A Pequena Ópera do Sentido – Margarete Schiavinatto

 
             Ganhei este livro de uma amiga recantista (Rosana de Almeida) já faz algum tempo. Assim que o recebi, me encantei. É um pequeno livro de pequenos poemas: na capa um ventre proeminente de mulher, um bebê incrustado em uma pastilha, já fora do ventre, mas ligado pelo cordão umbilical. Não sei por que não o li na hora. Coloquei-o na fila de livros não lidos e lá ele foi ficando esperando pacientemente a sua vez. E ontem a noite ela chegou. Acordada no meio da noite pelo horror de um pesadelo fui buscá-lo na estante e o li em pouquíssimo tempo. Já disse, é um livro pequeno. Mas profundo.

          Na orelha da contra capa um retrato da autora. Uma mulher de sorriso simpático com jeito moleque. Sobre ela apenas a informação de que, além de escritora e psicóloga clínica, nasceu com ajuda de parteira. Eu também. Vive em São Caetano do Sul, cidade onde o livro foi editado pela Editora do Autor. Nas orelhas e contra capa ela se explica como poeta. O que significa que não se explica – poeta não precisa disso. A poesia é sua explicação logo a explicação de Margarete é outro poema. Só que em prosa.

          O livro é dedicado para Adélias e Cecílias. Poetas maiores de nossa língua e que foram capazes de dizer o até então indizível. Margarete provavelmente tem estatura para estar no mesmo panteão que elas. A amostragem que chegou até a mim através da Pequena Ópera do Sentido afiança isso. 

         A estrutura do livro é simples. São dois movimentos. O Primeiro é apresentado por um fragmento do Poema Esquisito de Adélia Prado. Os poemas dessa parte do livro falam da infância e da adolescência. O Segundo se inicia com um fragmento do poema Desenho, de Cecília Meirelles. Ali estão as diferentes formas de dor que foi possível a autora explicitar em palavras. Foi ela mesma quem disse isso.

         Os poemas de Margarete têm forma e conteúdo. Saem direto do coração, mas são trabalhados pelas mãos da artífice que ela também é. Não sei dizer onde o livro pode ser encontrado. Mas posso dizer que após a leitura eu dormi tranqüila. Livre dos pesadelos.

(Da série: Resenhas muito pessoais – apenas para não esquecer)