Motoclubes: Campos, Hell's, Abutre's - trecho do livro "DUAS PAIXÔES" 



       Estacionamos nossas motos em frente às janelas envidraçadas do restaurante ao mesmo tempo em que chega ao posto um grupo de motociclistas do Rio de Janeiro. Todos envergam as roupas costumeiras para se rodar de moto, mas nas costas do colete de couro, uma surpresa: trata-se de membros do moto clube mais antigo em atividade no Brasil, o Moto Clube de Campos em cujo sobranceiro escudo se vê um motociclista e sua máquina, o fogo e a roda – as primeiras grandes conquistas do homem –, e o ano de fundação: 1932. Cumprimentamo-nos uns aos outros, trocamos algumas informações de viagem e acabamos por sentar todos juntos para o almoço. À mesa, a conversa gira sobre a existência dos clubes.
          –– Nosso clube ainda é mais antigo do que o Hell’s Angels –– diz André, o líder do grupo.
          –– É verdade. O Hell’s é de 1948. Foi fundado em San Bernadino nos Estados Unidos depois do fim da guerra –– esclarece outro.
          –– Mas, sem dúvida, o Hell’s é o maior moto clube do mundo –– acrescenta Pardal.
          –– E é mesmo. Tem facções em vários países, principalmente nas Américas e na Europa, inclusive no Brasil.
          –– No Brasil, o maior é o Abutre’s, fundado em 1989. Aliás, é o maior da América Latina; li isso num jornal. É uma grande organização com uma direção nacional e facções na maioria dos estados brasileiros.
          –– E fazem um excelente trabalho social, participando de campanhas de arrecadação de agasalhos e donativos, trabalhando junto com a polícia militar e o corpo de bombeiros no auxílio a vítimas de desastres naturais... –– dei eu a minha contribuição nessa conversa esclarecedora.
          –– Quem os vê barbudos, corpos tatuados, cheios de piercings pelo rosto, bandanas pretas na cabeça, escarranchados sobre aquelas enormes motos de cor ocra e triciclos de aspecto monstruoso, não imagina que por trás dessa imagem de badboys exista um grupo preocupado com filantropia –– comentou Mael.
          –– Pois é. Mas existe. E querem manter esse jeito nada convencional para estarem de acordo com o slogan deles que é “alma liberta”. Pateta, um dos fundadores da irmandade, explicou-me certa vez em um encontro em Tietê que o nome do clube vem do abutre, uma ave soberana, que passa essa ideia de liberdade, a que voa mais alto, é preta e está em extinção como os verdadeiros motociclistas –– continuou Pardal
          –– Ouvi dizer que têm até uma hierarquia. É verdade isso? –– quis saber André.
          –– Tem mesmo. O cara passa por várias etapas durante sua vida abutre que começa com a indicação da diretoria. Após três meses de avaliação ele passa a ser um “Parceiro”. Com um ano de participação, viagens e comparecimento nos diversos encontros do Abutre’s, vira “Próspero”. Com mais um ano, por indicação e já conhecido pela diretoria, é condecorado “Meio Escudo” e, por fim, numa reunião de diretores, reconhecido pela constante cooperação, recebe a alcunha máxima do grupo que é “Escudado”.
          –– Mas e os Nômades? Ouvi dizer que tem os Nômades –– perguntou um dos membros do Moto Clube de Campos.
          –– Ah é! Tem os Nômades. Os Nômades são os membros mais antigos do clube. Praticamente são os primeiros representantes do clube, aqueles que estabeleceram as regras, que legalizaram os estatutos, os fundadores, enfim –– explicou Pardal, o sabe-tudo.

    

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HFigueira
Enviado por HFigueira em 09/12/2011
Reeditado em 17/12/2018
Código do texto: T3380741
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