Quarto

Li o livro Quarto. A história, uma ficção americana, é muito, muito boa. A história da Mãe é contado pelo filho, um menino de cinco anos, que começa a contá-la  no dia do seu aniversário, comemorado num Quarto, forrado com cortiça, inacessível aos de fora e, ninguém imagina que lá dentro daquele cômodo existem duas pessoas trancadas incomunicáveis; é  impossível sair de lá.

Jack é o nome do menino, cuja Mãe foi sequestrada há sete anos e violentada diariamente por Nick, homem frio e mau. Após muita resistência e luta ela chega a conclusão que para se salvar, se manter viva, era preciso ceder àquele homem asqueroso.

A Mãe esconde esse filho por cinco anos, do Velho Nick, com medo que ele fizesse algum mal ao filho, fruto do estupro. Jack é o segundo filho que teve; a menina morreu enrolada no cordão umbilical e enterrada em algum lugar do pátio, sem a presença dela. Quando Nick aciona a fechadura eletrônica  do Quarto a noite não vê o garoto que já está trancado dentro do guarda roupa e, lá fica até a hora em que ele vai embora.

A Mãe, nesse lugar, alfabetizou o menino que lê muito bem, conta até números acima das centenas. Para passar o dia ela brinca com ele de rimas, cria brinquedos com restos de embalagens, papeis viram bolas; ensina matemática, medidas ( pé, polegada), mede o menino no chão, na parede para acompanhar seu crescimento. Tudo demonstrando muita cumplicidade e um amor extremado.

A Mãe, como o menino a chama, sabe que aquele ambiente só pode causar muito mal à criança. Que as brincadeiras, os gritos que empreendem para relaxar são nada, pois ele cresce e o espaço só diminui.

A ansiedade que se apossou dele quando viu uma teia de aranha e... o ratinho, de verdade, que julgava existir só na TV, ou personagens das história que a Mãe lia para ele. Tinha horário de TV, para ler, para inventar palavras. Cantar... Cantar num cativeiro! Para contar, medir em polegadas, em pés. Ensinava geografia ali dentro daquele Quarto, sem os recursos tecnológicos de praxe. Ensinava ciências naturais... Impedia o menino de ver certos programas na TV que considerava inadequado... Uma Mãe com dores de dentes por estrarem estragados... Que amamentava o filho...Ainda aos cinco anos.

Ela elabora um plano de fuga e conta com a ajuda do menino que faz tudo certinho.Treinam cada milímetro do plano. Jack finge, finge; fica durinho! Não respira! Ele  primeiro "tem  uma desidratação  e, sem tratamento, piora".  Durante o dia as idas ao banheiro, fingidas, os vômitos, o mal cheiro no ambiente... É enrolado num tapete bem na hora em que o Velho Nick está abrindo a porta. A Mãe  não deixa Nick abrir o tapete "para ele não pôr os olhos na criança" que é colocada numa caminhonete e ( levado para ser enterrado), de lá foge para a rua. E os acontecimentos rápidos da fuga da caminhonete, a rua que ele nunca vira, as pessoas... O pânico de ser pego e não salvar a Mãe! O homem com o carrinho e um bebê, o cachorro que o morde!... 

Entre tantos entraves a polícia é acionada! A tecnologia ajuda a localizar o Quarto que não tinha endereço pois para Jack  ficava noutro planeta. Mas ele se lembra da claraboia... e só este detalhe, no GPS a polícia localiza o Quarto a a Mãe é libertada.

A imprensa faz o maior sensacionalismo, tiram fotos, dela, do menino, do Quarto...Começa outra prisão!

Eles vão para outros Quartos, livres; Clínica psicológica e pesiquiátrica para ela e para o menino. Percebe que não estava mais preparada para tanto auê e que seu filho fora exposto sem nenhum preparo ao Lado de Fora. Ela tenta, na clínica o suicídio e o garoto vai para a casa da avó materna que julgava a filha morta e, cuida do neto até o restabelecimento da Mãe.

Ele conhece primos, tios,  pessoas reais que só via na TV; de repente uma família... O Vopô que de início ajuda os dois, tem paciência...Ele é o segundo marido da sua avó. Seu avô mudou-se para  a Austrália.

A presença do menino constrangeu a todos, principalmente o pai dela que custou muito a aceitar o menino como neto. Jack é apresentado ao Lado de Fora e a tudo que ele tem e se surpreende com tudo.

Os fatos são relatados por Jack de forma simples, na linguagem de criança, inocente e curiosa que está ficando com o passar do tempo.

É uma história envolvente, cheia de conversas alegres do personagem- criança que conta dentes, os dedos das mãos, dos pés, as visitas do estuprador os ruídos que ele faz na cama...Também relatos cheios de dor, de angústia e até pode-se dizer de realismo, visto que já houve relatos de mulheres trancafiadas anos a fio...

A Mãe, o Quarto, a Parede, a Cômoda, a Claraboia etc, , estão escritas em maiúscula. Eram personagem importantes da vida de Jack , que uma vez do Lado de Fora com sua Mãe passou a viver uma vida livre. Livre?  E o medo d e tanta gente, de não saber como falar. Os assombros da mudança súbita nos hábitos de Jack.

O livro me prendeu a atenção do começo ao fim. Os diálogos entre Mãe e Jack são simples e ao mesmo tempo fortes...Impressionam a capacidade da personagem de amar aquele fruto que até a lei autoriza o aborto. Mas Mãe, assim maiúscula, não abortou. Amou, protegeu de toda forma seu filho e, escondê-lo do pai estuprador  foi uma obrigação que se impôs.

Emma Donnoghue tem 42 anos e este livro é Best -Seller do New York Times. Ela já escreveu outros livros e escreve também peças de teatro. Lê-se numa sentada.  São 349 páginas. Livro de 2010 editado pela Editora Verus .





MVA
Enviado por MVA em 02/12/2011
Reeditado em 07/12/2011
Código do texto: T3367788
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