O Homem do Avesso – Fred Vargas

Frente ao título do livro, fiquei pensando: quando se sabe que um homem está do avesso, principalmente porque nem sei quando ele está do direito? Na capa, uma ovelha, o que não me deu nenhuma pista.

Já li alguns livros da autora. Sim, ela é uma autora de romances policiais. Francesa. Como ia dizendo, li e gostei de alguns livros da autora: Fuja logo e demore para voltar e O Homem dos Círculos Azuis. Fred é uma autora inteligente. Seus livros não só prendem a atenção pela trama, mas também pela linguagem. Se bem que nunca sei a quem creditar os aspectos da linguagem que me atraem em livros traduzidos: se a quem escreveu ou a quem traduziu.

Logo na abertura do livro se explica a capa: lobos estão matando ovelhas em algum lugar da França. E não demora muito para entender o que se considera um homem do avesso: um lobisomem. E o que é um lobisomem na crença da autora, provavelmente na crença francesa? Um homem comum, mas sem pelos que traz os pelos guardados em seu interior e que os libera quando solta seu lado lobo. Quando se mata um homem sem pelos, ele deve ser aberto por um instrumento cortante, uma faca, por exemplo, de fio a pavio: aí os pelos saltarão fora e estará provado que ele é o que é. E aí, se o despelado for despelado também por dentro o especialista em lobisomem terá entrado pelo cano.

Sempre gostei de histórias de lobisomem. Um dia minha avó me mostrou um homem que era lobisomem. Mas ele tinha pelos. Quando perguntei a ela como sabia, ela contou. Mas isso é outra história que contarei outro dia. Hoje estou falando do lobisomem francês.

Alguns personagens aparecem em todos os livros da autora que li: o delegado Jean-Baptiste Adamsberg, por exemplo, e os seus subordinados. E Camille. O delegado ama Camille, sem sombra de dúvida. Mas ela é uma sombra em sua vida, que vai e que vem. Os dois nunca estão totalmente juntos, mas um fio liga a vida dos dois de tal forma que eles sempre acabam se achando. Ela é uma compositora e ao mesmo tempo uma encanadora. O bom dos livros é que os personagens podem ter sempre profissões interessantes. Nesse livro Camille vive com um naturalista canadense, observador da vida selvagem. No caso, o caso dele é com os lobos. E com Camille também. E ele é danado de bonito.

No princípio da história só as ovelhas morrem. Mas não estou contando nenhum segredo ao dizer que outras espécies também começam a desaparecer> Suzanne, por exemplo, gorda, imponente, gritalhona. Ela criava ovelhas e vivia em companhia de um filho negro adotivo e de um pastor chamado O Velador. O filho negro decorou o dicionário. Ele explicava todas as palavras e O Velador velava. Na mesma ocasião, um homem sem pelo desapareceu e o boato se espalhou. Foi ele que matou Suzanne porque era um lobisomem.  E a caçada começou: um caminhão boiadeiro dirigido por Camille e levando juntos o garoto negro e o Velador. Logo, logo o delegado entra na história e passa a acompanhar os três.

O desfecho me desfechou uma bela surpresa. Mas não deveria ter sido porque estava na cara. Não o porquê, que, aliás, não me convenceu. Mas as pistas. Deixei de ver as pistas porque me encantei pelo personagem do mal. Ele era tão bonzinho! Daí também se explica o meu ponto de vista inicial. Não dá para saber quando um homem está do avesso ou do direito. Seria fácil se valesse a questão dos pelos ou outra questão física qualquer. Mas não vale.

Fred Vargas é uma arqueóloga medievalista. Andou por aqui no começo do ano, mas não foi nenhuma questão literária que a trouxe. Ela é amiga de Cesare Battisti, o terrorista italiano que está preso no Brasil e que a Itália quer de volta. Ela garante que ele é inocente e lista provas. Andou por aí com o Suplicy tentando convencer as pessoas que precisam ser convencidas de que ele é inocente.  Mas ela não tem a mesma competência que sua criatura, o Adamsberg, tem para desvendar crimes. Assim ela continua lutando e se não der em nada ainda pode escrever um bom livro e ganhar muito dinheiro.