Entrando na “Cabana”

Por mais que se possa evidenciar a qualidade de um livro por seu autor, jamais é impossível um quase desconhecido se tornar famoso escritor, por vezes até por acaso, ou melhor, neste caso, por uma providência divina digna de Sua ação. A capa parece mais dar uma noção de livro de terror. O contexto inicial pode até conduzir o leitor para isso, acrescentando um suspense imediatista. Por outro lado, tais categorias vão deixando subitamente de existir e passam a figurar em segundo plano e de maneira sutil até desaparecer, abrindo espaço para as surpresas marcantes no âmbito espiritual.

Uns afirmaram que era ‘herético’ (relativo a heresia, palavra e idéias ofensivas a Deus ou a religião), outros que falava muito de Jesus, todavia uma minoria, punhado de pessoas, concentrou seus esforços durante mais de um ano “deixando um pedaço de sua vida dentro da história e de como ela se desdobrou” (Willian P. Young). É assim que aos poucos uma idéia, uma ‘sensação’ de Deus vai tomando espaço e dando forma a uma história contada livremente por Young. O autor do livro “A Cabana” se utiliza de uma maravilhosa liberdade de expressão nos personagens chamados de Deus, em seu livro publicado ano passado.

Quando os escritos de “A Cabana” foram parar nas mãos das editoras, religiosas e não religiosas, não poderiam imaginar a reação dos seus leitores. As primeiras linhas desse artigo remetem a eles: aqueles que leram, mas não gostaram; compreenderam a mensagem, mas não a sentiram; estudaram as conseqüências mercadológicas, a popularidade e a repercussão do livro (que não deve ter sido positiva, haja vista ninguém aceitara), mas não viveram a experiência, nem entenderam ser o livro mais do que apenas uma literatura, uma ficção, pois as mensagens teológicas nele contidas tinham uma profundamente especial e muito bem fundamentada.

As idéias trabalhadas nesta obra espiritual, não trouxeram nada de novo em suas colocações a respeito das Três personagens principais, as quais dialogavam com uma quarta: o Papai, Jesus e o Espírito Santo, além de Mack. Sua originalidade está na linguagem e na facilidade com que o escritor pode transmitir questões profundamente teológicas por meio do próprio Deus-trino, o qual fala dando seu ponto de vista sobre Ele próprio. Ele (o escritor) não disserta ou se utiliza da retórica para enfatizar as questões tão bem elaboradas no enredo. Aproveita-se do diálogo, mais precisamente da dialética tão bem articulada quanto fora transmitida pelo grande filósofo, Sócrates. O método de apresentar a história tem raízes filosóficas; a base dos conceitos arranjados nos diálogos remonta os Santos Padres, eremitas que viveram entre os séculos II à IV da era cristã. Nessa mesma linha e em contraposição a essas análises, está a “vulgaridade” (no sentido latino de vulgar, comum) das palavras e os ‘exageros magistrais’ dos sentimentos tornados evidentes não só através da narrativa muitas vezes presente entre uma pergunta e uma resposta, mas na própria emoção de quem lê.

De fácil leitura e sempre tentando explicar de várias maneiras as múltiplas interpretações de um mesmo questionamento, o autor cada vez mais, ao longo da história, promove uma interação de seu personagem interlocutor, com Deus... E com o leitor, na medida em que a forma de se expressar de Deus e do homem são corriqueiros na vida real. E mais do que isso, quebra o paradigma de nossa visão tradicional de cada uma das Pessoas da Trindade. Sem mencionar o enredo, é bom sempre lembrar que mais vale a mensagem espiritual deixada no livro, do que seus apontamentos às vezes contrários a uma prática eficiente daquilo exposto nas próprias idéias apresentadas.

“– Você faz um grande trabalho – disse baixinho.

-- Obrigado Mack, e você viu muito pouco. Por enquanto, a maior parte das coisas que existem no universo só será vista e desfrutada por mim como telas especiais guardadas nos fundos do ateliê de um pintor”. (A Cabana, p. 131)

Acima, Mack dialoga com Jesus, ambos observando a grande obra da criação, a natureza. Podemos lembrar São Paulo quando diz: “Porque agora vemos por espelho em enigma, mas então veremos face a face” (I Co 13,12).

Jesus espera você nesse diálogo onde uma pequena tela do ateliê de “Papai” passa a tornar-se público. Uma boa leitura! [Para Papai por Missy]

Padre Hugo Galvão
Enviado por Padre Hugo Galvão em 09/05/2009
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