China: a corrida para o mercado

São Paulo: Futura, 2004, 448 p - STORY, Jonathan.

O livro é de grande utilidade para aqueles que procuram entender o papel que a China desempenhará no cenário mundial ao longo do século XXI. Jonathan Story reúne vários dados de cunho econômico, político e cultural, e vai analisando, ao longo da obra, os aspectos que considera relevantes para apresentar as alternativas que esse país terá à sua frente para superar os desafios que se apresentam nas próximas décadas.

Segundo o autor, quatro são as visões sobre o futuro da China: o medo do desmantelamento e falência do regime comunista, o que faz o governo manter o status quo defendendo-o; a introversão como uma potência meramente regional e fraca, o que permitiria que os Estados Unidos e outras potências ocidentais promovessem a sua democratização; o rápido crescimento da economia motivada por suas ambições, em função do seu potencial e dos objetivos traçados pelos seus governantes; e a adesão ao “mercado comum” como estratégia gerencial para levar o país à prosperidade.

Para fundamentar estas quatro possibilidades, Story inicia seu trabalho abordando as questões em torno das relações internacionais, analisando as alianças globais do governo chinês, bem como suas relações com os países vizinhos, destacando sempre a forte influência dos Estados Unidos, notadamente como um parceiro vital para as suas pretensões.

Nesse sentido, destaca o autor que, para encontrar o desenvolvimento econômico e social, a China necessita de paz e segurança doméstica, inseridas num ambiente global igualmente estável. E a única nação que pode lhe proporcionar isso são os Estados Unidos, sem deixar de considerar as parcerias com Japão, Rússia e outras nações próximas.

Nesse meio tempo, Story examina a incorporação da China ao sistema econômico global, mostrando que mais do que nunca a China tem provado sua importância e seu imenso potencial nesse cenário. A entrada do país na Organização Mundial do Comércio (OMC) pode ser vista como um alicerce para o crescimento do país do dragão emergente. A razão para esta afirmativa reside no fato de que a China, antes de mais anda, está destinada a um longo período de crescimento, começando a substituir os Estados Unidos como principal mercado para exportadores em toda a região da Ásia e do Pacífico.

Apesar de ser contrário à tese, Story cogita a possibilidade da China tomar o lugar dos Estados Unidos, em tamanho, como primeira economia do mundo em algum ponto entre 2006 e 2025. Entretanto, para chegar a essa condição, ela deverá passar, segundo Story, por uma profunda reforma de sua política econômica, ressaltando que é um dos países mais poluídos do mundo, com níveis de poluição atmosférica e hídrica superiores aos padrões internacionais. O alcance de um novo patamar exigirá uma mudança em suas normas, passando por uma transformação política do país, decisão essa que cabe apenas ao partido-Estado chinês.

Nesse sentido, destaca-se a postura política dos dirigentes do Partido Comunista Chinês (PCC), que, nas palavras do autor, vêm “tateando as pedras enquanto se cruza o rio”. Não está nada claro que o monopólio do partido-Estado possa induzir um estado de direito. Sem dúvida, a principal face da reforma está relacionada às instituições de política econômica, que representam a razão principal para a transformação da sociedade chinesa. E esse processo, aparentemente, não tem volta. A filiação à OMC foi indiscutivelmente o aríete para a aceleração das mudanças domésticas.

Os países ocidentais ricos que ainda, de alguma forma, controlam a política comercial mundial têm uma difícil decisão a ser tomada: impor barreiras contra os produtos chineses como querem, segundo o autor, as forças antiglobalização; ou receber a China na OMC como um novo grande parceiro do sistema global e aceitar uma política gradual de transição para uma plena democracia de mercado.

Essa transformação do sistema de negócios da China é a chave de sua inserção, de forma satisfatória ou não, no comércio mundial.

A economia chinesa está mais do que nunca nas mãos dos consumidores e dos poupadores. O sistema de produção, ainda hoje controlado pelo Partido Comunista Chinês, tem de se adaptar aos novos tempos ou padecerá. Tudo indica que até agora o PCC preferiu adaptar-se, mas ainda existe um forte desafio a ser suplantado: os direitos à propriedade privada têm de ser inseridos no coração do sistema político da China.

Story ainda destaca, nos capítulos finais, a experiência das multinacionais no mercado da China, que ainda vivem um período de maturação dos seus investimentos em um ambiente de complexas reformas no sistema de negócios do país, pois ainda é forte o estilo de fazer negócios por meio da rede de relacionamentos familiares e de amizade (guanxi), num processo que vale mais do que contratos. Ressalta ainda o autor que as pessoas que quiserem realizar negócios na china sempre deverão se lembrar das prioridades impostas pelos governantes, quais sejam: empregos, crescimento, sustentar a alta taxa de poupança e avançar com as reformas.

E, assim, Jonathan Story termina sua obra com algumas indagações com relação à direção que tomará o desenvolvimento da China, e quando ela emergirá como uma grande potência. Ele próprio dá a resposta que julga ser a mais consistente: na primeira década deste milênio estabelecem-se os alicerces para a transformação do país nas próximas décadas, de forma que em 2040 possa começar a sacudir a política norte-americana para então, em 2060, tornar-se efetivamente uma potência.

Por Otto Nagami

José Luís de Freitas
Enviado por José Luís de Freitas em 22/09/2006
Reeditado em 22/09/2006
Código do texto: T246678
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