O egiptólogo

O explorador Howard Carter ao revelar para o mundo o túmulo de Tutankamon, a mais espantosa descoberta da história da arqueologia nem imaginaria que um outro egiptólogo, Ralph Trilipush, estava metido em trabalhos que comprometeriam sua reputação profissional e a fortuna de sua noiva por causa de um fragmento de hieróglifos pornográficos. Ao mesmo tempo, um detetive australiano envolve-se em um caso que poderá ser o maior da sua carreira, dando a volta ao mundo em busca de um assassino Nesse cenário, onde duas vidas confluem, se desenvolve a história de O EGIPTÓLOGO (The egyptologist, tradução de Fábio Fernandes, JOSÉ OLYMPIO, 434 páginas, R$ 54,00), escrito pelo norte-americano ARTHUR PHILLIPS, um romance que prima pela originalidade, tanto pelo enredo como também pelo estilo narrativo, todo baseado em cartas e telegramas enviados entre personagens e o diário pessoal do protagonista. Phillips, conhecido pelo último livro, Praga, onde acompanhamos cinco expatriados norte-americanos que chegam a Budapeste no começo da década de 1990 em busca de fortuna, agora transporta-nos para o ambiente egípcio do início do século XX, descrevendo-se escavações e descobertas de tesouros em túmulos no deserto, em paralelo com a trama que explora a ganância e o desejo de vida eterna, características de grande parte da humanidade.

Assim, o autor mostra várias das facetas mais miseráveis da natureza humana através de todos e cada um de seus personagens, nenhum passa a salvo: vaidade, inveja, luxuria, cobiça, ódio, arrogância, paranóia, obsessão... podendo estabelecer todas elas para o único ponto, o desejo de ser imortal. Prestigio, fama, poder, um nome reconhecido na capa de um livro, reconhecimento, o lugar vitalício em uma universidade de grande prestígio, o retrato na galeria de personagens ilustres de uma grande organização, as tumbas dos antigos governantes egípcios, a necessidade de descobrir algo verdadeiramente importante... tudo que pode perdurar o nome de uma pessoa pelos séculos é a procura dos personagens de O egiptólogo. Principalmente, Trilipush, que abarca todos esses desejos e a demanda da imortalidade, é um personagem alheio a sua própria personalidade, se torna ingênuo e a cada passo que dá, caminha para a loucura. Uma caricatura de Howard Carter, um homem cheio de manias e defeitos, um anti-herói por excelência, mas que não se conforma em sê-lo.

O livro faz uma critica da sociedade vitoriana, marcada em toda a história: o ópio, os novos ricos, a aristocracia cômoda, os excêntricos ricaços, a espiritismo, a hipocrisia social retratada com desejos e gostos libidinosos, mas que não aceitam traduções obscenas, e se estendem aos acadêmicos que não aceitam um trabalho novo, e resumem a sua endogamia, ao excessivo conservadorismo e à burocracia.

Junto a toda as criticas, o autor constrói uma série de questões para qualquer leitor apaixonado, a la Christian Jacq, como por exemplo a Sociedade Hand of Atum,Ltd ou o anagrama de Shakespeare num nome de um faraó, “Shepseka’are”, ou os joguetes matemáticos, típicos da época.

Uma história que merece ser lida o mínimo duas vezes, uma primeira, de leitura rápida até o final e outra para se deter aos detalhes e poder entender e captar todos os nuances e jogos de palavras que o autor faz. Recomendo.