A COESÃO E A COERÊNCIA TEXTUAL

FIORIN, José Luiz; SAVIOLI, Francisco Platão. Lições de texto: leitura e redação. 2ed. São Paulo: Ática, 1997.

A COESÃO E A COERÊNCIA TEXTUAL

Este trabalho visa discorrer a respeito de um livro de Fiorin e Savioli (1997), que trata de análises de uma importância à construção e desenvolvimento da proficiência da “leitura e produção textual”, vistas nas lições 24 e 25 de tal livro.

Os termos “coesão” e “coerência textual” são muito freqüentes na linguagem como participantes do processo de “produção textual”, mesmo assim, muitos os usam sem saber da real atribuição de seus nomes. Definida sinteticamente, “coesão textual” é a “união” entre palavras, expressões ou frases, ordenada por intermédio de elementos formais. Fiorin e Savioli (1997) situam as coesões do tipo: “retomada de termos, expressões ou frases já ditos ou a sua antecipação”; “encadeamento de segmentos do texto”.

Os “anafóricos” (termos que se propõem a retomar outros) e “catafóricos” (termos que se propõem a anunciar outros) são encontrados na “coesão por retomada ou antecipação”. Os autores citam haver na “coesão por retomada ou por antecipação”: retomada ou antecipação por uma palavra gramatical (pronomes, verbos, numerais, advérbios) e retomada por palavra lexical (substantivos, verbos, adjetivos).

Quanto ao uso de anafóricos, entre as observações feitas por Fiorin e Savioli (1997) acerca do uso de anafóricos, uma que merece destaque, por produzir descompassos visíveis de entendimento da mensagem é a “ambigüidade”. Pode ocorrer, facilmente, ambigüidade quando um elemento anafórico refere-se a dois termos antecedentes. Na sentença: “A campanha do famoso jornalista em favor do presidente levou-o ao “desentendimento com o jornal”, fica dúbio o sentido, não se sabe quem foi levado ao desentendimento, se o famoso jornalista ou o presidente.

Os termos neste parágrafo explicados constituem recursos de “coesão por palavra lexical”. O hiperônimo é um termo relacionado a outro de modo a conte-lo: flor é hiperônimo de rosa, pois o significado de rosa está contido no de flor (toda rosa é flor); hipônimo é um termo relacionado a outro, do tipo “está contido/contém. A antonomásia substitui um nome comum por um próprio e/ou o contrário: é quando, por exemplo, alguém fica famoso por um detalhe marcante, passando a ser chamado por este “detalhe” e não mais pelo próprio nome (Joaquim Silvério dos Reis, ao invés de traidor). Elipse corresponde à “omissão” de um termo da frase; podendo este ser recuperado no contexto, seu uso evita repetições, como se vê na frase “Maria foi ao teatro, dançou, encantou a todos e foi para casa dormir”. O sujeito dessa frase toda é Maria, ficando o nome Maria subentendido (omisso graficamente) em toda a oração, marcada com vírgula.

Conexão (assinalada por conectores, palavras responsáveis pela ligação) e justaposição (caso em que a coesão é estabelecida pela seqüência do texto, com ou sem seqüenciadores, ou seja, possuindo ou não conectores, o enunciado proposto é coeso, oferecendo sentido a partir da pontuação) são divisões da “coesão por encadeamento de segmentos textuais”.

Ainda discorrendo acerca de operadores (conectores) Fiorin e Savioli (1997) apresentam um “rol” destes termos, mostrando suas possíveis “adequações” de modo a não oferecer ambigüidade no texto ou enunciado. Pode-se usá-los, por exemplo, para introduzir um argumento decisivo, apresentando um tipo de acréscimo (aliás, além do mais); para generalizar ou amplificar o que foi dito anteriormente (de fato, realmente); especificar ou exemplificar o que foi dito anteriormente (por exemplo, como).

A justaposição é feita perante o uso de operadores de seqüenciarão, podendo enumerar-se estes em: marcadores de seqüência temporal (um pouco mais cedo, uma semana antes); marcadores da ordenação espacial (à esquerda, na frente); especificadores da ordem dos assuntos no texto (principalmente, finalmente); introdutores de temas para se mudar de assunto em conversações (voltando ao assunto, fazendo um parêntese).

Na lição 25, aborda-se a “coerência” como a relação estabelecida entre as partes textuais, na criação de uma unidade de sentido. Apontam Fiorin e Savioli (1997, p.396) que “a coesão diz respeito ao encadeamento linear das unidades lingüísticas presentes no texto”, ao passo em que a coerência “decorre das relações de sentido”, podendo ser dividida em: narrativa; argumentativa; figurativa; temporal; espacial; quanto ao nível de linguagem usado. Os autores ainda afirmam que a coerência (p.396): “é um fator de interpretabilidade do texto, pois é ela que possibilita a atribuição de um sentido unitário ao texto. Está relacionada, portanto, à sua organização subjacente”.

A “coerência narrativa” decorre das evidências observadas nas partes narradas; constitui incoerência afirmar que uma pessoa sem pernas dançou toda a noite, dando saltos de alegria com seus sapatos de salto. Na “coerência argumentativa”, as relações de causa/conseqüência devem estar bem articuladas para concluir-se algo. Dizer, por exemplo, que “a lua é um astro e é branca. Portanto, todos os astros são brancos” é incoerente.

A “coerência figurativa” é construída pelo “arranjo adequado entre as figuras” que tecem o enunciado. Constitui incoerência, nesse sentido, dizer que “todo peixe fica agressivo durante a gravidez”, sabendo-se que peixe não engravida. Em “coerência temporal”, o que se espera é uma lógica temporal, de começo, meio e fim das ações (não é coerente lavar o arroz para depois catá-lo). A “coerência espacial” é distinguida pelo nexo de espaço (não é coerente dizer que se fizeram todos os exercícios físicos no club enquanto estava no banheiro de casa). “Coerência no nível de linguagem” é a que oferece estabilidade de expressão entre os interlocutores (não é coerente conversar com o Presidente da República, numa situação de formalidade, iniciando com o tratamento Vossa Excelência e terminando por “compadre”).

Significados coerentes, segundo os autores aqui abordados, são produzidos/entendidos pela apreensão que se faz no tocante ao contexto; situação de comunicação; regras do gênero a que o texto pertence; intertexto.

Fiorin e Savioli (1997, p.405) observam, nesse sentido, que em dados textos: “a quebra de coerência visa à criação de certos efeitos de sentido, ou seja, há textos em que propositadamente se constroem incoerências, para criar um dado sentido, ou que fazem da não-coerência o princípio da geração de sentido”. Ao se falar de uma festa com a aparente “incoerência figurativa”, em que detalhes pertencentes à descrição da alta classe misturam-se à música de Agnaldo Timóteo e ao samba, o emissor pode ter lançado pistas de que o anfitrião da festa era um noivo rico, todavia, sem pose para as finezas.

Então, é de suma importância que se analise os efeitos de coesão-coerência para que se possa compreender e/ou criar situações como “agentes críticos na sociedade”. Isso tem como requisitos: uso de conectores adequados, contexto argumentativo e temporal conforme o que se quer desenvolver no assunto; a formulação não enfadonha dos fatos, de modo a produzir interesse e sedução pelo que se aborda.