manifesto comunista

O MANIFESTO COMUNISTA DE KARL MARX E FRIEDRICH ENGELS

Uma leitura crítica

Regina Roppa Evilasio

Na edição alemã do Manifesto, 1872, em seu prefácio, Marx e Engels apontam que “a imigração européia foi que possibilitou à América do Norte a produção agrícola em proporções gigantescas, cuja concorrência está abalando os alicerces da propriedade rural européia [...] e ainda que deu aos Estados Unidos da América a oportunidade de explorar seu potencial industrial que em breve arruinarão o monopólio industrial da Europa, especialmente, da Inglaterra. No prefácio da obra em 1883, após a morte de Marx, Engels considerou relevante reforçar que “o pensamento do Manifesto é que em toda época histórica a população econômica e a estrutura da sociedade constituem a base da história política e intelectual dessa época.” Aponta que a luta de classes tem sua história e que atingiu tal ponto que a classe oprimida, operária, não consegue se liberar da classe opressora, burguesa, sem que se faça a libertação, para sempre, de toda a sociedade em relação à exploração, pensamento este, atribuído exclusivamente a Marx.

A sociedade burguesa moderna surgiu da decadência da sociedade feudal, porém manteve o antagonismo de classes, com novas formas de opressão e novas lutas. Essa nova sociedade é produto de uma série de revoluções que aconteceram ao longo da história.

A burguesia substituiu a exploração encoberta pelas ilusões religiosas e políticas do sistema feudal, pela exploração direta, aberta, única e brutal. Dessa forma, a necessidade de expansão do mercado faz com que a burguesia estabeleça-se em toda parte do globo, uma forma de globalização, pois cria vínculos em toda parte. Desenvolvem-se interdependências universais tanto na produção material como intelectual. “As criações intelectuais de uma nação tornam-se propriedade comum de todas” (p.29). Com o fim da exclusividade, surge a literatura universal.

Essa ideia de globalização é muito similar à situação que nos deparamos na atualidade. Já não se pode mais considerar uma identidade exclusiva para os países.

Segundo os autores, a burguesia fornece ao proletariado as armas contra ela própria, ou seja, a politização, porém, tem-se a impressão que quando o proletário se politiza esquece-se de sua condição anterior e torna-se plenamente burguês. O proletariado, atualmente, não resiste como antes, como classe revolucionária. Ele foi pego pelas armadilhas do sistema capitalista atual e se rendeu aos encantos do poder. Dessa forma, quando os autores defendem que “O que a burguesia produz principalmente são seus próprios coveiros. Sua queda e a vitória do proletariado são igualmente inevitáveis” a que se questionar, pois percebe-se que as condições mudaram para o proletariado, mas ainda a burguesia não foi derrotada.

Na visão dos autores ser capitalista é ocupar uma posição pessoal na produção e também uma posição social, considerando que o capital é uma força social e não pessoal, um esforço coletivo que só pode ser posto em movimento pelos esforços combinados de muitos membros da sociedade.

Criticam os socialistas burgueses que querem, para eles, a burguesia sem o proletariado, convidando o proletariado a permanecer na sociedade, porém eliminando seu ódio contra a burguesia.

Leon Trotsky aponta como erro de Marx e Engels a subestimação das possibilidades posteriores inerentes ao capitalismo e superestimação da maturidade revolucionária do proletariado, porém Marx defende que nenhuma ordem social deixa a cena da história antes de haver esgotado todas as possibilidades, e aí também não se pode ignorar que as possibilidades de mudanças sociais são ilimitadas, uma vez que o homem tem a capacidade de transformar a natureza e a si próprio

Mas o modo como a sociedade se apresenta, na atualidade, mostra que as ideias de Marx e Engels não vingaram do modo como queriam. Foram distorcidas e foi incutido no proletário a possibilidade de tornar-se parte da sociedade dominante, o que se poderia chamar de “novos ricos” ou a realização do “sonho americano”, que alguns denominam sucesso. Implantou-se o capitalismo dentro de uma sociedade que diz prezar a democracia, onde todos têm os mesmos direitos. .

Novaes (1986, p.205) faz uma crítica ao capitalismo dizendo que ele é uma varinha de condão que desencanta tudo que toca e transforma tudo num negócio que visa lucro, pois não respeita o homem. Aponta a impossibilidade de união do capitalismo com a democracia, pois o capitalismo é um sistema econômico baseado na desigualdade, enquanto que a democracia é um regime político baseado na igualdade.

Dessa forma, pode-se pensar que a crítica de Trotsky é coerente, pois os autores do Manifesto não contavam com o tamanho da sedução que o dinheiro e o poder exerceriam no homem. O poder de se sentir superior da forma mais cruel, ignorando e submetendo seus semelhantes.

REFERÊNCIAS

ENGELS, Friedrich; MARX, Karl. Manifesto do Partido Comunista. Instituto Luís e Rosa Sunderman. 2003. Disponível em http://www.pcb.org.br/textos/Manifesto%20Comunista.pdf Acesso em 05/03/2010.

NOVAES, Carlos Eduardo. Capitalismo para principiantes. São Paulo: Ática, 1986.