O indiferente

Livro: L'étranger (O estrangeiro)

Ano da obra: 1942

Autor: Albert Camus (1913-1960)

Camus, ao criar seu personagem Meursault, deu vazão às suas idéias filosóficas existencialistas, já embasadas por teóricos como Sartre e Heidegger. O personagem, um franco-argelino, passa a vida sem conhecer sentimentos e emoções, provavelmente tendo características esquizóides. Sua apatia emocional exacerba seu apego aos instintos meramente físicos (comer, dormir, fazer sexo, etc). Um dia é como cem anos para o personagem pois, segundo ele, a rotina jamais muda, pouco importando mudanças geográficas, por exemplo (Argel ou Paris), morar livre ou encarcerado.

Meursault é ateu, um descrente. Para ele, a moram e ética da sociedade de nada lhe servem. No enterro da mãe não demonstra emoções, chegando mesmo ao sentimento de tédio, meramente acompanhando as cerimôneas fúnebres como uma obrigação a mais por cumprir. Ele também se esquiva de decisões importantes, como casamento e mudança de cidade por conta do trabalho, por crer na indiferença de tais decisões, que nada mudariam sua rotina. A morte é como a vida, e ambas se confundem. O homem é insignificante perante o universo e seu destino final (a morte).

Não há emoções como amor, ódio ou tristeza. Tudo segue sua rotina estóica e o personagem apenas experiencia a vida a partir de sua constituição orgânica e necessidades básicas, que impulsionam suas ações. Mesmo no homicídio que cometeu, Meursault foi influenciado por fatores como calor e torpor mais do que ódio ou vingança. A relação com sua namorada é pautada por desejos sexuais mais do que amor, paixão ou afeição (ou estima de qualquer espécie).

Do começo ao fim, se demonstra alheio à humanidade no sentido emocional, sendo, portanto, um "estrangeiro''. Os juízes e outros questionam sua postura, e ele volta a reafirmar sua indiferença, sempre crendo na pequenez do homem e inutilidade de suas leis ante o destino final de todos nós. Cem anos ou um dia, tanto faz. A rotina o fez cárcere, mas ele é livre da moral, admitindo o absurdo da existência.

Caio Almeida
Enviado por Caio Almeida em 20/11/2010
Código do texto: T2625964
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