Resenha Crítica: A Vida que Ninguém Vê de Eliane Brum

A Vida que Ninguém Vê

Autora de um dos livros mais consagrados do Brasil, a gaúcha e também jornalista Eliane Brum utiliza do complexo mundo não idolatrado pela sociedade para escrever suas crônicas - reportagens. A obra de Edição nº1, lançada em 2006 e editada pela Arquipélago Editorial, apresenta 21 capítulos emoldurados em 208 páginas retratando situações corriqueiras despercebidas aos olhos de muitos. Venceu o Prêmio Jabuti em 2007 na categoria livro de reportagem, além dos Esso e Vladimir Herzorg nutrindo do simples, o completo.

A demarcação do livro volta – se para o “anonimato” presente nas ruas e merecedor de uma história que teria de ser relatada. Há quem encare com maus olhos os mendigos, negros, os que usam vestimentas rasgadas, as famílias desalojadas, deficientes físicos e mentais, garis, além daqueles que encontram o suprimento de vida no que foi jogado fora. É uma espécie de jornalismo poético no subconsciente quebrando padrões comuns por disseminar quem ouve, sente e lê. Os protagonistas embutidos não são famosos, mas sim simples cidadãos que transformam e chocam o mundo com pequenas ações revolucionárias.

Linguagem simples nas 1ª e 3ª pessoa do singular em suma de reportagem com entrevistas, ou seja, é narradora – observadora e personagem ao citar o ‘ele’ e fazer perguntas mostrando o ‘eu’ ao longo das histórias. Essa se faz importante devido à aproximação com o leitor, tornando suas estórias complexas por personagens em fatos históricos relevantes. Uma das mais impactantes é a do O Chorador, representado por um senhor que costumava ir a todos os velórios da cidade para desdenhar sua aflição e tristeza mesmo que não conhecesse o defunto. Mostra ter solidariedade, uma vez que todos querem ter reconhecimento em vida e não apenas na morte.

A Vida que Ninguém Vê é uma obra relatando a vida que todos têm conhecimento e ninguém quer admitir que exista. Muitas das colunas de Eliane estavam no jornal Zero Hora da época, o que tornou possível realizar o sonho de Adail com a ajuda da TAM. Não há como não se deixar levar pelo seu lirismo que de forma paradoxal muda a forma das pessoas verem o mundo com um olhar sobre os que necessitam de atenção. O que ela fez foi resgatar os esquecidos pela sociedade agindo de forma crítica, relevante e imparcial.

BRUM, Eliane. A Vida que Ninguém Vê. Arquipélago Editorial. 2006. Priscila Demoliner Czysz, acadêmica do curso de Jornalismo da Universidade de Passo Fundo (UPF).

Priscila Czysz
Enviado por Priscila Czysz em 15/08/2012
Reeditado em 21/01/2013
Código do texto: T3832192
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