A Metamorfose

Nunca saberia dizer quando é cedo ou tarde para abrir um clássico da literatura e nele mergulhar como uma adolescente ávida por uma viagem inesquecível. Isso me aconteceu agora, aos 37 anos, ao dar de cara com “A Metamorfose”, de Franz Kafka, que até então não havia me interessado em pôr os olhos (sabe-se lá porque...). Não costumo proferir frases do tipo “porque não vi isso antes?”, afinal, vivemos conforme os momentos vão se construindo.

Mas, a surpresa e ao mesmo tempo a familiaridade com esse texto de Kafka são, para mim, minimamente peculiares. Surpresa por descobrir no autor uma leveza que eu não imaginava. Um texto fácil, no qual ele discorre corriqueiramente sobre o jovem caixeiro viajante Gregório Samsa, que amanhece transformado em um inseto, assim, do nada. Familiar porque parece que estou lendo uma crônica num jornal diário, tamanha a naturalidade com que Kafka fala da metamorfose, como se fosse algo tão normal quanto nascer e morrer.

Lendo “A Metamorfose” descobri em Kafka a capacidade de provocar uma série de sentimentos contraditórios, como amor, raiva, nojo, compaixão, asco. Na narrativa de uma mesma ação, ele me desequilibrou entre um acesso de risos e uma quase incontida vontade de chorar, de pena de Gregório. Tudo isso porque Kafka também é capaz de nos faz crer na real possibilidade de alguém dormir homem e acordar um inseto rastejante, com todos os problemas que esse episódio venha causar nas vidas dele e da família. Sem ser puramente fantasioso; simplesmente Kafka.

Giovana Damaceno
Enviado por Giovana Damaceno em 24/09/2006
Código do texto: T248570
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