Mensagem

Este livro, lançado em 1934, foi a única obra em língua portuguesa publicada por Fernando Pessoa, e o único também publicado enquanto vivo. A idéia primitiva do poeta era dar ao livro "Mensagem" o título de "Portugal". Na realidade, os poemas formam um só poema. Fernando Pessoa alterna palavras do português moderno, com outras do português arcaico.

Três grandes fatos marcantes da história de Portugal, no fim do século XIV e com repercussão no século XX, tiveram influência sobre Fernando Pessoa:

- A crise da monarquia, ocasionada pela organização e ampliação dos Partidos Socialista

E Republicano;

- O expansionismo da Inglaterra,que desejava o domínio total da África e que dirigiu a Portugal um ultimato,exigindo a retirada das tropas portuguesas de Angola e Moçambique;

- A Crise econômico-financeira da Europa, com desastrosa repercussão em Portugal, cuja moeda foi depreciada e alguns bancos faliram.

Os poemas contidos nesta obra, estão organizadamente dispostos, compondo uma inteligente epopéia fragmentária, que se destaca por seu significativo conjunto de textos líricos, resumidos num verdadeiro elogio de teor épico à Portugal. A história do seu país, é delicadamente retratada, enveredando-se com destreza, um nacionalismo místico de caráter sebastianista.

O livro “Mensagem”, é sistematicamente dividido em três partes distintas: Brasão, Mar português e O Encoberto.

Na primeira, conta-se a história das glórias portuguesas, narrada com indiscutível fidelidade . Na segunda, são apresentadas as navegações e conquistas marítimas de Portugal, bem como, os limites oceanográficos alcançados pela Coroa Portuguesa, por conta dos acordos estabelecidos junto a seus aliados. E finalmente, na terceira parte, é apresentado o mito sebastianista de retorno de Portugal às notáveis épocas de glória.

Observa-se ainda na primeira parte da obra, intitulada Brasão, que a mesma se molda como o simbólico brasão português, que é formado por dois campos: Um representado por sete castelos, e o outro, por cinco quinas. No topo do brasão, estão a coroa e o timbre, associados à imagem do grifo, animal mitológico com cabeça de leão e asas de águia. Os poemas nesta parte inseridos, permeiam sobre as grandes figuras da história portuguesa, desde Dom Henrique, fundador do Condado Portucalenses, passando por sua esposa, Dona Tareja, e seu filho, primeiro rei de Portugal, Dom Afonso Henriques, até o pequeno infante Dom Henrique (1394-1460), fundador da Escola de Sagres e grande fomentador da expansão ultramarina portuguesa, além de Afonso de Albuquerque (1462-1515), dominador português do Oriente. Chegando até o mito de Ulisses, que teria fundado a cidade de Ulissepona.

A segunda parte, Mar português, apresenta as principais etapas da expansão ultramarina, que levou Portugal a ocupar um lugar de destaque no mundo durante os séculos XV e XVI.

Já a última parte, O Encoberto, apresenta o misticismo em torno da figura de Dom Sebastião, rei de Portugal, cuja frota foi destruída em ataque aos mouros em 1578. Muitas previsões, como a do sapateiro Bandarra e a do padre Antônio Vieira, prevêem o retorno de Dom Sebastião para resgatar o poderio de Portugal, criando o Quinto Império, marcando a supremacia de Portugal sobre o mundo.

Nesta obra clássica, Fernando Pessoa consegue com indefinível riqueza de detalhes, retornar às origens históricas de Portugal, às grandes navegações, ao profetismo sebastianista e ao misticismo nacionalista, que sonhava com um imenso império lusitano. O mar é invocado e domina as imagens poéticas. O escritor, refere-se também ao aparecimento de um "Supra-Camões", e pratica a intertextualidade com alguns trechos, outrora apreciados, de “Os Lusíadas” É importante salientar que, nesta obra, Fernando Pessoa expressou por outras palavras a necessidade de provocar, de lutar contra as adversidades, de não ter medo de ir contra a corrente e de defender o que se acha justo e perfeito: “Para passar o Bojador / Há que passar além da dor / Deus ao mar o perigo e o abismo deu / Mas também foi nele que espelhou o céu.”