AUGUSTO CURY - "O futuro da Humanidade"

Ano: 2005


        O premiado autor de “Nunca desista de seus sonhos”, “Análise da Inteligência de Cristo”, entre outros campeões de vendas, psiquiatra e psicólogo, desenvolve neste romance “O futuro da Humanidade”, bastante denso, um complexo enredo. Um estudante de medicina, Marco Pólo, adentra a faculdade, e estupefato de indignação com a frieza com que os corpos são tratados nas aulas de anatomia, afronta a instituição e os professores. Sai pelas ruas e encontra o mendigo Falcão. No convívio, pouco a pouco, surpreende-se com a sagacidade, a inteligência e a extraordinária filosofia do mendigo, apelidado de Poeta da Vida.
Do capítulo 2 até o capítulo 12, desenrola-se um extenso diálogo entre mendigo e estudante, com pequenas intervenções do professor da Faculdade de Medicina, colegas estudantes e de outros mendigos. É um monótono e excessivo debate sobre a loucura e os loucos que a sociedade produz. Claro que é uma tentativa de recuperar os que se perderam pelos descaminhos da vida. 
        O estudante viu em Falcão um gênio de inteligência, mas “teve a sensação de que ninguém conseguiria transpor a fortaleza dos pensamentos do filósofo lapidada pelas crises psíquicas e esculpida pelos corredores da vida”(pg.84).
Marco Pólo tornou-se, então, seu discípulo e desafiador. –“Qualquer ser humano é afetado pela sociedade e, por sua vez, interfere nas conquistas e perdas da própria sociedade através de seus comportamentos” (pg.85). “Interferimos na memória e no tempo dos outros o tempo todo. A memória e o tempo nos unem numa inevitável rede” (pg.88). Ao ser confrontado com suas lembranças e suas vivências, o mendigo, que fora um mestre de filosofia, teve crises de paranóia. Imagens ameaçadoras vieram à tona em sua mente turva.
        “O impacto causado pelas imagens grotescas noticiadas pela TV perdia o efeito à medida que os espectadores assistiam a elas diariamente. Percebeu (Marco Polo) que a sensibilidade estava morrendo na humanidade. Tornara-se um espetáculo de terror. Por isso, humildemente, expressou:
        - Estamos doentes”(pg.93).
        Movido pela insistência e generosidade do estudante o mendigo volta a se ambientar à sociedade. Logo, procura o filho, cuja separação fora dolorosa para ambos, quando o garoto ainda tinha 10 anos, e o encontra, e, reconciliam-se. Passam a conviver muito bem. E também reencontra a ex-mulher. Logo, volta a exercer suas atividades profissionais como professor universitário.
        A seguir, o estudante se forma e Marco Pólo torna-se um atuante profissional: o psiquiatra revoluciona o cotidiano na clínica psiquiátrica onde passou a trabalhar. Luta com afinco para eliminar as terapias de eletrochoques, fazendo com que os pacientes se sintam valorizados, queridos e conscientes de seus valores. Marco Pólo persevera em enxergar os transtornos psíquicos por outros ângulos. Otimista, em absoluto, ele queria entrar nas entranhas das histórias de seus pacientes.
“Meu desafio como psiquiatra não é apenas medicá-los ou fazer sessões de psicoterapia, mas mostrar a eles que a flor mais exuberante brota no inverno mais rigoroso. Os que atravessaram seus desertos psíquicos e os superaram tornaram-se mais belos, lúcidos e ricos do que eram”(pg.135).
Com sua generosidade e afetividade Marco Pólo batalhou por salvar muitos loucos de sua prisão emocional, de seus conflitos massacrantes entre a realidade e a loucura.
        Embora seja o ideal buscarmos os mendigos e os recuperarmos de seus abismos paranóicos, parece-me que a mente dos loucos tem excessivas rupturas na continuidade de sua lucidez. Será que, não teria Falcão o eu (ego) partido, as sinapses de seus neurônios emboladas, e os parâmetros da realidade distorcidos? O romance em si faz um paralelo com a sociedade em meio à qual vivemos. Nosso meio está repleto de alienados, loucos, esquizofrênicos e psicopatas, e me pergunto: teria um psiquiatra o poder de incutir na mente de um psicopata o amor ao ser humano? Teria um psicólogo a capacidade de normalizar os acessos de agressividade de certos loucos soltos por aí?
Seria possível?! Ou seria uma utopia?!
        “Enquanto giravam, observavam atentamente o rosto dos expectadores e percebiam que, para a maioria das pessoas, a sociedade moderna se tornava cada vez mais um grande hospital psiquiátrico ou uma sociedade de mendigos que não abandonaram seus lares, mas abandonaram a si mesmos. De pessoas que, às vezes, têm mesa farta, mas mendigam o pão do prazer, da tranquilidade e da sabedoria”(pg.249).
        Um ótimo livro para os amantes da psiquiatria e da psicologia.
        Tudo a ver com a trajetória do autor.



                                                                     Izabella Pavesi