Amor

Wilson Correia*

Li esta semana que passou um livro encantador: "Amor". Como cheguei ao livro? Fui à Saraiva do Shopping Flamboyant, em Goiânia. Dirigi-me, como geralmente faço, primeiramente à estante dos livros de Filosofia. Uma psicóloga ao meu lado procurava um livro da filósofa Marcia Tiburi. Trocamos algumas ideias. E, na estante de filosofia, entre os vários títulos lá dispostos, encontrei o livro "Amor". Apanhei-o de súbito. A capa é atraente e inteligentemente bolada. Seduz.

Fui para a QUARTA CAPA: "Se é possível filosofar na universidade? A filosofia pode curar? Ética e honestidade são a mesma coisa? A razão embota a sensibilidade? A filosofia é sempre atéia? Ela é a boa conselheira? Ou é uma ciência que falhou? Liberdade para perguntar, liberdade para filosofar. Este é o princípio da 'Filosofia & Verso', coleção que parte de questões que todos nós, em algum momento, às vezes até sem perceber, costumamos fazer em relação a tudo. Com uma linguagem acessível a qualquer pessoa que queira pensar, estes livros buscam entender os grandes temas da vida humana com os instrumentos que a filosofia continua a nos oferecer há mais de dois mil anos"

Lida a quarta capa, fui para a ORELHA: "Amor, de José Luiz Furtado, deflagra imediatamente uma questão: como o amor é um dos temas mais corriqueiros da cultura contemporânea – não tendo sido necessariamente um tema dominante em todas as épocas históricas, mesmo no Ocidente –, é difícil à primeira vista imaginar o que a filosofia pode acrescentar a um assunto já abordado por todos – da música popular à poesia, passando pelo cinema e pelas conversas de bar e de chats da internet. Mas justamente por isso, a filosofia pode dar ao tema um vigor renovado, distante, portanto, da grande redundância que o envolve na música popular e na poesia, passando pelo cinema e pelas conversas de bar e de chats da internet... Se o amor é um tema vital, abordá-lo de forma inteligente é, além de inteligente, vital. Este livro, portanto, o aborda não apenas de modo inteligente, como abrangente, mapeando a história do amor desde a filosofia grega (e o mito de Eros) até o surgimento moderno do amor romântico e sua permanência na cultura contemporânea."

Vencida a orelha, fui ver o CURRÍCULO DO AUTOR: "José Luiz Furtado [surpresa feliz a minha] nasceu em Campos Gerais, MG [meu conterrâneo, da mesma cidade em que nasci], em 1956. Graduado, mestre e doutor em filosofia pela Universidade Federal de Minas Gerais, é professor do Departamento de Filosofia da Universidade Federal de Ouro Preto e autor, entre outros, de 'Trânsito filosófico: política e ciência."

Mesmo quem tem cultura de “rudimentos filosóficos” sabe que os temas da filosofia são os mais variados. Nada do que é humano escapa da filosofia. Ela estuda, por exemplo: 1. CONHECIMENTO: arte, ciência, essências, estabilidade, filosofia, idealismo, ideologia, lógica, materialismo, mito, mudança, senso comum, razão, tecnologia, verdade...; 2. CULTURA: arte, comunicação, conjuntura e estrutura sociais, história, linguagem, estilos existenciais, modelos societários, o quefazer humano, a condição humana...; 3. ESTÉTICA: amoralidade, arte, bonito, feio, moralidade...; 4. POLÍTICA: democracia, poder, formas de conquista, exercício e manutenção do poder...; 5. SOCIEDADE: economia, política, ideologia, instituições sociais, justiça, modelos societários, saber, violência; 6. VIDA ÉTICA: ação, amizade, controle, disciplina, dever, educação, liberdade, normas, paixão, princípios, regras, ser-estar no mundo, valores, amor...

TRECHOS DA OBRA, a qual, longe da aridez que normalmente caracteriza o saber filosófico (produzido desde as raízes, rigoroso, sistemático, lógico, raciocinante, criativo e criador) é passível de trato cognitivo pela pessoa portadora de cultura mediana:

“Assim, o amor não possui apenas uma origem mitológica, historicamente falando. Ele é um mito atuante ainda hoje ente nós, fazendo a sua parte a partir do ‘fundo antropológico mágico’ sobre o qual se apóia a nossa cultura, por mais exasperadamente racional que ela seja, e que não podemos erradicar, como o prova, entre outras coisas, o prestígio das práticas mágicas, da astrologia, das feitiçarias, dos talismãs ou dos amuletos na era da informática” (página 73).

“Por essa via, unificando em uma mesma instituição o amor, o sexo, a procriação e a família, o casamento moderno traiu as raízes tradicionais do amor na história ocidental. Esta traição explica, em parte, seu malogro em consolidar-se, em adaptar à sua estrutura o desejo profundo de homens e mulheres. O casamento mata a paixão, fonte do amor. Assim vemos que o amor, na sociedade burguesa, está envolto por uma aura de romantismo, à maneira de um mito: proclama a paixão como experiência suprema que todo homem deve um dia conhecer, se quiser viver a existência em sua plenitude. A paixão é aventura. Transforma a vida, enriquece a existência de novidades, de riscos e de prazeres intensificados. É exaltada no cinema, celebrada nas novelas de televisão, enaltecida na literatura, nos romances cultos ou ‘cor-de-rosa’, na poesia e na música, seja ela coroada, ao final, pelo casamento, pelo enlace matrimonial que fará dos apaixonados esposos e, em seguida, pai e mãe, ou não” (página 74).

Li o livro como se estivesse estudando o amor pela primeira vez. Um livro e tanto!!!

Outros dados da obra:

Título: Amor

Assunto: Questões sócio-históricas da afetividade e relações de alteridade.

Subárea: Ética.

Área: Filosofia.

Autor: José Luiz Furtado

Editora: Globo

Genero: Livros Ensaios

Páginas: 136

Formato: 12×21cm

ISBN: 978-85-250-4473-X

Vale a pena, viu!!!! O amor é para ser vivido, mas o que vale a pena ser vivido também vale a pena ser lido e se for de maneira fundada no bom senso, tanto melhor. E como!!!

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*Wilson Correia é filósofo, psicopedagogo e doutor em Educação pela Unicamp e Adjunto em Filosofia da Educação na Universidade Federal do Tocantins. É autor de ‘TCC não é um bicho-de-sete-cabeças’. Rio de Janeiro: Ciência Moderna: 2009. Endereço eletrônico: wilfc2002@yahoo.com.br