Caminho da lua e do mar

Roverandom é um livro de J. R. R. Tolkien que foi escrito com o intuito de entreter seus filhos e, naturalmente, ele consegue muito mais do que isso. Rover, o cãozinho que empresta seu nome ao livro, poderia ser um tagarela e petulante cachorro falante, mas a habilidade narrativa e a surpreendente imaginação do gênio da fantasia, transforma a fórmula entediante, que combina um cachorro surpreendente e uma jornada insólita, em algo cativante e encantador, mas também...

Em um enorme paradoxo! Para que Rover se descobrisse grande, foi preciso tornar-se minúsculo; para encontrar a si mesmo, foi necessário ir à lua e ao fundo do mar; para se tornar vivo, tornou-se um brinquedo. Ao contrário do clássico brinquedo vivo, Pinóquio, que encontra a si mesmo ao virar menino, o valente Rover encontra-se ao se transformar em um pequeno cachorrinho de brinquedo. É dessa forma que ele é embarcado em uma jornada imensa e transformadora. Depois dela, Rover nunca mais será o mesmo.

A viagem é repleta de peculiaridades que ousam desafiar a razão e descortinam segredos e absurdos de um mundo feito de recortes da realidade. Em primeiro lugar, Rover viaja até uma lua, uma meio branca e meio negra. Um lugar infestado de criaturas fantásticas e de sonhos. Depois da lua, Rover visita o mar e lá encontra outra infinidade de seres e sonhos. Mas, apesar de tantas aventuras, aliás, por meio de tantas aventuras, Rover descobre o que seu coração realmente deseja. "There's no place like home", já dizia Dorothy.

São inúmeros os momentos em que Tolkien mostra sua genialidade e a despretensiosa história do pequeno Rover torna-se muito maior do que aquela que está no livro. É impossível não se surpreender com o trabalho cuidadoso com a linguagem, com as dezenas de referências históricas, mitológicas e geográficas e, sobretudo, com a sedutora imaginação que parece não ter fim. Rover, aliás, agora já Roverandom é uma história fascinante, simples e grandiosa.

Referência

TOLKIEN, J. R. R. Roverandom. São Paulo: Martins Fontes. 2003