Filhos $ Amantes (TVD) Cap.45

Capítulo 45

Targino percebeu que Alan adormecera na outra cama. Não assistira a todo o filme e não fizera comentários como de costume. Retrocedeu a fita, desligou o vídeo, recolheu o resto de pizza e as latinhas de refrigerante. Às vezes ele o intrigava. Cabra porreta. Estranho, dedicado, sincero. Sujeitara-se a freqüentar a Vapor Dourado por companheirismo. Não precisava batalhar por aquele tipo de dinheiro. Repassava-lhe o produto dos “programas” que só aceitava após protestos e recusas.

___ Ô xenti, sô teu cafetão , não! Num acho isso certo! Num quero o teu dinheiro...

___ Então joga fora, rasga, bota fogo, testava-o Alan.

___ Sô louco não! Daí, daí!

Ao contar que um zod o convidara para passar uma semana em Canoa Quebrada (Fortaleza) Alan silenciou. Podiam ir juntos, imaginava Targino. Falaria com o cliente. Onde cabem dois, cabem três. Mesmo que tivessem que agradar o cliente daquele jeito... Muitos zods gostavam de praticar sexo em grupo. Na primeira oportunidade exporia a idéia ao amigo.

“Essa seria a ocasião dele rever os parentes. Não dava notícia fazia tempo. Deviam pensar que ele morrera. Sentia falta da mãe, dos irmãos... Sensação amenizada depois que encontrara Alan. Sua gente era unida. Principalmente as mulheres. Moravam, por perto, em casas humildes. Mas isso não impedia de comemorarem casamentos, batizados, aniversários com freqüência. Gostavam do bate coxa de um forró. Os homens da família tinham a sina de partir. Alguns não voltavam. O pai foi um deles. Lembrava-o a assobiar canções. A preferida tinha versos pessimistas: Amigo urubu! Minha fuga não é nada...”

Targino foi ao banheiro. Sentou-se na privada...

“Naquela época, aos dezesseis anos, não via muito futuro na região árida onde morava. Ser cortador de cana de açúcar só dava lucro para o patrão. Seca, caatinga, espinhos, galhos mortos era um quadro nada promissor. Sonhava em ser vaqueiro. Usar roupa de couro, cavalgar, conduzir o gado... Um tio se tornara pistoleiro... Targino ficara uma semana em casa por causa de inesperado febrão. A mãe, no fim de uma gravidez, (herança deixada pelo pai), transferira-se para a casa da avó, junto com os cinco irmãos. Uma tia de nome Santina, irmã paterna, viera cuidar dele. Solteira, com vinte e cinco anos, era uma formosura. Tratou dele como se fosse um filho. Fê-lo ingerir chás de ervas colhidas no terreiro da avó, alimentara-o. Após sete dias de tratamento a tia constatou que ele melhorara.

___ Esse menino tá quase bom! disse ela passando a mão em sua testa. As ervas da vó levantam qualquer um...

___ Tô fraco ainda, tia!

___ Deixa de dengo, seu peste! O serviço tá esperano na lavoura...”

Ainda no banheiro, Targino ergueu-se e resolveu tomar um banho...

“Segurou o braço da tia. Era agradecido por sua dedicação. Beijou-lhe as mãos. Sentiria sua falta.

___ Precisa agradecê assim não! Sô tua tia, é meu dever ajudá... Tua mãe logo tá de volta, de cria nova, disse Santina.

Santina admirou o corpo desenvolvido do sobrinho. Ficava homem. No período da doença, agitado, delirando, descobria-se. Não se parecia com os outros machos da família. Em seus mais de um metro e oitenta de altura, os pelos surgiam. Apenas no rosto resistia a aparência de menino. Com panos molhados fazia a higiene dele, no lugar do banho. Na hora de limpar-lhe as partes íntimas, benzia-se: credo em cruz, que jumento!”

Targino, ensaboando o escroto, não evitou a ereção que adveio da recordação...

“Recuperado, ele não esquecia a tia. Apaixonara-se por ela. Volta e meia recordava o cheiro bom que usava ao limpá-lo. Espionava-a ao tomar banho. Era bem fornida. Tinha vontade de agarrá-la. Devaneava que ela roçava os fartos seios em suas costas. As mãos pequenas seguravam seu “negócio” com avidez. Acordava todo “melado”. Não atinava o quê fazer para convencê-la a entregar-se. Ninguém saberia. Seria um segredo de ambos. Como a mãe não voltava para casa, ela continuava por ali... Certa madrugada tomou uma atitude. Foi ao quarto dela para resolver tal pendenga. Pôs-se pelado diante da tia, ofegante:

___ Num güento mais, tia! Tô pegano fogo!

___ A febre voltou?

___ É ota febre,tia!

___ É... tá mutcho calor... mas põe um calção, pediu ela. Pode chegá alguém...

___ Só tem nois dois e os cachorros... Vê como fico, mostrou-lhe ele o sexo rijo...

___ “Sinvergonho”, esconde isso! Sô tua tia, me respeita! Alguém pode chegá, insistiu ela.

___ Diz que tamém sente o mesmo comichão que eu!...

___ Sô tua tia, já falei!... Amolece isso...

Ele não obedeceu. Se preciso fosse a obrigaria aceitá-lo. Encostou-se na rede onde ela estava deitada. Ficou ali parado, junto. Santina tentou afastar “aquilo” com o braço. Ele forçou-a a pegar.

___ Num faz isso, escomungado! Não podemos, suplicou a tia.

___ Pudemos sim... ninguém vai sabê, prometeu Targino.

___ Num posso ficá prenhe de tu...

___ Num ponho lá dentro! Faço por trás, sugeriu ele.

___ Tá maluco! Sô mulé égua não!

___ Faço devagarzinho, prometeu Targino.

___ Já derrubaste mulé alguma vez?

___ Não! Imagino tudo e acabo na mão...

Targino procurou unir-se a ela para balançar na rede. Queria montá-la, sentir-lhe a quentura do corpo. Santina empurrou-o a princípio. Depois achegou a boca em seu membro viril, tentando satisfazê-lo logo. Naquela hora desejou que o capeta não fosse filho do irmão. Desconfiava que não o era. Lambeu-o com vontade. Levantou-se, ficou nua. Beijou-o na boca, abraçou-o. Permitiu que ele acarinhasse os seios e passasse os grandes dedos entre as pernas.

___ A tia é cabaço?

___ Simporta com isso não, demônio!

Ele procurou erguê-la, penetrá-la. Ela resistiu, lembrando-o:

___ Não, isso não, cachorro! Num falei que num quero embuchá... Põe nas pernas que tamém é gostoso...

___ Tá bem tia! Tá bem! concordou ele.

___ Num me chama mais de tia que é pecado!

E aquela situação, entre os dois, desdobrou-se por quase três anos. A decepção de nunca possuí-la por completo e o surgimento de um vaqueiro na vida dela o fez aceitar um emprego com carteira assinada que lhe ofereceu no Pará um ‘gato’. Sem despedidas, numa manhã, partiu”

Targino enxugou-se e ao voltar para o quarto envolto na toalha, viu que Alan tinha um sono agitado. Da contração facial passou a gemer. Resolveu chamá-lo:

___ Ô meu rei, acorda, acorda!

Alan despertou confuso. Não sabia onde estava. Refez-se. Deixou escapar: tive um sonho!

___ Qual? Quis saber Targino.

___ “Tu e eu estávamos num cinema. Dois homens surgiram armados a procurar a gente. Não tinham rosto e nos acusavam de assassinato. Tentamos fugir, sob tiros, saltando as poltronas... Ouvi tua voz e...”

___ Tás todo suado... Tomei banho... A água tá porreta! observou Targino.

___ Vou lavar o rosto...

___ Dorme aí, meu rei!

___ Não, vou embora...

Targino ouviu o relato do amigo sem quaisquer comentários. Não cogitava de um dia lhe contar que matara um homem. Despediram-se. Deitou-se. A perspectiva de rever os parentes, com tudo pago, animava-o. Não desejava a companhia do zod quando visitasse a mãe. Se Alan fosse o convidaria para conhecer o sertão. Estava mudado. Relacionava-se com tipo de gente que jamais conjeturara conhecer. Um zod pedira-lhe exclusividade quando estivesse na Vapor Dourado. Às vezes que ficaram íntimos fizera certas barreiras se diluírem. O fulano era engraçado. Chamava-o de queridão. Cabra cheio de manhas e safadeza.

___ “Sabes praticar ‘fio terra’, queridão?

___ Ô xenti, que diacho é isso?

___ É o dedinho lá dentro...

___ Tô fora, prefiro tomá choque! exclamava Targino.

___ Que vais fazer se fores sorteado o Sig do Ano? perguntou o zod.

___ Sei não... acho que vô dá o pio do carcará... Vô simbora, disse sorrindo Targino.

___ Sentirás saudade de mim, queridão?

___ Nunca senti saudade de macho! Nem do meu pai que sumiu no mundo...

___ Ah, queridão! Vou sentir falta de bater pampinha para ti...”

Outro zod o tratava como um animal selvagem. Levava-o em motel, fazia-o ejacular nos objetos do quarto como um bicho a marcar território. Curtia um fetiche: ‘torta na cara’. Enchia a mão de creme de barbear e passava no rosto de Targino. Depois, chupando-lhe o “pau” pedia:

___ “Assim, faz a barba... pra cima... pra baixo... escanhoa, meu cangaceiro!”

O zod não admitia penetração, nem camisinha, nem beijo na boca, apenas aberrações. E contava:

___ “Joyce escrevia cartas...Conheces Joyce?

___ Aquela cantora arretada de bossa nova?

___ Não, o escritor James Joyce, autor de Ulisses...

___ Ah, conheço não, meu rei!

___ Ele escrevia cartas de amor para sua amada e afirmava que podia reconhecê-la dentre outras pelos “puns” que ela soltava...

___ Cabra porreta esse!

___ Quero que peides na minha cara...

___ Tô abestado!...

___ E então, vais peidar?

___ Arre égua! Meu rei agüenta o bodum?

___ Desde guri sentia o cheiro dos meus em baixo das cobertas... eu viciei em gás metano...

O tempo transformava Targino em um homem que ele próprio desconhecia.

Filhos $ Amantes (TVD)