ATÉ TÚ, VIRGULINO?
 
Depois que descobriram o Evangelho Gay, suposto Evangelho gnóstico de Marcos, onde se sugere uma relação homossexual entre Jesus e um jovem, possívelmente o Lázaro que aparece como o ressuscitado do Evangelho de João, nada mais me espanta. Já sabemos que a comunidade gay não mede esforços (nem pesquisas) para aliciar entre seus membros as figuras históricas mais representativas. Isso é um fato. E quando se trata de notórios machões, então, o negócio fica mais saboroso ainda. Alexandre, o Grande, Átila, o Huno, Ricardo, o Coração de Leão, o pistoleiro Billy The Kid e até Adolf Hitler já foram contados no número dos famosos que mantinham um lado “alegre” na vida, talvez para compensar o estresse diário a que eram submetidos em suas ingentes lutas para manter o poder. Afinal, ninguém é de ferro, como diz aquela anedota chula do gaúcho que acordava ás quatro da manhã para tirar leite das vacas, ás seis já estava pilotando o trator para preparar a terra para plantar, depois do almoço percorria toda a fazenda á cavalo para ver se tudo estava em ordem, á tardezinha fazia à contabilidade da propriedade e á noite ia à cidade “dar um pouco de bunda”, para compensar o estresse.

Tudo isso seria apenas anedótico se não houvesse gente que insiste em transformar esse assunto, tão comum e tão simplesmente humano,  em verdadeiras cruzadas de fé. É que agora chegou a vez do terrível cancaceiro Virgulino Ferreira da Silva, o famoso Lampião, rei do cangaço, arquétipo mais bem acabado do machão nordestino, “cabra macho”, que estripava os inimigos, estrupava suas mulheres e filhos e ainda castrava os outros machos para humilhar a concorrência. Pois não é que um juíz de Aracajú, Sergipe, acaba de proibir a publicação de um livro onde o notório rei do cangaço é descrito como homossexual e corno? Pois é, o livro foi escrito um por escritor chamado Pedro de Morais e diz revelar uma faceta desconhecida do notório bandido, terror do sertão nordestino, que viveu entre 1897 e 1938, e no seu rastro deixou mais de uma centena de mortes, algumas delas capazes de fazer corar de vergonha o próprio Jack o Estripador, e causar inveja ao Jason, o serial Killer  da Sexta-Feira  Treze.
Pedro de Morais, em suas pesquisas a respeito de Lampião, afirma ter descoberto que a Maria Bonita – a Anita Garibaldi do sertão− teria colocado um par de chifres no seu temível companheiro, se deitando com um dos bonitões do bando, um tal de Luiz Pedro. Mas o pior é o que tal galã cangaceiro –sobre o qual nunca ninguém tinha ouvido falar−, segundo o autor, não agasalhava somente a Maria Bonita. O próprio Virgulino teria se apaixonado por ele e não poucas vezes se embolou com o dito cujo no silêncio rutilante das noites nas caatingas.
Os descendentes de Lampião, é claro, não gostaram nem um pouco do tal livro. Heresia das grossas taxar o arquimachão Virgulino Ferreira da Silva, vulgo Lampião, de corno e boiola. Matar, estuprar, estripar, cortar línguas, orelhas e culhões dos pobres diabos que lhe resistiam ele pode.  Expulsar à bala e à golpes de peixeira pobres sertanejos sem terra de suas choupanas, a mando de velhos coronéis oligarcas, e confiscar seus parcos bens, isso também é o de menos.  Mas bicha e corno isso não dá para aceitar. Então foram ao juíz da 7ª Vara deAracajú é pediram a suspensão da publicação do livro que se chama “ Lampião− O Mata Sete.”, segundo nos informa Eugênio Bucci ( Revista Época- 5-12-2011). E o juíz, mesmo tendo jurado uma Constituição que garante a livre expressão do pensamento proibiu a publicação do livro. É claro que deverá haver um recurso e outro juíz, talvez menos homófobo que o anterior, poderá remediar esse verdadeiro atentado à liberdade de pensamento que o primeiro magistrado agasalhou.
Bom. Os artistas, os poetas, os intelectuais, os empresários, de modo geral, já se livraram dessa mania de esconder no fundo do armário as suas preferências sexuais.Nunca se viu tanta gente famosa assumindo publicamente o seu lado “alegre.” Políticos vão demorar mais um pouco, mais por hipocrisia do que por medo. Militares, que já constituíram um bastião inexpugnável da macheza, também já começam a desconfiar que não é na preferência sexual que se situa a honra e a virtude do gênero masculino. Os Estados Unidos, em seu código de conduta militar já suspenderam algumas restrições que ele continha contra os homossexuais. 
Afinal, se até o Conde D!eu, porque o Virgulino não pode? Guimarães Rosa, com seus personagens Riobaldo e Diadorim, já havia mostrado que no sertão, como na cidade, não é o sexo dos personagens que os habilita para a experiência do amor, mas sim a atração mútua que vem do fato de serem pessoas. Certo que Diadorim era uma mulher disfarçada de homem, mas quando o temível Riobaldo Tatarana- o lagarta de fogo- se apaixonou por ela ele estava crente que havia se apaixonado por um homem.  
Essa demonstração de homofobia que os descendentes de Lampião deram, e o o juiz de Aracajú apoiou, não cabe mais nos dias de hoje. Afinal, se o escritor que publicou essas informações sobre o comportamento sexual do Lampião difamou e injuriou a memória do famoso cancaceiro, há os remédios jurídicos próprios para serem aplicados no caso. O que não se pode é declarar hombridade por sentença, como fez o ilustre magistrado. Oh! seu juíz, há muita gente que gostaria de ler esse livro. Faça-nos o favor.      
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Sobre o livro Lampião- o Mata-Sete- de Pedro de Morais, cuja publicação foi proibida por sentença do juíz da Vara Cível de Aracaju conforme  informa Eugênio Bucci, Revista Época- Dezembro de 2011. 
 
 
João Anatalino
Enviado por João Anatalino em 09/01/2012
Reeditado em 10/01/2012
Código do texto: T3430690
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