RESENHA: O monge e o executivo: uma história sobre a essência da liderança.

RESENHA

Desde o prólogo, este livro prende nossa atenção, pois escrito de um modo claro e envolvente, faz com que o leitor passe a refletir sobre suas ações e, com isso, compreenda melhor a própria vida.

No capítulo 1, o autor preocupa-se com as definições de poder, autoridade e limites, fazendo com que o grupo que está trabalhando com o Simeão, personagem criado pelo autor para ser o responsável pela aventura de rever conceitos em cinco outros personagens, construa, a partir do diálogo, suas próprias apreensões sobre os temas. Ouvir, estar atento ao que se passa é um dos aspectos principais do líder, além dos aspectos morais e éticos.

Ao exercício da liderança é preciso tomar decisões pessoais e aplicar princípios, pois existe uma diferença entre liderança e gerência: na liderança o líder lidera pessoas enquanto na gerência o gerente gerencia coisas.

O líder influencia os outros, faz com que a energia se mova e que com a sinergia o encontro entre pessoas aconteça de fato. Para o autor, é a qualidade de caráter de cada pessoa que faz a importância dos relacionamentos, pois ao trabalhar com pessoas o que deve ser objetivado é a tarefa a ser realizada sem desprezar os relacionamentos.

Neste sentido, liderança é executar as tarefas enquanto se constrói em relacionamentos, que sejam frutos de relações saudáveis, onde as necessidades legítimas sejam trabalhadas como princípio de qualidade de caráter e os comportamentos habituais sejam escolhidos num esforço de relacionamento que, para ser bem sucedido, é obtido a partir da confiança.

Pensamentos e emoções, ações e responsabilidades caminham juntas quando se busca uma maior qualidade nas relações.

No capítulo 2, intitulado “O velho paradigma” a discussão perpassa, inicialmente, sobre a importância de sermos bons ouvintes, mostrando-nos que interromper as pessoas no meio de uma frase é enviar algumas mensagens negativas, o que demonstra que estamos com a cabeça ocupada com a resposta, mesmo sem prestar muita atenção no que o outro diz. O autor chama a nossa atenção para o fato de que se não se ouve realmente, não se valoriza a opinião alheia.

Ressalta que os sentimentos de respeito são essenciais para que se lidere um determinado grupo e que no inconsciente e nos sonhos existem muitas riquezas. Na voz de Simeão, o autor nos relembra que não são as coisas materiais que trazem alegria na vida e que os maiores prazeres da vida são totalmente grátis.

Interessante o modo que ele explica o que é paradigma, percebido com um filtro através do qual o nosso pensar chega às decisões. Demonstra a necessidade de desafiarmos nossos paradigmas à compreensão do mundo exterior e de suas noções sobre o que é progresso. Para tanto, também demonstra na página 47 o estilo piramidal de administração, concebido com um velho paradigma, que precisa ser modificado para a melhoria dos processos de liderança. No novo paradigma, a tarefa maior é remover obstáculos enquanto no velho paradigma colocar obstáculos parecia ser o essencial.

Para o autor, um líder é alguém que identifica e satisfaz as necessidades legítimas de seus liderados e, para tanto, necessário é saber o significado e o sentido do verbo servir, pois para liderar é preciso servir, com limites, responsabilidades e estímulos para se tornarem melhores, percebendo as diferenças entre necessidades e vontade e com uma forte dosagem de flexibilidade.

Na voz de uma outra personagem, o autor trás a hierarquia das necessidades humanas de Abraham Maslow, psicólogo experimental e professor de Psicologia na Universidade de Brandeis, que apresenta os cinco níveis de necessidades.

Após discutir com o grupo sobre a questão, Simeão resume a discussão do dia afirmando que “auto-realizar-se é tornar-se o melhor que você pode ser ou é capaz de ser, é alcançar a própria excelência”.

No capítulo três, intitulado “O modelo” os temas voltam-se para a percepção primeira que temos dos fatos e das coisas, ressaltando que as coisas nem sempre são como parecem ser e o cuidado que devemos ter antes de fazer julgamentos rápidos. Destaca ainda a importância da opinião contrária, o cuidado antes de emitirmos um juízo de valor e a necessidade de manter o equilíbrio, colocando que em muitos momentos precisamos é ativar nossas capacidades de obediência que, em alguns momentos serve para quebrar o falso ego e o orgulho.

Destaca Jesus Cristo como o maior líder de todos os tempos, pois ser líder é servir, é colocar a liderança a serviço e, com isso, influenciar pessoas.

Modelo de liderança

Liderança e autoridade,

Serviço e sacrifício

Amor

Vontade

Com a fórmula Intenções – ações = nada, chama nossa atenção para o fato de que sem as devidas ações, nossos objetivos não poderão ser alcançados. As intenções de liderar devem ser pautadas nas ações, pois a liderança exerce-se ao longo do tempo e deve ser construída sobre a autoridade. Para tal, os relacionamentos devem ser percebidos como exercício e aceitação da influência, que na verdade é a capacidade de levar as pessoas a realizarem suas vontades por conta de sua influência pessoal, resultada do envolvimento e comprometimento, do serviço e do sacrifício.

Jesus, segundo o autor, foi o maior líder neste sentido, mas são citados outros exemplos de lideres que se enquadram no modelo proposto: Gandhi e Martin Luther King, por exemplo. Com a máxima “você colhe o que planta”, enfatiza que serviço e sacrifício são ações para realizar as intenções e que se o amor é fundamentado na vontade, a liderança começa com a vontade. O capítulo termina afirmando, através da fala de um dos personagens que a liderança é a identificação e satisfação das necessidades.

No capítulo quatro, intitulado “O verbo” a grande idéia desenvolvida é a de que facilitar discussões e extrair pensamentos interessantes de cada participante é uma possibilidade interessante do líder atuar. Falar com alguém que presta atenção a cada palavra nos faz sentirmos valorizados e importantes. E se desafiado, ficar numa posição segura, expor claramente as suas posições a respeito das coisas. Simeão pergunta para John o que ele estava aprendendo ali. E a resposta é o modelo de liderança de Simeão, que logo lhe diz que o modelo de liderança não é dele, é de Jesus.

Religião é crença e respeito, um paradigma que nos auxilia nas questões existenciais. Mais uma vez, Simeão fala a respeito dos relacionamentos, que para crescerem e amadurecerem precisam ser cuidadosamente desenvolvidos e alimentados.

Adiante, quando terminam a conversa antes da aula, uma excelente colocação é feita por Simeão: perguntar e buscar a verdade faz com que se encontre o que se procura. Começam a aula sobre um novo tópico, o amor, definido inicialmente por afeição, ligação calorosa, atração baseada em sentimentos sexuais. As palavras gregas “eros”, “storgé”, “philo” “agape/agapó” são colocadas para frisar o que esta palavra AMOR pode significar. Aqui fica claro que o amor é traduzido pelo comportamento e pela escolha. Dizer e fazer não são a mesma coisa, pois amor e liderança precisam na união destas duas dimensões humanas: o falar e o fazer. No texto, o autor lembra o trecho da Bíblia presente na Epístola aos Coríntios, capítulo treze. Comparam o amor deste trecho bíblico com a lista de qualidades de liderança que elaboraram anteriormente.

AUTORIDADE E LIDERANÇA AMOR AGAPÉ

Honesto, confiável. Paciência.

Bom modelo. Bondade.

Cuidadoso. Humildade.

Comprometido. Respeito.

Bom ouvinte. Generosidade.

Mantém as pessoas responsáveis. Perdão.

Trata as pessoas com respeito. Honestidade.

Incentiva as pessoas. Compromisso.

Atitude positiva, entusiástica.

Gosta de pessoas.

Adiante, definem as palavras, para clarificarem seus sentidos.

DEFINIÇÕES

Paciência: mostrar autocontrole.

Bondade: dar atenção, apreciação, incentivo.

Humildade: ser autêntico, sem pretensão, orgulho ou arrogância.

Respeito: tratar os outros como pessoas importantes.

Generosidade, abnegação: satisfazer as necessidades dos outros.

Perdão: desistir de ressentimento quando enganado, prejudicado.

Honestidade: ser livre de engano.

Compromisso: ater-se às suas escolhas.

Resultados: serviço e sacrifício; pôr de lado suas vontades e necessidades; buscar o maior bem para os outros.

No capítulo, “O ambiente”, John, em sua conversa matinal com Simeão, fala sobre suas dificuldades de amar a si mesmo e aos outros. Simeão, com sua sabedoria e experiência, fala sobre o amor, sobre Deus e sobre a fé, mostrando-nos o como é complexo viver. Ressalta que comportamentos positivos acabam por produzir sentimentos positivos.

Na “aula”, com os outros personagens, Simeão inicia o dia falando sobre a importância da criação de um ambiente saudável, para as pessoas crescerem enquanto seres humanos e terem sucesso. Usa, para tal, a metáfora do jardim. Criando as condições adequadas podemos fazer com que o crescimento aconteça. Para nós, seres humanos, este princípio é especialmente verdadeiro. O cuidado é essencial, a atenção é fundamental, pois o líder é responsável pelo ambiente que existe em sua área de influência. Para tanto, é preciso estabelecer as normas e de comportamento, ou seja, o que é possível e o que não é.

A elaboração de políticas e procedimentos que todos devem seguir. O papel da motivação para a mudança é essencial e motivação deve ser vista como qualquer comunicação que influencie escolhas.

No capítulo seis: “A escolha” o tema central é o comportamento, compreendido como sendo penas um sintoma do problema real, tanto na empresa como na família, quando a crise se apresenta podemos notar que o problema esta no topo: quem lidera exerce influência sobre os liderados, então, se cada líder souber liderar para o sucesso e o alcance de metas e objetivos, com certeza eles conseguirão chegar lá. “Não há pelotões fracos, mas líderes fracos”. O nosso comportamento influencia nossos pensamentos e nossos sentimentos.

“É mais comum representarmos um determinado sentimento do que agirmos de acordo com o sentimento”, fala Simeão, citando Jerome Brunner.

Para Simeão práxis é o nosso comportamento que influencia nossos pensamentos e nossos sentimentos. Quando nos comprometemos a concentrar atenção, tempo, esforço e outros recursos em alguém ou algo durante certo tempo, começamos a desenvolver sentimentos pelo objeto de nossa atenção, ou, em outras palavras, nos tornamos ligados a ele. Assumir responsabilidades diante dos relacionamentos sejam eles de que tipo for é importante e necessário. Se a liderança começa com uma escolha, isso requer que tenhamos responsabilidades em assumir as ações de acordo com nossas intenções; assumir nossos atos, assumir a responsabilidade adequada por nossos atos.

É preciso ter habilidades em escolher as respostas para os desafios que vivenciamos cotidianamente em nossas vidas, com responsabilidade, percebida como resposta e habilidade. O estimulo sempre vem até a nós, mas nos cabe fazer a escolha: eu posso escolher a resposta.

O autor cita através de seus personagens frases como as que se seguem:

“O homem é essencialmente auto-determinante.”

Viktor Frankl.

“Não tomar uma decisão já é uma decisão Não fazer uma escolha já é uma escolha.”

Kierkegaard

Ainda neste capítulo temos a definição de que a disciplina tem por objetivo ensinar-nos a fazer o que não é natural. Através da disciplina podemos fazer com que o natural se torne natural, se torne um hábito. Somos criatura de hábitos e para tal alguns estágios são necessários para adquirir novos hábitos ou habilidades, pois os hábitos e as habilidades geram comportamentos aplicados a liderança. Assim, o autor elenca os quatro estágios, a saber: Estágio um, Inconsciente e sem habilidade; Estágio dois, Consciente e sem Habilidade; Estágio três, Consciente e habilidoso e Estágio quatro, Inconsciente e Habilidoso.

No capítulo sete, “A Recompensa” o tema central é o resultado do esforço. Fé, esperança e amor são os motes principais e o autor cita o apóstolo Paulo para poder “pregar” aonde for e usar a palavra quando for necessário. Ressalta que as coisas não são o que parecem ser, pois não vemos o mundo como ele é: nos vemos o mundo como nós somos.

Ressalta ainda neste capítulo que missão, objetivo, visão são fatores determinantes para o sucesso de todo e qualquer empreendimento humano. Nossas vontades e nossos desejos e poderão ser satisfeitas a partir do momento que nos colocarmos em movimento de crescimento pessoal, evoluindo para a maturidade psicológica e espiritual. Um trecho a destacar neste capítulo “Amar aos outros nos faz sair de nós mesmos. Amar aos outros nos força a crescer”.

No epílogo, o reforço e a aprendizagem maior de toda esta leitura, fascinante e tão bem recomendada: apenas uma primeiro passo em uma nova jornada.

HUNTER, James C. O monge e o executivo: uma história sobre a essência da liderança. Editora Sextante, Rio de Janeiro, 2004.