Chuva Dourada - Gina B.Nahai


       
  Eis um livro triste. Mas a vida da maioria das pessoas é triste. Apesar da tristeza que sai de cada palavra como uma lágrima muda o livro é muito bonito. E bem escrito.

        Gina B. Nahai, autora iraniana radicada nos Estados Unidos já foi comparada a Garcia Marques, o que não é pouco. Pelo contrário, é muito, um convite para ler o livro. Dela li O luar na Avenida da Fé. Ela sabe dar título aos seus livros. Bom, pelo menos seus tradutores sabem. O nome original desse romance é Caspian Rain bem de acordo com a história da protagonista cujo ideal de felicidade era ver o Mar Cáspio. Chuva no Cáspio. Chuva Dourada no Cáspio. 

       A história é narrada por uma menina, pré-adolescente. Talvez por isso algumas pessoas o tenham considerado um livro infantil. Mas não é. Acho perigoso escrever como se fosse uma criança, mas a linguagem utilizada pela autora é simples, própria de uma pessoa jovem. Mas as idéias são de um adulto relembrando seus primeiros anos.

      Yaas. Este é o nome da narradora que conta a história de seus pais, Bahar e Omid. Nome persa com duplo significado, de acordo com a acentuação. Pode ser Jardim dos Poetas ou Desespero. Eu o indicaria como leitura essencial para jovens que sonham com o Príncipe Encantado, principalmente quando esse Príncipe esteja em uma escala social mais elevada do que a sua. E mais ainda, um casamento sem amor, feito de expectativas que nunca se realizam.
 
     Os personagens são judeus e vivem em Teerã dez anos antes da Revolução Islâmica. Omid não ama Bahar, nunca amou nem pensou que pudesse vir a amar. Isso não tinha a menor importância. Bahar  sempre acreditou que a vida lhe daria o melhor. Que tudo era possível. Tinha esperanças, ilusões. Mas Omid era machista por tradição familiar. Destruiu todos os sonhos de Bahar sem nem ao menos pensar neles.

     A Dançarina de Tango, o Irmão Cantor, o Irmão Fantasma, a Irmã Pomba e a Irmã Solteira são outros personagens fascinantes encontrados nesse romance. Assim como a denúncia contra o preconceito, costumes incompreensíveis, um grito contra a opressão. Um mundo angustiante em que todos, basicamente todos são seres oprimidos, inclusive Omid, que não é o vilão da História. É apenas mais uma vítima em busca de salvação.

     Valeu a pena ler, mas confesso: demorei. Escrito em curtos capítulos, uma linguagem mágica, eu saboreava cada palavra. Mas ao mesmo tempo, a tristeza que escorria de suas páginas não permitiram que eu ficasse presa ao romance. Tinha que buscar alento em outras leituras.

                                            Lavras, 31 de dezembro de 2009