O SINISTRO MUNDO DO CORTIÇO.

O Cortiço livro de Aluízio Azevedo é uma das obras realistas de maior importância para nossa literatura, nele está presente todas as características louvadas no realismo. Presenciamos minuciosamente todos os detalhes do que se passa no local, ou seja, no cortiço devemos a isso as grandes descrições feitas, ao lermos parece que já conhecemos pessoalmente cada personagem falado na trama. A linguagem é simples com alguns termos em francês mostrando a influência que a França teve na origem do realismo tendo sua gênese em Madame Bovary, de Gustave Flaubert. O Cortiço nos mostra as várias pessoas de diferentes credos, países e culturas diferentes vivendo em um mesmo ambiente.

A obra é narrada em terceira pessoa, com narrador onisciente, ou seja, que tem conhecimento de tudo notamos, isso pois sabemos dos pormenores que acontece no cortiço nem um personagem passa despercebido ao olhar do narrador, exemplo disso é a descrição com riqueza de detalhes do assassinato de Firmo amante de Rita baiana por seu novo “amor” Jerônimo.

O tempo é trabalhado de maneira linear, com princípio, meio e desfecho, não tem precisão de datas. Tudo é descrito naturalmente sem privilegiar nenhum personagem, fato que nos entristece, pois como sempre preferimos algum personagem e então queremos que este tenha as maiores cenas relatadas.

São dois espaços explorados, tendo o primeiro o cortiço, amontoado de casebres mal construídos, onde os pobres vivem. Junto ao cortiço estão à pedreira e a taverna do português João Romão. O segundo espaço que fica ao lado do cortiço é o sobrado do comerciante Miranda. Esses espaços surgem para delimitar nas entrelinhas as classes sociais os “miseráveis” vivendo no cortiço e a “burguesia” vivendo no sobrado.

Um fato de estrema relevância e que deve ser defendido no cortiço é como Aluísio Azevedo transforma o ser humano em apenas um animal sem razão influenciado apenas por seus instintos depravados e escandalosos.

Ninguém é puro todos possuem defeitos isto é fato, mas a ênfase que é dada no cortiço é apenas aos defeitos, a pessoa mais pura aparentemente era Pombinha, mas no desfecho de sua história a conhecemos realmente.

É como se todas as coisas piores fossem jogadas naquele cortiço. Há de tudo desde uma simples fornicação até um suicídio, todas as mazelas foram relatadas sem escândalos, tudo é presenciado com muita naturalidade. O pior do homem é visto, é comentado, mas parece que nada aconteceu para aqueles moradores, eles estão acostumados aquele mundo miserável onde suas dores não são ouvidas e se consolam se embriagando e vendo a sua juventude e beleza acabarem.

A obra mostra a mistura de raças em um mesmo meio, levando a promiscuidade sexual, moral e na completa degradação humana. O meio trata de corromper a todos, parece existir naquele singelo cortiço uma maldição em que todos ao morarem lá terão seu pior lado mostrado sem dor nem piedade.

Ocorre da parte do autor uma leve alfinetada aos brasileiros e uma grande defesa aos portugueses, notamos isso ao lermos que o português Jerônimo ficou como os povos brasileiros preguiçosos e gastadores.

Devido o Cortiço ser uma obra realista ele trás consigo características marcantes desta escola como veracidade, nada é escondido tudo é falado sem o maior pudor, descrição da realidade retrato fiel das personagens sem preferência a nenhum, lentidão na narrativa, mulheres objeto de prazer, linguagem simples, natural, clara e equilibrada.

Este livro e todos os seus defeitos escondidos em seu interior deveriam ser mais um guia de como não fazer determinadas coisas ou aos mais oportunistas um guia de tirar vantagem do mais inocente ou burro como queiramos chamar.

É impressionante como uma simples obra possa relatar de tantos fatos marcantes, fornicação, adultério, prostituição, alcoolismo, oportunismo, vida de aparência, pobreza, falta de educação, modos e total falta de saneamento básico, avareza. Podemos comparar esses moradores como seus pássaros engaiolados, vivendo uma vida medíocre.

Notamos os passos das mulheres rumo a sua independência, muitas sustentam a casa sosinhas, outras ajudam marido e outras vêem casamento apenas como algo insignificante assim como Pombinha percebeu faltando poucos dias de se casar.

O mundo deturpado do cortiço mostra o quanto somos influenciados pelo meio, além de comprovar que nos fazemos de “certinhos’ porque a sociedade prega isto e não é por sermos naturalmente bons, somos imperfeitos , estamos cada vez mais fugindo da perfeição encontrada no paraíso de Adão e Eva.

Podemos finalizar afirmando que Aluízio Azevedo retratou de uma forma real e muita naturalidade todos os podres e imperfeições existentes nos seres humanos, fatos que queremos ignorar e deixar para era da caverna mais continuamos passando pelos mesmos apertos e erros cometidos naquele humilde cortiço.

Beba Almeida
Enviado por Beba Almeida em 11/03/2011
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