Conseguindo a minha vida de volta

 
Passavam das vinte e uma horas de ontem, dia primeiro de abril quando eu rompi o envelope Sedex que trazia o livro do recantista Antonio Maria Santiago Cabral. O romance “Conseguindo minha vida de volta”, da Editora Corifeu (2008) é um relato autobiográfico.
 
São cento e quarenta páginas que eu li de uma vez só. A leitura é ágil, dinâmica, mas foram incontáveis as vezes que levei as mãos à cabeça, tamanha a intensidade, a profundidade das cenas relatadas.
 
Fiz também algumas pausas.Algumas para respirar melhor; outras para enxugar as lágrimas que me vinham grossas aos olhos.
 
Antonio Maria começa a narrativa contando a sua chegada ao Rio de Janeiro na década de 60, fugindo de uma vida de pobreza e limitações no Maranhão.
 
Um rapaz inteligentíssimo, mas inseguro, triste e tímido demais para se relacionar com as pessoas, mesmo trabalhando, já nessa época em um banco particular.Para tentar mascarar sua insegurança acabou caindo numa armadilha do destino que foi seu martírio por mais de trinta anos.Aceitou a convite de um “amigo” consumir psicotrópicos para mascarar a desibinição, sem saber dos riscos da droga.Tornou-se ,em poucos anos, dependente dela.
 
Voltou para o Maranhão - sozinho - para assumir o cargo efetivo no Banco do Brasil, após seis anos de residência no Rio e um casamento malsucedido que lhe rendeu um filho.
 
Como não havia nas farmácias do sertão maranhense as anfetaminas que usava descontroladamente,  trocou-as, sem outra saída, pelo vício do álcool.
 
De 1961 a 1999 foram idas e vindas na luta contra vício.Intercalava tempos de total entrega à doença com períodos de abstinência.Freqüentava sessões no Alcoólicos Anônimos e sabia de sua predisposição genética às drogas. Não era capaz de parar de beber por si só.
 
Até ser aposentado, aos quarenta e cinco anos de idade pelo INSS havia feito muitas fugas geográficas: quando a situação profissional se complicava e a demissão era iminente, ele prestava um novo concurso público e emigrava para tentar uma nova vida. Para espanto de muitos, era aprovado sempre nas primeiríssimas colocações.
 
Por conta da bebida, aplicou golpes, falsificou documento federal, perdeu bens materiais, amores, respeito de amigos e familiares.Passou por inúmeras internações em clínicas psiquiátricas, esteve à beira da morte muitas vezes.Teve de ser pai e mãe de dois filhos pequenos.
 
Como professor, teve uma carreira impecável a partir de 1994, mas ainda amargurou a última recaída em 1999.Buscou apoio novamente no AA e está livre do martírio há quase dez anos.
 
Refez sua vida amorosa, restabeleceu laços de amizade e familiares e segue divulgando seu histórico de lutas e vitórias em palestras e por meio desse tocante romance autobiográfico.
 
Sem dúvida, Antonio Maria é um sobrevivente.Foram tantas as intempéries que ele poderia ter desistido de viver.Graças a Deus (ou a um Poder Supremo como apregoam no AA) que esse maranhense divide conosco essa incrível trajetória de vida.
 

PS: Meu marido acabou de ler o livro nesse instante.
 
 
(Maria Fernandes Shu – 02 de abril de 2009)
 
 
 * Amigo Antonio, obrigada pelo envio do livro.Fiquei lisonjeada com o carinho .Conhecer sobre seu passado e sua experiência marcante com a dependência química mexeu com meus sentimentos.Meu respeito e admiração.Desculpe-me não fazer uma resenha à altura de sua grandeza, é que eu estava ansiosa demais para escrever.BeiSHU.
Maria SHU
Enviado por Maria SHU em 02/04/2009
Reeditado em 02/04/2009
Código do texto: T1518890
Copyright © 2009. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.