RESENHA: "QUESTÕES DE ARTE"

Identificação da obra

O livro resenhado chama-se “Questões de arte: a natureza do belo, da percepção e do prazer estético”. O nome da autora é Cristina Costa. A edição do livro é a primeira, do ano de 1999 e pertence à Editora Moderna, de São Paulo. Sua bibliografia contém livros como “Arte e crítica de arte”, de Giulio Carlo Argan; “Arte e percepção visual”, de Rudolf Arnheim; “Estética e filosofia”, de Mikel Dufrenne; “Interpretação e superinterpretação”, de Umberto Eco; “A arqueologia do saber”, de Michel Foucault; “As tecnologias da inteligência”, de Pierre Lévy; “A contemplação do mundo”, de Michel Maffesoli e “A imaginação”, de Jean-Paul Sartre, além de muitos outros.

Apresentação da obra

“Questões de arte: a natureza do belo, da percepção e do prazer estético” tem as diversas nuances artísticas como assunto. A obra procura discorrer sobre os questionamentos do que realmente é arte, afirmando previamente que somente quadros e esculturas presentes em museus ou músicas eruditas orquestradas são a referência artística do imaginário popular. A intenção do livro é atentar para as variadas formas de se compor arte, além de discutir o próprio significado da palavra.

Descrição da estrutura

A edição analisada apresenta 15 capítulos (mas a segunda versão do livro, de 2004, conta com um capítulo a mais). Passada a introdução, o primeiro capítulo discorre sobre a arte presente na vida individual e coletiva. Depois, a interpretação de beleza e a diferenciação entre belo e bonito é a temática adotada no segundo e terceiro capítulo. No quarto, as opiniões de leigos sobre cada obra, passando para a opinião profissional no sexto. O quinto capítulo analisa a conquista de território do artista enquanto profissional. Já o sétimo capítulo é dedicado ao amadorismo artístico e o aprendizado no oitavo. Os diversos traços artísticos são o assunto do capítulo 9, enquanto que entre o décimo e o décimo - quarto, a arte é relacionada com a ciência, indústria, poder, realidade, tecnologia e o público. Finalmente, a autora coloca a sua visão sobre arte. O capítulo adicional da segunda edição trata de arte e as novas tecnologias.

Descrição do conteúdo

A autora começa com um recorte social da arte na vida humana. Neste contexto surge a sociologia da arte, a qual vai estudar instâncias da arte junto à sociedade como a religião, classes sociais e poder. Para isso Cristina Costa cita o historiador espanhol Eugenio D’Oro e o italiano Giulio Carlo Argan. Ambos se propuseram a estudar a relação entre a arte e questões geopolíticas e religiosas. A própria Cristina também realizou pesquisas artísticas em que teve a figura da mulher como tema.

A fenomenologia da arte é citada como a expressão do imaginário de forma ímpar. A arte vem de encontro ao compartilhamento emotivo. E é deste viés que a autora parte para falar de beleza. Segundo Costa, o prazer do belo envolve analisar, apreciar e fruir de um momento de ouvir música, assistir a uma peça de teatro ou parar diante de algo que agrade os olhos. Trata-se da sensação de perfeição, a qual atinge a sensibilidade humana. São outras variantes artísticas as qualidades formais e de linguagem.

A seguir, a preocupação de Cristina Costa é a distinção entre belo e bonito. A “boniteza”, termo utilizado pela autora, deduz do ideal de beleza grega, em que as composições deveriam ser o mais próximas possível da simetria, harmonia e proporcionalidade. A ideologia helênica teria se tornado um padrão para todos os movimentos a partir de então. Mas a questão de beleza vai além: independentemente de uma obra ser bonita ou feia – cuja questão depende do espectador – a beleza expressa uma emoção, uma mensagem. Ela se comunica com o público de alguma forma, causando sensações que podem ir desde alegria e bem-estar até depressão e desconforto. Dentro da premissa estão os movimentos artísticos de nome Realismo (mostrar o mundo como o artista percebe) e Expressionissmo (a perspectiva mais pessimista possível). No que tange ao gosto do público pela arte, ele depende dos valores culturais e estéticos de cada época, a qual terá o seu patamar artístico específico.

A aproximação do artista com a realeza, durante a Idade Medieval, possibilitou a profissionalização do mesmo. Ao receber encomendas que iam desde retratos até decorações, os artistas passaram a ser reconhecidos na sociedade e a arte começava a se tornar uma interessante área profissional. Tanto que, a partir do século XVIII, o desafio da categoria foi a criação de uma indústria cultural. A partir daí, a arte já não era mais somente a expressão emotiva e independente daquele que a concebe. Uma vez incluído em meios sociais e profissionais, o profissional da arte estaria sujeito à vontade do público e do contratante. E dentro desta realidade está o aprendizado mais aprofundado das vertentes artísticas, destacado no oitavo capítulo. Sob condições mais restritas, muitas pessoas bafejadas pelo talento preferem manter sua arte em uma condição amadora. É como diz a autora: uma coisa é praticar a arte aos finais de semana, nos momentos de folga (hábito dos ditos “artistas ingênuos”). A outra é dedicar-se de corpo e alma, em período integral e estar em constante aprimoramento, estudo, atualização. Destaque também para a arte do inconsciente, praticada pelos artistas doentes mentais.

Dentro da concepção de “gosto” artístico, surge o “gosto” profissional, ou seja, a crítica de arte. A partir da percepção de um público em geral, a crítica especializada parte de critérios mais profundos. No modelo greco-latino, as premissas são idealismo, verossimilhança, racionalidade, ética e moralidade e humanismo. Já na estética medieval, os critérios passam a ser transcendência, espiritualidade, misticismo e evangelização. Mas não se trata somente da adoção de critérios. O crítico é um comunicador, um intermediário entre arte e público geral. Ele é um ponto de referência que pode tanto consagrar uma obra como fazer com que caia no ostracismo. Cabe ao profissional também divulgar os diferentes tipos de arte produzida, a fim de que o grande público tome conhecimento e possa selecionar o que lhe convém.

Os anos 60 marcam o nascer do pop art, que é a contestação da influência midiática na sociedade contemporânea. Esta vertente é usada pela autora para ilustrar o dinamismo artístico: de acordo com a época, o padrão e os dogmas sociais, a arte é um campo de constantes mudanças. Outro caso citado foi o do Neoclassicismo no Brasil, porém ainda no século XIX. Baseado no estilo greco-romano em vigência na Europa, o objetivo era substituir o Barroco, estilo da Igreja Católica no século XVIII.

A seguir, a arte é ladeada aos campos da ciência, indústria, poder, realidade, tecnologia e o público, este no sentido interpretativo. É como a arte foi ganhando gradativamente um caráter de conhecimento, informação e expressão da vida. Com relação ao poder, trata-se do grau de influência de uma obra sobre o público, dado o tom de sua mensagem. O poder exercido sobre a arte pode fazer com que ela comunique-se de forma franca ou pode reprimi-la.

A autora lança uma discussão: a arte deve ou não representar o real? Para argumentar, Costa cita a perspectiva do que pode ou não ser cópia do real e outras vertentes que representem a dualidade do real x fantasioso, como o Futurismo (saudação do progresso) e o Impressionismo (teorias ópticas e efeitos fotográficos), ao lado do Simbolismo (criticar a sociedade com base na imaginação humana) e o Surrealismo (movimento afastado do racional e baseado apenas no ímpeto psíquico). O Abstracionismo procurava representar a arte figurativamente – apenas utilizando formatos da natureza, como linhas, espaços e cores. Posteriormente, a arte ganha o adendo tecnológico, aproveitando-se de recursos mecânicos para se expressar.

Cristina Costa encerra “Questões de Arte” discorrendo sobre as variantes interpretativas do público e sobre o que efetivamente é arte. Para ela, a arte tem um importantíssimo e inequívoco caráter lírico. É inerente ao ser humano e o acompanha desde o nascimento. É o registro do que jamais pode ser negado, é a herança eterna da universalização.

Análise

O livro é escrito em linguagem coloquial o bastante para leigos e profunda o bastante para iniciados. Cristina Costa foi bastante parcimoniosa e detalhista em seu texto, o qual está à altura do título “Questões de Arte”.

“Questões de Arte: o belo, a percepção artística e o fazer artístico” é um relato histórico de movimentos artísticos, como o Expressionismo, o Realismo, o Abstracionismo e o Modernismo. A autora não se preocupa apenas em descrevê-los: todos os movimentos citados estão inseridos em suas respectivas épocas, para que o leitor não perca o foco da leitura. Mesmo porque, ainda que a questão histórica se faça presente, não é ela o chamariz do livro. “Questões de Arte” é um ensaio leve, ágil e dinâmico sobre os elementos básicos da arte, sendo o artista, a obra e o público. Dentro de cada patamar a autora discorre maravilhosamente sobre o profissional e o amador, as nuances que compõem uma obra e o que ela comunica, além do detalhe da crítica e da beleza emotiva.

É um livro atemporal. Arte é um assunto sempre em voga, portanto as questões de arte discutidas por Cristina Costa jamais perderão seu caráter funcional, independentemente dos costumes e formação de seu leitor.

Cristina Costa é Doutora em Ciências Sociais pela Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo. Livre-docente em Ciências da Comunicação pela Escola de Comunicação e Artes da Universidade de São Paulo. Professora de Estética dos meios de comunicação.

Andre Mengo
Enviado por Andre Mengo em 02/12/2010
Reeditado em 21/03/2011
Código do texto: T2649809
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