Leitura e escrita: novas propostas de ensino-aprendizagem

Livro: KOCH, Ingedore Villaça. ELIAS, Vanda Maria. Ler e escrever: estratégias de produção textual. 2.ed. São Paulo: Contexto, 2012.

"Tenho medo de escrever. É tão perigoso. (...) Sou um escritor que tem medo da cilada das palavras: as palavras que digo escondem outras - quais? Talvez as diga. Escrever é uma pedra lançada no fundo do poço." (Clarice Lispector)

No livro "Ler e Escrever: estratégias de produção textual", as autoras KOCH e ELIAS expõem, por meio de um discurso didático, conceitos acerca de leitura e escrita, desde a ideia de ambas como decodificação linguística até a concepção de interação entre escritor e leitor. Com isto, as autoras propõem novas ferramentas para o trabalho com produção de texto.

KOCH e ELIAS, autora e coautora, são doutoras em Língua Portuguesa, professoras de instituições como USP, PUC e Unicamp, pesquisadoras com grande experiência na área de análise do discurso, texto e produção de sentido, estratégias de ensino de produção de texto, e trabalhos com a linguagem.

As autoras dividem suas exposições em oito capítulos cujos títulos são: Fala e Escrita; Escrita e Interação; Escrita e práticas comunicativas; Escrita e contextualizações; Escrita e intertextualidade; Escrita e progressão referencial; Escrita e progressão sequencial; Escrita e coerência.

Inicialmente, o livro trata da concepção de leitura e escrita no decorrer dos anos. Tanto a leitura quanto a escrita eram concebidas como um processo de decodificação. O leitor precisava apenas dominar o código linguístico.

Posteriormente, o texto passou a ser entendido como uma representação mental do escritor. Assim, considerava-se a escrita como materialização do pensamento de quem escreve. Tal concepção gerou a ideia preconceituosa de que apenas quem lê e escreve tem a capacidade de pensar.

A leitura passou a ser entendida como um processo de interação entre escritor e leitor. O primeiro tem a tarefa de produzir um texto que alcançará o maior número possível de leitores em cada público alvo. O segundo precisa dispor de conhecimento linguístico (vocabulário, pontuação, recursos semântico); enciclopédico (conhecimento de mundo armazenados na memória do leitor); conhecimentos de texto (modelos/ características e funções dos gêneros/intertextualidade); e interacionais (modelos cognitivos de práticas de interação comunicativa).

A leitura e a escrita, a partir do conceito de interação, mostra-se a partir de práticas comunicativas. Um texto, portanto, depende da relação escritor e leitor para produzir sentido.

Segundo as autoras, toda escrita só pode ser entendida se estiver contextualizada. Deve-se atentar tanto para o cotexto (elementos intratextuais) como para o contexto (elementos extratextuais).

Todo texto também é produto de outros textos. Este diálogo é conhecido como intertextualidade, e influencia na interpretação do leitor.

KOCH e ELIAS analisam elementos de progressão referencial. Trata-se da repetição por meio de referentes. Tal organização pode ser uma ferramenta para que o escritor oriente os caminhos da leitura. Com isto, o texto provoca expectativas, suspense, surpresa.

O capítulo a respeito de escrita e progressão sequencial trata de paralelismos, parafraseamentos, da organização e manutenção temáticas, progressão e encadeamento de tópicos ou ideias desenvolvidas.

O último capítulo desenvolve o conceito de escrita e coerência. Como trabalhar com o explícito e o implícito. Como escrever de maneira econômica e elegante. Como evitar a desorganização das ideias, as contradições.

Com uma linguagem simples e objetiva, KOCH E ELIAS discutem as relações entre leitura e escrita, e como elas são trabalhadas na área de produção textual. O livro é uma ótima ferramenta para docentes e pesquisadores da área de linguagem, pois traz uma grande quantidade de exemplos de diversos gêneros: tirinhas, notícias, textos literários, publicitários, produções de alunos do ensino Fundamental II ao Médio, crônicas publicadas em jornais.

Em alguns momentos, as autoras chegam a exagerar no discurso didático, tudo é muito bem explicado e exaustivamente exemplificado. Em contrapartida, os detalhes do assunto expostos de maneira simples faz com que a leitura flua de maneira rápida e leve, sem perder em conteúdo e aplicações práticas.

A obra traz concepções inovadoras acerca do ensino de produção textual, tarefa difícil para quem ensina, e ainda mais difícil para quem aprende, ou está tentando aprender.