A trolha


Todo Maçom reconhecerá este enigmático diálogo da trolha, para o que serve e quando ele é aplicado. É o chamado diálogo do Trolhamento, aplicável em todas as Lojas Maçônicas regulares, e aceito como um dos Land Marks da Instituição (regras reconhecidas pela Maçonaria mundial). 
As perguntas e as respostas desse trolhamento resumem a filosofia praticada na Ordem e a sua finalidade. As perguntas buscam verificar a origem de um Irmão que visita uma Loja que não é a sua, e as respostas mostram que ele está a par da linguagem maçônica e das tradições que ligam os seus membros. Essa tradição é milenar. Foi adaptada das antigas Lojas de maçons operativos, cujos segredos profissionais só eram transmitidos por iniciação e cuja interação entre seus membros eram realizados através de uma linguagem secreta que somente os membros de cada Loja conheciam. Assim, quando um profissional da construção, reconhecido como tal, se apresentava em um canteiro de obras, ele passava um interrogatório semelhante, para fins de aquilatar se ele era mesmo do ramo ou não. Na tradição medieval, esse inquérito era conhecido como “telhamento”, um inquérito de cobertura, no qual se visava “cobrir”, ou seja, resguardar contra elementos estranhos, os segredos da Loja.
A idéia de simbolizar esse costume através da trolha ─ típica colher do pedreiro ─ foi um processo metonímico natural, muito próprio da tradição maçônica. A trolha, sendo uma ferramenta de pedreiro, cuja função é espalhar a argamassa com que se ligam os tijolos que irão compor o edifício, foi vista pelos pedreiros morais, que se tornaram os maçons especulativos, como um símbolo apropriado para representar a idéia de “espalhar” a ligadura, ou seja, o elemento de fraternidade e apreciação que deve existir entre todos os irmãos. Assim, quando o Irmão responde a um trolhamento, ele está demonstrando que está devidamente “ligado” aos Irmãos da Loja visitada pelos mesmos elementos culturais. Não a vemos como símbolo da tolerância, como é usual encontrarmos em trabalhos realizados em Lojas, e inclusive publicados em obras escritas por outros autores.(2)  Na verdade, a tolerância é uma virtude que está vinculada a flexibilidade com que aprendemos a conviver com a realidade do mundo. Nesse sentido, a trolha, colher de pedreiro, com a qual se espalha a argamassa que faz da Maçonaria um edifício único, na nossa visão, simboliza muito mais a unidade e identidade que existe, ou deveria existir, entre os irmãos.
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1.Land Marks, literalmente significa “marcas de terra”. Originalmente eram estatutos que os antigos senhores feudais europeus concordavam em observar para evitar as constantes guerras entre eles. Na Maçonaria significa o conjunto de regras observáveis pelas Lojas maçônicas.
 2. Nicolas Aslan e Rizzardo da Camino, por exemplo.

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RESUMO EXTRAÍDO DO LIVRO " LENDAS DA ARTE REAL- N0 PRELO

 
João Anatalino
Enviado por João Anatalino em 31/07/2011
Reeditado em 20/12/2016
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