"Abraçar o Sonho", de Ana Marques: Uma crítica desapaixonada

O primeiro livro de poemas de Ana Marques parece-me deveras pessoal. Embora seja bem possível que o mesmo se possa dizer de toda a poesia. Não sei, não percebo assim tanto de poesia. A verdade é que, conhecendo os bastidores da autora, rapidamente encontro no livro poemas sobre episódios de vida e sentimentos íntimos que recordo das conversas e das vivências tidas com ela. São momentos poéticos inspirados pela coragem das emoções que surgem reflectidas nas páginas de “Abraçar o Sonho”.

Mas não será apenas esse material autobiográfico a preencher o livro. A inspiração apresenta-se à autora vinda igualmente de estímulos externos e a leitura oferece variedade, ganhando com isso uma dimensão literária que outros melhores do que eu poderão avaliar com maior discernimento. Sou suspeito, pois actualmente durmo com a autora. Há uma mão-cheia de poemas dedicados a mim e tudo. Obrigado, amor.

Adiante.

Além da minha pessoa (assunto capaz de encher vários volumes, eis uma dica que estendo a todos), o livro inaugural de Ana Marques versa outros motes. Por exemplo, as paisagens, que são traduzidas em poemas com a versatilidade que a autora manifesta para saltitar dum objecto observado para outro, com a graça que lhe confere o seu à-vontade para manumitir do mesmismo prosaico aqueles vocábulos há muito coarctados ao desuso e que, adivinha-se, mais dificuldade terão em abrir os olhos quando trazidos assim, inesperadamente, de volta à luz.

Move-se, o livro da Ana. Viaja através da sensualidade de bom gosto imaginada com o coração, da eventual agulhada lixada própria duma autora com mau feitio (mas, oh, tão meiga para com as palavras), da fantasia fiel ao aticismo do sonho, dos sentidos presuntivos deixados a cargo do viajante fortuito e do vampirismo (no bom sentido, no sentido em que morde e seduz), com que todos os poetas trazem debaixo de olho a realidade tangível e intangível, definível e indefinida, possível e impraticável, melindrável ou antes pelo contrário e aberta a experimentar coisas novas.

Há poemas sobre mim. Já referi? Só isso já faz de Ana Marques uma poetisa digna de nota. Mas fica a impressão de que os leitores que não sejam eu também vão gostar de folhear “Abraçar o Sonho”, colher o fruto da palavra lavrada em papel pela mente frondejante duma talentosa Ficcionauta. Até pode ser que a autora vos ofereça uma cópia pois ela anda a dá-los de mão beijada, a burra.

Nota final: Nem todos os poemas presentes neste livro rimam. Isto só para verem do talento de quem vos falo.

Nuno Lopes
Enviado por Nuno Lopes em 17/09/2010
Código do texto: T2504386
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