Correr - de Jean Echenoz

Poucas páginas, letra grande, espaços generosos entre linhas e capítulos. Frases curtas e muito diretas. A leitura é simples e rápida. Indiscutivelmente agradável. Fica aquele tradicional gostinho de quero mais. Mais detalhes, mais informações. O livro é muito bom, mas parece um grande resumão! Que estimula a leitura da obra completa, mas deixa os curiosos sem maiores respostas.

O livro informa que, inicialmente, Emil Zatopek horrorizava todo tipo de esporte, revelando até mesmo desprezo pelos colegas que gastavam tempo chutando uma bola. A característica era influência paterna. Os primeiros passos no atletismo foram compulsórios. A corrida era classificada como o “suprassumo do gênero”, desperdício completo de tempo e de dinheiro. Definitivamente um perfil improvável para se tornar um dos maiores mitos das corridas em todos os tempos. Observação importante: essa grafia com SS foi transcrição exata do texto.

Um amigo meu, anti-esportista nato e militante, garante que, em breve, haverá grande quantidade de clínicas de recuperação psicológica para corredores, acometidos pelo vício quase irrecuperável. Ironicamente preocupadíssimo, ele alega que não tem aversão aos esportes, mas às atividades que causam dependência. Magro e estranhamente com tipo físico de corredor, ele pode ser um medalhista olímpico com potencial não realizado... Ou um corredor acidental, no sentido do acaso, claro!

A marca registrada de Zatopek era sua expressão facial, dominada por assustadoras caretas, que demonstravam o grande esforço que fazia na corrida. Contrastava com alguns concorrentes, que destacavam-se pela leveza dos passos ou pela elegância do estilo. Antes e depois das vitórias, simpatia e largo sorriso.

Emil escapou de dura rotina em fábricas para seguir a carreira militar, catapultada pelo sucesso nas pistas. Medalhas e recordes eram refletidos em postos na hierarquia militar e estrelas no uniforme.

Em momentos diferentes, na França e no Brasil, o corredor deu declarações elogiosas em relação aos países, radicalmente alteradas pela imprensa comunista tcheca. Lembro de uma anedótica - mas não necessariamente fantasiosa! – história atribuída ao jornal soviético Pravda. Em uma disputa automobilística entre um automóvel russo e outro estadunidense, após a flagrante vitória ocidental, noticiou-se que os soviéticos ficaram em segundo lugar, quando os americanos amargaram a penúltima colocação!

A seguir, conto o final da história. É fato conhecido, mas se quiser ler o livro, pare por aqui.

Em momento de possível abertura política, o corredor manifesta-se de modo crítico ao partido. Em conseqüência, perde seus privilégios militares e é obrigado a trabalhos duríssimos e degradantes. Tempos depois, por ser um ilustre herói nacional, é promovido ao posto de lixeiro. Andando pelas ruas, é aclamado pela população, em momento que a exposição midiática ainda era muito reduzida. Uma justa homenagem à chamada locomotiva tcheca, considerado por muitos especialistas o maior fundista de todos os tempos. Boa leitura!

ARunning
Enviado por ARunning em 09/06/2011
Código do texto: T3024160
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