“Sobre Deus & eus” - Walter Galvão (aqui publicado com permissão do autor)

Recomendo a leitura da conferência intitulada “Sobre Deus & eus” que o escritor, músico e artista plástico Archidy Picado Filho lançou recentemente em João Pessoa na forma de um pequeno livro produzido pela Editora Ideia.

Gostei do texto. Nos últimos dias me envolvi com o estudo do tema por ele proposto para reflexão - Deus, cultura e identidade - através da leitura de outros dois livros. Um deles, clássico total, é “O sagrado”, de Rudolf Otto, na primeira tradução completa para o Brasil, lançada pela Editora Vozes em 2007 e que só li agora.

O outro, “Espiritualidade para céticos – Paixão, Verdade Cósmica e Racionalidade no século XXI” (Civilização Brasileira, 2003), do filósofo e professor da Universidade do Texas, Robert Solomon.

O de Archidy me trouxe um olhar de agora e daqui muito oportuno.

Por coincidência, uma leitura feita à sombra da notícia da morte do escritor britânico Cristopher Hitchens, considerado um dos últimos livres-pensadores egressos do século XX, e que se notabilizou por uma guerra de guerrilha particular contra a ideia da existência de Deus. Hitchens morreu no dia 15 de desembro de 2011, dia do lançamento do livro de Archidy.

No texto de Archidy, tanto as ideias de Otto – o Deus incomensurável e a irracionalidade como acesso a Ele, e a existência de espaços psíquico-simbólicos e culturais, a exemplo de religiosidade, espiritualidade, sagrado e religião; bem como as concepções de Solomon – espiritualidade como um sentido da vida; ascensão da alma ocidental; a dialética da compreensibilidade do sagrado frente à lógica - estão contempladas, são debatidas, questionadas e expandidas.

Archidy é um místico contemporâneo inspirado pelas ideias de Jung, do Zen-budismo, do crítico George Steiner, da ficção científica e da Ciência, do Taoísmo, além de vivências religiosas familiares.

Na conferência ele traça um roteiro da “aquisição” contemporânea da ideia de Deus e de como esta presença influencia processos culturais. É leitura instigante porque provoca reflexão sobre valores, estados de consciência e construções mentais a exemplo de fé, autoconsciência, transcendência, racionalidade, alma e espírito.

Uma leitura oportuna.