Romance SENHORA - Aurélia, exemplo de grande empreendedora e administradora

O escritor José de Alencar foi um dos primeiros escritores românticos do Brasil. Autor de grandes obras marca o romantismo brasileiro com a personagem de Aurélia Camargo, em Senhora. Esta obra retrata o amor acima das dificuldades, pois Aurélia é uma jovem bela que luta por seus sonhos e ideais, mesmo após ser traída.

A jovem Aurélia Camargo, moça de origem humilde, torna-se rica após receber a herança do avô, aos l8 anos, quando é apresentada à sociedade do Rio de Janeiro. Dona de uma esplendorosa beleza, Aurélia encanta a todos. Tendo ficado órfã de mãe há pouco tempo, tem em sua companhia uma parenta viúva, D. Firmina Mascarenhas, mas é Aurélia quem governa a casa como bem entende.

A mãe de Aurélia, Emília era casada com um médico pobre, Pedro Camargo, filho natural de um rico fazendeiro, Lourenço de Sousa Camargo, que desconhece o casamento do filho. Este parte para a fazenda paterna, mas não tendo coragem para enfrentá-lo, envia cartas amorosas à esposa e dinheiro para seu sustento. Após um ano de separação, o casal se reencontra, e desse reencontro, nasce o primeiro filho do casal, Emílio, que o pai só conhece aos dois meses de idade. Passam a viver algumas semanas juntos e outras separados. Nasce a segunda filha, Aurélia.

Aurélia, na infância, leva vida modesta em companhia da mãe e do irmão, jovem fraco que é ajudado em seu trabalho de pela irmã. Morto o irmão, a mãe devota todo seu amor para Aurélia, ela preocupa-se com o destino da filha, que precisa se casar, Aurélia atende aos apelos. Vários candidatos aparecem inclusive o tio Lemos irmão de sua mãe e ela o repele.

É Fernando Seixas que conquista a atenção de Aurélia, passa a freqüentar-lhe a casa, porém, sentindo-se constrangido em namorar moça tão pobre. O senhor Lemos resolve interferir nos acontecimentos e ao encontrar o pai de Adelaide Amaral lhe fala sobre as vantagens do casamento da moça, já prometida a outro, com Seixas. O pai que não gosta do pretendente da filha, pois o mesmo é pobre decide ajeitar o casamento de Adelaide com Seixas. O rapaz apesar de amar Aurélia vê mais vantagens no casamento com Adelaide e aceita a proposta do pai da moça que lhe oferece como dote 30 contos de réis.

O jovem Seixas vai se afastando cada vez mais da casa de Aurélia, a moça fica muito infeliz, por outro lado, reencontra o avô, que decidira reconhecer mãe e filha. Desafortunadamente, tanto a mãe quanto o avô logo falecem. Um comerciante visita Aurélia e lhe traz o testamento de Lourenço de Sousa Camargo, reconhecendo-a como sua herdeira universal, lhe apresentando uma lista de seus bens e explicando sobre os negócios pendentes.

Os parentes, antes distantes, tão logo sabem sobre a herança, correm para vê-la, inclusive o tio Lemos que consegue ser nomeado seu tutor. Mas Aurélia sabe como conduzir seus negócios, pois a mesma aprendeu quando ajudava seu irmão.

Aurélia solicita de seu tutor ajuda para conseguir um marido, o escolhido é Seixas que ela conheceu quando ainda era pobre, seu tutor faz a proposta de casamento a Seixas lhe oferecendo 100 contos de réis que o mesmo aceita sem que lhe seja revelado quem é sua noiva.

O casamento de Aurélia e Seixas é uma farsa, eles vivem separados, e a esposa na intimidade vive humilhando o cônjuge. Fernando, todavia, trabalha e realiza um negócio que lhe permite levantar o dinheiro que devia a Aurélia. Desse modo, propõe-se a restituir-lhe a quantia em troca da separação. Considerando o gesto uma prova da regeneração de Fernando, Aurélia, que nunca deixara de amá-lo, é vencida pelo amor, o que leva à consumação do casamento.

O romance apresentado surgiu no final do século XVIII. Onde o autor José de Alencar, usou como tema básico do livro o casamento por interesse devido o recebimento de uma herança e a discutível moral burguesa.

Nota-se a crítica de Alencar à sociedade daquela época, que não admitia a emancipação e as moças se faziam acompanhar pelos pais ou parentes.

José de Alencar, por sua vez, utiliza na literatura o "Casamento", sendo um retrato fiel de posições políticas e sociais. Ele defendia o "casamento" entre o nativo e o europeu colonizador, numa troca de favores: uns ofereciam a natureza virgem, um solo esplêndido; outros a cultura.

Mostrando um jogo de interesses, onde, retrata-se a sociedade imperial carioca da época, ”o Rio de Janeiro do Segundo Reinado”. Na trama do romance Senhora, há uma situação invertida. No romance, um homem se vende a uma mulher, com todas as formalidades comerciais, dinheiro, documentação, assinatura e posse da mercadoria.

Dessa forma, pode-se perceber como a evolução da condição feminina foi bastante lenta e no Brasil teve marcos básicos, dentre os quais pode-se citar o Estatuto da Mulher Casada, que alterou o Código Civil; a Consolidação das Leis do Trabalho; a Consolidação das Leis da Previdência Social e as anteriores Cartas Magnas culminando com a atual Constituição Federal.

À mulher não era permitido estudar e aprender a ler. Nas escolas, administradas pela igreja, somente lhes eram ensinadas técnicas manuais e domésticas. Esta ignorância lhe era imposta de forma a mantê-la subjugada desprovendo-a de conhecimentos que lhe permitissem pensar em igualdade de direitos. Era educada para sentir-se feliz como "mero objeto" porquanto só conhecia obrigações.

Com a mudança da Corte portuguesa para o Brasil foram abertas algumas escolas não religiosas onde as mulheres podiam estudar, entretanto, restritas aos conhecimentos de trabalhos manuais, domésticos e a gramática do português de Portugal a nível do antigo primário.

Com a Constituição de 1824 surgiram escolas destinadas à educação da mulher, mas, ainda, voltada a trabalhos manuais, domésticos, cânticos e ensino brasileiro de instrução primária. Ainda era vedado que mulheres freqüentassem escolas masculinas. A vedação da mulher ao conhecimento escolar tinha dois motivos básicos, em primeiro lugar o convívio entre homens e mulheres, o que, segundo a igreja, poderia provocar relacionamentos espúrios, e, em segundo lugar porque sendo a instrução dada aos homens em nível mais elevado, não poderiam mulheres freqüentar as mesmas escolas. Somente no início do século XX foi permitido que homens e mulheres estudassem juntos.

Assim, o romance "Senhora" é um clássico da literatura brasileira. Uma história de "amor às avessas", com muito drama e muita crítica. O livro faz diversas críticas sociais, criticando a ganância, a vaidade, a falsidade e etc. Porém, o clímax da história toda está em volta do casamento por dinheiro e a posição de subserviência da mulher.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ALENCAR, José de. Senhora. 1ª Ed. São Paulo: Editora Rideel, 1997.

PILETTI, Nelson e PILETTI, Claudino. História e Vida, V2. São Paulo: Ática, 1995. P. 93, 94 e 95.