O Olho de vidro do meu avô


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         Já confessei aqui que sou dada a releituras. Às vezes bate uma saudade de um livro que já li, uma necessidade de rever algum trecho, alguma coisa que está lá, naquele lugar da memória afetiva das imagens que criei quando li “aquele” livro, aquele “poema”, “aquele” texto, em especial.
       Quando isso acontece, vou remexer nas estantes e só sossego quando acho. Já aconteceu de o livro estar emprestado, de já haver doado, presenteado. Aí, faço um esforço para lembrar-me dos trechos ou pelo menos do sentido que quero dar, ao relembrá-los.
       Nesta semana que passou (23/04) comemorou-se o dia mundial do livro e dos direitos do autor, no inicio do mês (02/04), o dia internacional do livro infantil e o dia nacional do livro infantil (18/04). Torço sempre para que, mesmo por necessidade ou lazer, o nosso povo possa ler cada vez mais.
        Nesta semana também, talvez por necessidade de ratificar meu pensamento quanto à leitura de bons textos, remexi velhos guardados em busca de um livro do Bartolomeu Campos de Queirós, um autor mineiro que gosto muito, pela beleza da poesia que li em alguns livros seus.
       Digo alguns porque não li todos pois Bartolomeu tem uma vasta obra.Destaco que li "Por Parte de Pai", "Indez", "De letra em letra" e Ah! Mar...Todos muito especiais, encantadores.
       Mas do O Olho de vidro do meu avô queria reler um trecho em  que ele, o menino narrador da história,  associa o olhar do avô a grandiosidade do mar, pois a seu ver no olho de seu avô cabia um mundo, era um olhar de poeta ( que lindo!) explicando que poeta é aquele que olha "para depois de tudo".
       Relembrei da tarde que fui como convidada da Escola SESI-AL para uma atividade de prática de leitura e li com muito prazer e emoção, alguns trechos desse livro para uma platéia maravilhosa de pais e mães, educadores e estudantes. Vi  tanta coisa linda produzida pelos estudantes de várias séries a partir da leitura do livro e fiquei tão emocionada que, em casa, escrevi algo e enviei para a escola, para se juntar as produções do mural.


                 “Meninos, meninas

               Benditos sejam todos os olhos de vidro -olhos de poeta- porque enxergam apenas o que querem ver!
            Abençoado seja o "olho" que me ajuda a ser melhor, mais gente. E se esse “olho” atravessa a superfície, “vê” o miolo, que minha escolhas sejam as mais fantásticas possíveis para que minhas lágrimas sejam só de emoção.
            Que o silêncio da casa do Vô Sebastião invada mais vezes a minha vida para que a escolha das palavras a serem ditas ou escritas sejam mel e flor, pois a música do silêncio será sempre um alimento para minha alma.”

               Abraços, Edna Lopes


O livro:

             *A obra “O olho de vidro do meu avô“ (2004), de Bartolomeu Campos de Queirós, apresenta ao leitor a história de um menino que ficava imaginando os mistérios escondidos atrás do olho de vidro de seu avô Sebastião. Em várias passagens do livro, o narrador–personagem questiona–se sobre o que pode visualizar o olho de vidro, porém são latentes a proteção e o carinho que sente ao lado do avô. Por
meio da linguagem do olhar, os dois se relacionam afetuosamente, mas de forma emudecida, talvez pelos segredos guardados naquele olho de vidro. São essas dúvidas do neto que levam o leitor a participar da história por meio da imaginação e das experiências de seu cotidiano, dando vida ao que lê.

*BERTA LÚCIA TAGLIARI FEBA (UNIESP - FAPEPE).Anais do COLE

          **“Era de vidro o seu olho esquerdo. De vidro azul claro e parecia  envernizado por uma eterna noite. Meu avô via a vida pela
metade, eu cismava, sem fazer meias perguntas. Tudo para ele
se resumia em um meio-mundo. Mas via a vida por inteiro, eu
sabia. Seu olhar, muitas vezes, era parado como se tudo estivesse
no mesmo ponto. E estava.”
           Assim começa este livro que mais que um relato é poesia,
poesia que emana da voz de um menino, o neto, que nos entrega
o retrato que a lembrança de seu avô deixou gravada no seu coração.
Este livro não pode ser contado, é necessário lê-lo, porque não está feito de argumento, não há fábula, nem trama. Há linguagem, há voz, há imagens densas, potentes, provocadoras que  ficam morando no interior do leitor e germinam e florescem.
           Essa é a força deste livro e talvez do estilo da marca singular
da obra de Bartolomeu Campos de Queirós.
         BEATRIZ ROBLEDO, DE BOGOTÁ, COLÔMBIA.

O autor:

Nascido em Minas Gerais, em 1944, Bartolomeu Campos de Queirós é autor de vários livros para crianças, de peças teatrais e de textos sobre arte-educação. Teve o seu primeiro livro, O peixe e o pássaro, publicado em 1974. Recebeu os mais significativos prêmios pelo seu trabalho literário. Por seus inúmeros títulos publicados, o autor é reconhecido, pela crítica especializada e pelas teses universitárias, como um dos grandes escritores brasileiros.