Filhos $ Amantes (TVD) Cap. 44

Capítulo 44

Matheus, no interior do velho carro, ia para o hospital. Guardava dentro de si segredos de muita lascívia perto dos trinta anos. Filho de mãe solteira, ele tinha mais quatro irmãos de pais diferentes. Nem por isso os cinco eram menos amados. Dona de seu nariz, ela criara-os de modo um tanto amoral. Decantava: sou como Eva Gardner, (atriz norte-americana falecida em 1990) adoro homens fortes. Os excedentes são apenas apelos da carne. Achava-se comum, fêmea jeitosa, falsa loura que os machos cobiçavam e até brigavam para possuir. Mas isso não a envaidecia. E sim as bijuterias, vestidos curtos, maquiagem, perfumes. As pernas torneadas a caminhar sobre sapatos de saltos altíssimos a faziam uma deusa. Ela adorava negros e dançar em gafieiras. Tinha um palavreado direto, às vezes chulo. Falava alto, gesticulava... modos que passou para as crias. Aos cinqüenta anos estava internada. Perdera um seio por causa de nódulo maligno. Matheus ia visitá-la. Quase não a via. O tempo dele era ocupado a fazer filmes pornôs e a freqüentar a Vapor Dourado. Ela não sabia desse seu trabalho. Aliás, tantas coisas ele ocultava de todos! Os parentes julgavam a mãe escandalosa, dissoluta. Enquanto a beleza perdurasse não escaparia desse estigma.

Sofria desde adolescente com suas atitudes desabridas. Flagrara-a com um folgado. Atendera-o de roupão de banho quando o cretino foi procurá-lo para jogarem bola. Sentiu-se humilhado, vendo-a nua, recebendo lambidas desajeitadas nos seios, a chupar o “pau” daquele esfomeado sem nenhum pudor. Chorou de raiva, prometendo odiá-la para o resto da vida. Herdara dela o descaramento pelo sexo?

“Ele não deixou escapar Veroca, a manicura e depiladora, amiga da esposa Nelly. Dedurara-o, ao assisti-lo numa película erótica. Veio atender a mulher e não a encontrando, deparou com ele de sunga na cozinha.

___ A Nelly foi levar as crianças para tomarem vacina no posto médico, disse ele lavando copos.

___ Que chato! falou com ar meio dengoso.

___ Ela vai passar na casa da mãe, depois... Vai esperar?

___ A Nelly pediu para eu vir fazer as unhas dela e depilação. Está meio peluda e não gostas... Te vi num filme, no canal Sexy Hot, murmurou um tanto sem graça.

___ Gostou?

___ Adorei!

___ Não precisavas gravar e mostrar para a Nelly, repreendeu-a ele.

___ Desculpa, não fiz por mal! Sei que fui leviana... Mereço uma punição...

Matheus aproximou-se. Enxugou as mãos num pano de prato, olhando-a fixo. Pegou as mãos dela e roçou-as em seu sexo. Ela não se ofendeu, ao contrário! Pressionou-lhe os bagos com as grandes unhas pintadas de vermelho. Lambeu-lhe o rastro de pelos à altura do umbigo, gemendo. Retirou-lhe o pênis rijo da sunga e chupou. Ainda conseguia falar:

___ Morro de inveja da Nelly quando sei que ela é dona desta coisa toda!

___ Não fala, aconselhou Matheus. Aproveita... é agora ou nunca Veroca...

___ Quero que gozes na minha cara, na boca, bofe! Quero lembrar para sempre o gosto do teu leite, gemeu Veroca...”

“Aos quinze anos Matheus vivia a masturbar-se. Tinha um cunhado espaçoso, casado com a irmã mais velha, que o regulava. O fanchono não cansava de elogiar-lhe o traseiro. Fazia piada e todos riam: isso é manjar dos deuses! Num sábado ficaram sozinhos em casa. Matheus distraia-se com uma revista masculina e se acabava sob a coberta. O perfume do óleo que passara pelo corpo o fazia interagir com as figuras. Não notou o intrometido que entrou no quarto apenas de cuecas. Lançou-lhe um sorriso malicioso. Quis saber o que ele fazia tão calado. Puxou-lhe o lençol, expondo-o daquele jeito.

___ Sai daqui, pô! Tá cortando o meu barato!

___ Calminha, garotão! Vamos ver essas gostosas juntos... Também estou doidão!

Desfez-se das cuecas. Pegou o frasco de óleo e lambuzou o órgão genital duro. Tentou deitar-se ao lado do rapaz e foi rechaçado.

___ Vai tomá no teu cu, meu! Tá me estranhando! gritou Matheus.

___ Quero ver também essa tua bundinha atrevida! Mostra, abre ela pra mim! pediu o cunhado

Avançou para Matheus resoluto. Este tentou escapar no pouco espaço do cômodo. Mais forte, não foi difícil ao cunhado dominá-lo. Agarrou-o. Ele debatia-se, num último esforço de escapar. Encostou ‘aquilo’ na bunda do jovem, colocou-o entre as pernas. Com a mão vazia passou a acariciar o saco, a manipular o pinto de Matheus. Seus corações pulsavam aceleradamente. O suor escorria por suas peles. A ejaculação, o urro dos dois foram quase simultâneos. À sensação de revolta e prazer, o jovem constatou o líquido viscoso que lhe escorria pelas pernas.

___ Vô te matá, filho da puta! ameaçou Matheus com voz chorosa. Pedófilo de merda!

___ Limpa isso, cunhadinho! disse ele jogando a toalha, saindo do quarto. Guarda segredo desse nosso gozo...

Matheus nada revelou a ninguém. Teve vergonha que soubessem ter sido usado daquele jeito. Sentiu imenso alívio, vingado, quando o pústula adoeceu, desenvolvendo diabetes, perdendo as pernas, morrendo quase cego, anos depois...”

Sonhava em ganhar o prêmio oferecido pelos zods da Vapor Dourado. Sonho que não era só seu. A esposa, sem saber detalhadamente a origem do dinheiro que ganhava, estimulava-o.

___ “O prêmio vai ser teu, querido! Acendo todo dia uma vela para Santo Expedito! Será nossa independência financeira! Nada de ajudar família...

___ Nem a minha, nem a tua, certo? deixou claro Matheus.

___ Minha mãe nunca te pediu nada! rebateu ela.

___ A minha pode ser grossa, vulgar, não prestar, mas sempre ajudou os filhos...

___ Não quero falar naquela lá, disse Nelly com desprezo. Pra mim ela não existe...”

Era assim que defendia a mãe. Enumerava seus defeitos e uma sua grande virtude. Antes de ser internada, trabalhava como gerente da conhecida Lojas Vargas. Fora personagem famosa da rede de lojas. O comercial, que passara na TV nos anos setenta, tinha um texto de grande apelo popular:

___ Todos passam pela mão da Lora aqui (e mostrava uma caneta), seu crediário comigo é imediato. Deixa a outra pra lá!

Ela fumava muito. Bebia cerveja demais. Quem sabe a enfermidade fosse um aviso para que seus hábitos mudassem...

Nas andanças pela Vapor Dourado, reparava que as urnas, para depósito das fichas com os nomes de sigs, eram separadas por signo. Apenas um nome seria retirado de cada urna, somando doze. No preenchimento do formulário era preciso nome, CIC, RG, e data de nascimento. A coisa parecia séria. Era obrigatório que o sig inscrito estivesse presente no ato do sorteio. Caso contrário, a chance passaria para outro. Comentava-se que um canal de TV a cabo Gay retransmitiria o evento. Seria uma agitação e tanto! Ainda mais que a casa completaria dez anos. Prestigiado cantor da MPB faria o show. A apresentação estaria a cargo de Loreta Fering. O cheque tão almejado seria entregue por Miss Planet. Nada mal começar o ano forrado de grana. Uma hora antes do romper do ano a festa começaria. E a meia noite em ponto o felizardo seria anunciado. Da Urna do Zodíaco surgiria o vencedor: ele, do signo de Capricórnio. Trocaria de carro. Compraria um mais possante. Pagaria uma prótese para a mãe... Não podia esquecer de Nelly e dos filhos...

Matheus chegou ao hospital. Encontrou os irmãos reunidos. Um mau presságio passou por sua cabeça.

___ A mãe morreu?

___ Vira esse bocão pra lá, urubu! Só estamos aguardando a autorização para entrar no quarto. O médico disse que tudo correu bem. A velha é batuta, assegurou um dos irmãos.

Aquelas palavras o sossegaram. No quarto, a mãe não era a imagem que costumavam ver: gargalhando, pintada, vestida com roupas berrantes e justas, salientando-lhe as curvas. ‘Não somos nada diante das enfermidade, dizia ela. Vai, tomem esse fortificante para crescerem saudáveis’. Foi de “sopetão” que, ao vê-los rodeando o leito, anunciou:

___ Tenho algo para contar a vocês...

___ O nome dos nossos pais, brincou um irmão.

___ Cala a boca, bastardo! Deixa a mãe falá...

___ Vocês não são meus filhos de barriga...

___ A senhora roubou a gente como aquela maluca da Vilma? perguntou outro irmão.

___ Fica quieto, trombadinha! pediu a irmã mais velha e viúva.

___ Nunca pude ter filhos. Tenho útero infantil. Fui pegando vocês para criar sem que ninguém soubesse...

___ Como se pega um cachorro largado na rua, afirmou mais um irmão.

___ Cachorro és tu, pulguento! A mãe só quer desabafar, não estão vendo, falou Matheus.

Ao ouvir tamanha revelação, ele se considerou exorcizado de um antigo demônio. Tinha certeza que seria escolhido o Sig do Ano. Beijou-a na boca como se fosse seu mais recente amante. Vivera até aquele momento cheio de culpa e pecado. Os irmãos protestaram:

___ Ei, vai sufocá a coitada, seu tarado!

Agora ele podia amá-la como a uma verdadeira mãe...

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