os insultos entre eles ficaram inaudíveis... Estavam felizes ao viajarem para o Rio de Janeiro naquele revellion fatídico. Só tornou a vê-los mortos. Foram enterrados um perto do outro...

A vida tomou seu curso normal. Alguns bens deixados pelos pais ampararam a ele e a avó. Juan formou-se e passou a ministrar aulas de espanhol. O instinto de macho despertou a libido. Nada que uma bela profissional não satisfizesse. Não pensava em se unir a ninguém tão cedo. Sentia-se livre e satisfeito na companhia da avó, dando aulas... Um dia, tomado de curiosidade, quis saber do futuro. Foi o último cliente que ouviu as previsões da advinha.

___ Fala, “vó”! O que vês nas cartas?

___ Duas pessoas surgirão... Uma será elo de ligação com a outra...

___ E daí? Isso tá muito confuso, “vó”!

___ Um homem, também jovem, vai se envolver contigo... Mentiras e verdades ligarão vocês...

___ Que diabo de futuro é esse, “vó”?!

___ Vejo risos, amor, sexo entre vocês...

___ Se liga, “vó”! Eu não sou gay!...

___ As cartas não mentem...

Juan ficou encafifado com o que ouvira. Que destino vadio o aguardava! Mais calmo, deu certo desconto ao que ela dissera pois estava velha... Sofreu com sua morte. Mais do que o perecimento dos pais.”

Em casa, foi para o quarto, sentou-se diante do micro e acessou a Internet. Sentia-se só. Entrou num site qualquer de conversação com o nick de Maria Fernanda...

Há seis meses, Juan freqüentava a Vapor Dourado. Tentava driblar os zods que simpatizavam com ele, alegando: estou esperando alguém... Achava que naquele lugar encontraria a resposta para seu desencontro, há um ano, com Santiago. Que bem podia ser Miss Planet. Nunca mais a encontrou após a entrevista. O prêmio que iam oferecer ao Sig do Ano, incentivou-o a freqüentar o ambiente. Os ricaços ofereceriam nada mais nada menos do que um milhão de reais! Percorria a sauna filandesa, a vapor... Jogava conversa fora com os mass e segs. Não apreciava muito vídeos pornôs. Até preparava aulas de espanhol nas salas de TV e leitura... Na sala de cinema foi interpelado por um sig que se sentou ao seu lado.

___ Já assisti a esse filme umas cinco vezes. Embora prefira filmes de ação e suspense...

___ Summer 42 é um belo filme. Robert Mulligan e Michel Legrand fizerem uma grande parceria, falou Juan.

___ E Jennifer O’Neill?

___ Porra, caralho, este lugar tá nos fazendo sensíveis demais! falou Juan em tom de escárnio.

___ Tem vergonha não, cara! Nem tudo é sexo e dinheiro, falou o sig.

___ Mas o prêmio de um milhão de reais é! rebateu Juan.

___ Não tenho dúvidas! concordou o sig.

Ao final do filme foram para o bar. A empatia entre ambos foi instantânea. Falante, o sig demonstrava experiência nos assuntos. Dizia estar ali para conhecer gente endinheirada. Quem sabe um daqueles zods o levaria para a Europa. Sabia de histórias de sigs que se deram bem. Tinha cabeça feita, era liberal. Conhecera um empresário da noite que poderia realizar seu sonho.

___ Aqui se você é maleável, as coisas acontecem...

___ E essa tal de Miss Planet? Tu a conheces? perguntou Juan.

___ Eu a conheci numa festa badalada... Deu-me um cartão... Depois daquela entrevista sacana-filosófica , nunca mais vi a drag!

Juan convencia-se que Miss Planet existia sob o manto do mistério. Era uma gerente de olhos e presença invisíveis. Um velho ator ERG aproximou-se. Parecia conhecer o sig. Dezenas de artistas apareciam ali atraídos pelos boys, diversão, segurança e anonimato.

___ Que tal pegarmos uma suíte? sugeriu o ator.

___ O convite é para dois? perguntou o sig ao olhar surpreso de Juan.

___ Três nunca é demais, bonitinhos! afirmou o ator. Tenho duas mãos... Vou buscar um cartão eletrônico.

Juan ficou indeciso em participar da suruba. O sig tentava convencê-lo. O ator, dizia ele, era engraçado. Gostava de brincar de adivinhações. Pagava cem paus por cada resposta certa. Fazia imitações de gente famosa como ele. Era um devasso do bem, garantiu.

___ Tens medo do quê, camarada? Ninguém vai comê teu rabo na marra!

___ Isso não é bem minha praia, ponderou Juan.

___ E daí? Nunca lambeste a bunda, seguraste o pau de um zod? Se não, se tens nojo é melhor ires para o Love Story, Lá há só mulherio... uma mais gostosa do que a outra... Vai gastar teu money com elas... Aqui não há motivos para hipocrisias...

Se o sig não o convencia, pelo menos lhe dava uma opção. Ninguém o impossibilitava de ir embora. Mas, resolveu ficar. Nada de beijo na boca ou penetração, impôs. A favor do ator, o sig ainda argumentava que gostava do bom humor dele. Mesmo que não aches graça em suas brincadeiras, sorri, aconselhou. Por sua vez estava ali para o que desse e viesse.

___ Lá vem papai! disse o sig vendo o ator a retornar. Qual teu nome parceiro?

___ Juan, e o teu?

___ Sam, apenas Sam...

Na suíte o ator se dirigiu para a cama. Sam seguiu-o, desinibido. Os dois ficaram olhando Juan protegido pela toalha. Juan não podia se sujeitar àquilo que via: dois homens pelados, mexendo no saco, no pinto... Ouviu o zod dizer:

___ Vamos começar nossa maratona de perguntas para aquecer... Esta é para ti Sam... Quem disse isto: Si, jamás fui tocada por alguien...

___ Maria Fernanda, respondeu Sam.

Juan empalideceu...

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