Kumulipo/ O Canto Sagrado Havaiano

Nome do Livro: Kumulipo/ o Canto Sagrado Havaiano

Tradição oral escrita pela Rainha Lili'uokalani

Admiro o semblante feliz do povo havaiano, de crianças a velhos. Seria o Espírito de Aloha - forma de compartilhar amistosamente o mundo com os outros - a inspiração para todo este alto astral?

Ai olhando a foto de uma bebezinha havaiana, com um vestidinho de estampa Aloha - nenê que parecia um solzinho irradiando luz - me ocorreu que existia algo na cultura havaiana, que promovesse desde o nascimento esta configuração feliz.

Logo conheci o chamado "Canto de Criação" - O Kumulipo - que é uma oração feita aos deuses, antes do nascimento da criança: onde se descreve a origem das espécies, a partir do surgimento de criaturas do mar, insetos, plantas terrestres, animais, e eventualmente seres humanos; formada a partir daí uma lúdica e complexa teia de inter-relações - simbólicas e biológicas - entre todos estes elementos.

Cantos cerimoniais de nascimento na Polinésia que se faziam através do Kumulipo havaiano, que é um canto de oração genealógica, que liga a família real aos deuses primários, e também a todo o povo, como aos aliados de outras ilhas da Polinésia.

Canto do Kumulipo, composto por volta de 1700, com mais de duas mil linhas, sendo que mil delas são de genealogias retas, que dizem respeito a descendência das famílias nativas. Os especialistas nestas genealogias, cantadas até hoje, funcionam como árbitros judiciais para definir direitos sucessórios.

De grande importância naquela época zelar pela virgindade da mulher, que vai ter o seu primeiro filho, pois disso dependia a exatidão da linhagem sucessória.

Quando na cerimônia um mestre da canção reunia dois ou mais dos seus companheiros, recitadores, para memorizar e afinar a maneira correta de se dizer corretamente as milhares de linhas do cântico sagrado, a ser recitado pela ocasião de um nascimento.

Recitação que envolve uma técnica especial em lidar com a voz, porque um erro ou hesitação em pronunciar uma palavra já seria sinal de má sorte para a pessoa e sua família. Esta a descrição de uma recitação admirável: "A voz tomou um tom quase de uma nota, e cada palavra foi enunciada claramente, quando havia uma vibração no canto em conjunto com um som gutural na garganta e um borbulhar na voz. Ela que era posta para fora com força e mas exercido o controle para toda palavra pudesse ser ouvida de maneira clara."

Como o pensamento nativo havaiano é de caráter poético, e ainda tem uma compreensão cósmica dos fenômenos da natureza, então ao se recitar o surgimento do mundo, do sol, e a escuridão, também se está falando do nascimento do ser humano.

O canto sagrado destinando-se principalmente a celebrar os nascimentos, ou a gestação, porque parte dos versos dizem respeito as suas primeiras semanas. O sol no poema simbolizando a criação de energia, e o lugar de onde procede a vida, cuja fonte é o deus que gerou também o mundo espiritual.

Eis que com a vinda dos ingleses para o Hawai, os missionários codificaram o idioma nativo, falado, surgindo assim a língua havaiana escrita (tal como os jesuítas fizeram aqui no Brasil com o tupi escrito).

MARTHA WARREN BECKWITH , pesquisadora da Universidade de Chicago comentou este canto da criação, cujo manuscrito original tem 66 páginas e está no Museu de Honolulu: obra que fornece um rol enorme com o nomes de plantas e animais, de utilidade para biólogos e outros pesquisadores da fauna e flora havaiana. Embora as diferentes traduções do Kumulipo, alterassem o sentido de variadas partes do Canto, dando espaço para a ambiguidade no significado de certas palavras.

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Em 1874 a linha da família real Kamehameha foi extinta. O príncipe David Kalakaua tornou-se rei e governou até a sua morte em 1891. Quando foi sucedido por sua irmã, a Rainha Lili'uokalani, que seria a última representante da monarquia havaiana, antes de sua derrubada, devido a criação de um governo provisório em 1893, de onde se seguiu, em 1898, a anexação das ilhas aos Estados Unidos, como todo o Território do Havaí.

Assim, em 1895 a Rainha Havaiana, Liliuokalani - que reinou de 1891 à 1893 - por ser muito letrada e instruída traduziu este canto sagrado enquanto amargava a prisão, em razão de um golpe de Estado que sofreu.

Disse a rainha havaiana na introdução do seu trabalho de tradução:

" A tradução que agradavelmente fiz enquanto estava presa pelos atuais governantes do Havaí será para os meus amigos uma lembrança de que parte da minha própria vida, possivelmente, também pode ser de valor para os genealogistas e homens de ciência de algumas sociedades."

Aura de felicidade e contentamento dos havaianos que está visceralmente ligada a esta tradição do canto sagrado - feito oralmente pela ocasião do nascimento de uma criança - para assim entrar no DNA deste povo, séculos atrás.

Imagens do sol nascendo e dando vida às coisas: metáfora da luz que toda mãe dá a um filho ao colocá-lo neste mundo.

fonte:

http://www.sacred-texts.com/pac/ku/index.htm