Aventuras nas Águas do Mar

LONDON, Jack. O lobo do Mar. São Paulo. Martin Claret, 2004. 318p.

José Nicolau da Silva Neto

1-Credenciais do autor

Jack London foi um autentico aventureiro. Descendente de uma família pobre, este teve uma infância complicada em Oakland, situada no baú de São Francisco, isso teve um grande peso no ato do mesmo abandonar a instituição de ensino ainda tão jovem, mais especificamente aos quatorze anos para trabalhar em uma fabrica de enlatados. A partir desse contexto e, ou, dessa situação, ele exerceu diversas profissões, dentre estas pode – se mencionar: Jornaleiro, varredor, balconista etc. No período da adolescência passou por uma experiência muito delicada, complicada, sendo funcionário em uma empresa de tecelagem juta. Aos dezesseis anos London ao retornar de sua primeira viagem em alto mar, viagem essa que teve como destino o Japão, o mesmo viu-se numa situação financeira extremamente difícil. Não obstante, um conto sobre um tufão na costa japonesa, onde o São Francisco Morning Call o premiou com 25 dólares, sendo assim, a sua situação econômica ganhou uma nova forma.

Em 1884, depois desses fatos acima referidos contribuíram para que Jack London tivesse uma vida, ou pelo menos parte desta conturbada, este fez novas amizades que o fizeram a se voltar para o caminho das aventuras e, dessa forma, no mesmo ano, ao visitar as quedas foi privado de sua liberdade por vagabundagem e, logo em seguida transferido para penitenciaria de nova Iorque. É valido frisar nesse contexto que esses novos fatos, essas novas experiências contribuíram de forma decisiva para que o americano não comungasse e, ou, fosse opositor das idéias capitalistas, levando – o a aderir as idéias socialistas. No ano de 1897, no Canadá, passou – se para o rol dos escritores. Jack London tornou – se um escritor romântico famoso e influente. Seus romances discorrem quase sempre o antagonismo acentuado entre a individualidade e a coletividade, as competições inerentes aos indivíduos. Percebe – se em suas obras a nítida impressão de um homem movido por idéias que abordam reformas de cunho social, London era um escritor que enfatizava em suas obras, em particular, no Lobo do Mar, o mundo não de sonhos, enxergava a realidade tal como ela é, conflituosa, cheia de antagonismo, isto é, ele era um autentico materialista, privilegiava os fatos. Ainda pode – se dizer que London se diferenciava de seus sucessores exatamente porque preferia os perigos naturais, como por exemplo, as geleiras em alto mar e as selvas tropicais.

Diversas são as suas obras, dentre essas pode – se mencionar:

• O Chamado da Floresta (1903);

• O Lobo do mar (1904);

• O jogo (1905)

• Caninos Brancos (1906)

• Antes de Adão (1907)

• Aventura (1911)

• A praga escarlate (1912)

• O andarilho das estrelas (1915)

Jack London conviveu durante muito tempo com uremia, suicidando-se no dia 22 de novembro de 1916, aos 40 anos, ingerindo uma overdose de morfina em sua residência, na Califórnia.

Ainda é preciso frisar que o autor nesta obra, O lobo do mar foi e, ou, teve inspiração nas concepções, nas formas de pensar de Karl Marx, Friedrich Nietzsche, bem como também pelas ideologias de Darwin.

2-Metodologia do autor

Jack London se valeu nesta obra do método denominado de dialética, haja vista que ele a todo momento sempre privilegia os vários pontos de vista dos personagens, as diversas concepções ideológicas de cada um mediante os debates e, ou, os diálogos, logo, a dialética foi o método de abordagem predominante. Ainda é valido frisar neste contexto que o método de procedimento utilizado foi o comparativo e a técnica utilizada se deu mediante os privilégios das distintas atitudes, diversas ações e, ou, opiniões, ou seja, por intermédio das escalas do modo de ver e pensar dos personagens.

3-Indicação

Este é um trabalho muito valioso por seu rigor teórico, bem como também metodológico. É uma obra rica sobre diversos aspectos e, se assim é, pode ser analisada por leitores em seu sentido amplo, quais sejam: estudantes, graduandos, especialistas, etc. Lembrando que ele proporciona leques para os estudos d literatura, história, filosofia e sociologia.

4-Resumo Critico

A proposição que será abordada agora e, evidentemente discorrida, tratar-se á de “O Lobo do Mar” do romancista americano Jack London. Ele nesta obra, por se tratar de um romance, descreve esta historia de forma bem devaneadora, com uma imaginação caprichosa, isto é, bem fantasiosa. Mas é Preciso lembrar aos leitores que forem ter o primeiro contato com esta produção e, ou, com este trabalho literário que não se deixe enganar ao folhearem as Primeiras páginas da obra, uma vez que não é um simples romance, como poderá ser percebido nas linhas que se seguem desta breve exposição.

Comecemos analisando o trabalho de Jack London passando de início a examinar os personagens inseridos nesta história, acreditando que desta forma facilitará e, ou, contribuirá para uma melhor compreensão desta obra. É válido frisar neste Contexto que vários são os personagens que compõem esta produção, não obstante, demos créditos a três, quais sejam: Humphrey Van Weyden, Miss Brewster e Lobo Larsen, sendo que a partir deste se desenrola toda a história, bem como também, faz com que ao analisar as visões de mundo de cada um destes que figuram nesta proposição percebamos que ela vai além de uma simples aventura em alto mar, de um mero romance composto de sonhos. Diante disso, ou ainda, mediante isso, podemos então começar afirmando que Humphrey Van Weyden pertencia a um contexto civilizado (se é que podemos assim dizer), era um homem que tinha uma formação, um ser que por ser estudado tinha uma visão baseada em idéias sentimentalistas, enfim, era um homem que jogava com idéias sobre a vida e tudo que nela há. O mesmo pode-se afirmar de Miss Brewster, uma mulher que com sua presença colocará mais ânimo, mais sentimentalismo e porque não dizer aguça mais os debates que se passam nesta historia. Já Lobo Larsen é o ponto do desacordo, das distinções entre concepções de mundo. Este personagem possui uma personalidade forte, forte também é a sua aparência física, ele será visto por todos os personagens como um selvagem, metendo medo a todos os tripulantes apenas no seu olhar, bem como também no seu jeito de comandar. Lobo Larsen como já se deu pra perceber era o chefão do barco e, tinha uma visão de mundo que baseava-se única e exclusivamente nos fatos, ele era um autêntico materialista. Conhecendo a forma como pensava esses personagens podemos então, adentrar verdadeiramente no desenrolar dos fatos. De forma bem simples e objetiva “O Lobo do mar” como já foi discorrido em linhas anteriores não é apenas um simples romance, essa historia é muito complexa, haja vista que aborda diversas questões relevantes pra serem discorridas e, que possuem grande peso ainda nos dias atuais. Fala-se de quase tudo nesta obra: Religião, poder, sentimentos, o valor da vida, e ou, o sentido que cada um dá para ela, de dinheiro, dos conceitos de bem e do mal, da natureza humana, enfim, Jack London com enorme criatividade conseguiu frisar em um único livro todas as questões referidas acima de forma simples e com uma linguagem clara movido pelas concepções e, ou, estimulado pelos pensamentos de Marx, Nietzsche e Darwin.

O que pode ser destacado deste estudo é, evidentemente, uma briga, luta constante entre dois mundos, dois víeis. È perceptível ainda uma constante sustentação de discurso de forma antagônica principalmente entre Lobo Larsen, o comandante do navio e Humphrey Van Weyden. Se assim é, pode-se dizer que “Ghost” é o navio onde tudo se processa nesta aventura.

A forma como Humphrey adentrou no “Ghost” foi fruto de uma colisão entre o barco que ele vinha e o comandado por Lobo Larsen. A partir daí começa uma nova fase na vida do estudioso Humphrey, fase essa difícil, conturbada e, que fará com que ele passe a enxergá-lo de outro prisma. Ele que vivia cercado de pessoas que possuíam uma forma de ver, interpretar a realidade por viés sentimental e, com o desenrolar dos fatos ele perceberá que o mundo não era bem o que ele imaginava nas quatro paredes da universidade. No seu contato com Larsen e, vendo a maneira como este tratava os seus companheiros, dirá a este que na vida prevalece à vontade do mais forte. Humphrey, sentimentalista e que tinha como filosofia de vida o acreditar sempre no despontar do amor e que este sentimento seria o ponto máximo a ser atingido.

Já para o comandante, que se apoiava nos fatos, o que importava era a concretude da vida, o resto não possuía o menor sentido. Não obstante, como já deu pra perceber que toda historia se desenrolou desta forma, isto é, de combates de idéias, de maneiras antagônicas de enxergar a realidade. Um é provido de víeis sentimentais, emocionais, de vê-la como algo sagrado. Já o outro lida com dados concretos, a ver como ela realmente é, ou seja, de umas explorando as outras para se beneficiar, não enxergando no outro seus direitos. Lobo Larsen com suas atitudes acaba por mostrar idéias de um mundo capitalista, onde o que interessa é a superexploração do trabalho, ou melhor, da força de trabalho. Percebe-se aqui, que o mundo capitalista a qual estamos inseridos o que predomina é o lucro e, que para atingir esse objetivo (tudo isso é perceptível nas atitudes de L. Larsen para com seus colegas de viagem) uns se utilizam do poder, da dominação e trata os outros como objetos de forma hostil e bruta. Com isso e, ou, mediante isso passa-se a não ver no outro os seus direitos, passa a não ver o companheiro como sujeito, isto é, não respeitando o principio de alteridade. Sendo assim, acompanhando esse aspecto dominador e uma briga constante pela vida é que faz com que Humphrey ao encontrar uma companheira sua, pelo menos na forma de pensar fará com que ele passe a agir como todos os outros, sempre procurando uma forma fugir daquele ambiente. Esta pessoa é Miss Brewster, mulher que ele se apaixona e, de tanto insistirem acabam fugindo e sendo resgatados. No capitulo 24, pag. 200, temos uma idéia do que é discutido nesta obra. Vemos nesta pagina, num debate que se processa entre Larsen, Humphrey e Brewster as oposições entre a razão e emoção:

E Larsen meneava a cabeça, ponderando.

- freqüentemente duvido do valor da razão. Sonhos devem ser mais substanciais mais gratos ou nosso s deleites emotivos superam nossos deleites intelectuais; alem disso agente paga o deleite intelectual com o tédio, a tristeza azul. Já o deleite da emoção traz apenas o cansaço dos sentidos que o descanso cura eu os invejo sim.

Na mesma pagina ele explicita seu raciocínio afirmando “é o meu cérebro que os inveja, note bem nunca o meu coração. Minha razão produz essa inveja. Vem do intelecto. Vivo qual um homem que não bebe e tem em torno de si bêbados felizes.Ele não pode fazer o mesmo”.

Como já foi frisado, diversos são os assuntos relatados aqui, quais sejam: a liberdade, o espírito livre e a servidão, mais uma vez sob um debate de ponto de vistas distinto. Se assim é, Lobo Larsen utilizando a religião como suporte diz “Lúcifer lutava por uma causa perdida e não se temia os raios de Deus. Projetando no inferno, não se deu por vencido. Levou um terço da legião dos anjos e incitou o homem a rebelar-se contra Deus, conquistando para si e para o inferno a maior parte de todas as gerações humanas”. (pag. 221). Com isso Larsen queria deixar claro o valor da liberdade, do espírito livre, tomando como exemplo Lúcifer. Mas para Miss Brewster, Lúcifer não foi um espírito livre, foi um autentico rebelde. Ao completar deu raciocínio a esse respeito ela discorre “O primeiro anarquista, desse Molde sorrindo e erguendo-se para se recolher”. (p.221). Enfim, muito poderia ainda ser frisado sobre “O Lobo do mar”, não obstante, espero que essa breve síntese possa contribuir para aguçar o desejo de quem ainda não teve contato com este trabalho, lê-lo.