Lya Luft – Perdas & Ganhos

Lya Luft – Perdas & Ganhos

Sempre me falaram da Lya com certa dose de ressalvas. Em comunidades e fóruns de discussão seu nome vinha ao lado de “escritores” como Paulo Coelho. Não que eu ache o Paulo ruim, ele só não é nada bom, em termos de literatura, suas mensagens podem ser, mas não são passadas de uma forma que podemos dizer que seja literária.

Voltando a Sra. Luft. Nunca li nenhum de seus romances, e até que um deles caia em minhas mão digo que não pretendo ler, minha fila de livros já comprados para ler é gigantesca. Mas esse perdas e ganhos, como ela mesmo diz no começo do próprio livro, é algo que gira ao redor da crônica.

Na verdade é um desabafo, assim como em Pensar é Transgredir. São detalhes, opiniões de quem já viveu, pelo visto viveu como pode e atualmente senta no topo de sua vida e vê que aprendeu com tudo o que aconteceu, cresceu com todo o ocorrido. E é tudo natural, viver é natural. Complicam-se muito as coisas.

Por se tratar de crônicas que contém partes, e boas partes, de realidade o livro ganha uma certa densidade. Ele é bem escrito e seu ritmo varia de acordo com a natureza do que vai sendo dito. Às vezes notamos um tom claro de grito angustiado, outras uma leveza digna da serenidade.

Um aprendizado. O livro é muito mais um aprendizado da autora que para o leitor. Não que não possamos nos regozijar com sua jornada, acompanhar com carinho ou tensão suas nuances e seus desvios. Tudo ali está escrito de forma final e entre acertos e perdas sobra uma experiência válida, a leitura do próprio livro.

Não vi nesse livro, como vi um pouco no Pensar é Transgredir, uma certa necessidade de passar o que se diz. Como que se quisesse ser ouvida/lida. Nesse livro sente-se muito mais a autora em um monólogo universal em que expõe calmamente o que quer transmitir, mas sem a necessidade de buscar um leitor.

Os valores abordados no livro são o cerne de nossa sociedade. Auto estima, aprender a viver, família, velhice, etc. Ela tece por meio de vários fios de pensamento um tom coeso, que ela acha lá pelo meio do primeiro terço do livro e o mantém firme até sua última página. Ler um livro de desabafo, ou opinião, é algo cansativo se não bem escrito e verdadeiro.

Ali está um pedaço de uma pessoa, uma pessoa comum, com facetas, sabores e dissabores. Que por se mostrar naturalmente se torna uma experiência gratificante, muitas vezes dolorosa se acompanharmos os paralelos reais do que é dito. Se constatarmos toda a dolorosa realidade em que pessoas vivem, em suas prisões, em suas necessidades, em suas vidas que não vivem, mas são vividas por.

O livro é de tal maneira eficiente no que se propõe, que não é muito, mas o faz de forma muito boa e gostosa. Para quem lê-lo despretensiosamente garanto que não vai ser uma leitura desagradável. Para quem buscar nele alguma coisa, assim como se busca algo no outro que se conhece, como quem necessita do outro para ser feliz, bem acho que o livro vai parecer bem pior do que é.

O que transparece de forma clara é que a autora aprendeu, muitas vezes da pior maneira possível, que somos pessoas únicas, que devemos crescer concomitantemente sozinhas e juntas, sempre da melhor maneira possível. Que nossa sociedade cisma em dizer como devemos viver, e esse “dever” é sempre o mais torpe possível.

Bem. O livro não tem fundamento a não ser na experiência da autora e de nossa convicção em sua sinceridade ao escrever o que escreve. E como escreve temos uma noção de como ela é sincera, na medida do possível. Algumas vezes duvidamos de tudo o que ali está escrito, como se tivesse sido um pouco forçado para que causasse uma impressão determinada. Mas no fundo, a vida em si é absurda mesmo, o que ali figura é verossímil e isso que conta no final.

Abra o livro e delicie-se com as primeiras palavras. Para alguns vai bater bem enquanto para outros vai ser chato. Cada um tem uma hora, tem sua hora, só leia se tiveres prazer e for aproveitar a leitura. De outro caso, deixe encostado e volte a pegá-lo em alguns anos, talvez seja mais proveitoso nessa hora.

Leia descompromissadamente, essa é a dica dessa resenha.

leandroDiniz
Enviado por leandroDiniz em 15/01/2007
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