Por que me envolvi com Dostoiévski?

Em Humilhados e Ofendidos duas histórias – Natacha e Nelli - se cruzam permeadas por amor, ódio, sede de vingança, muitas ofensas e humilhações. Narradas por Ivan Petróvitch (Vânia) – um jovem escritor apaixonado desde a mais tenra infância por Natália Nikoláievna (Natacha), mas que se compadece de sua paixão e dor por Alexei Petróvictch (Aliocha), um jovem imaturo de seus sentimentos e regido por um pai, o príncipe Piotr Aleksándrovitch, um ser abjeto desprovido de bons sentimentos e valores morais. A narrativa se passa na pequena Petersburgo do princípio do século XIX.

Natacha abandona seus pais para viver um amor ilícito com o jovem Aliocha, filho do príncipe Aleksándr, dono das terras que Nicolai Serguiête e Anna Andrêievna, pais da protagonista, tomam conta e que de forma injusta são julgados pelo príncipe como desonestos, contraindo assim uma dívida que será paga com muitas humilhações e ofensas. Seu melhor amigo e irmão adotivo, o jovem escritor apaixonado, a acompanha nessa desenfreada paixão. Aliocha, ao contrário de Natacha é fraco e forçado pelo pai a casar-se com Kátia, linda e de espírito impetuoso, filha de uma condessa e que por essa razão lhe renderia muitos rublos.

Nelli, uma órfã que por ironia do destino tem sua vida atada à de Ivan Petróvitch por quem passa a nutrir o maior dos sentimentos, depois de ter sua mãe morta, abandonada por seu avô que uma vez tendo amaldiçoado a filha foi incapaz de perdoá-la.

É nesse ponto que as histórias se cruzam, Nelli e Natacha se veem sozinhas e abandonadas, exceto pela ajuda solitária e amor de Vânia.

No capítulo final, há a rendição por parte do pai de Natália, que a perdoa depois de lágrimas vertidas com a história da pequena órfã, que além de perdida a mãe, descobre-se, é filha do príncipe Piotr Aleksándrovitch, que a abandonou , roubou a fortuna de seu avô, sujeitou o próprio filho à sua sede de poder e dinheiro. Nelli, por sua vez, não resiste a todo esse sofrimento e sucumbi à própria dor.

O texto completo atrai a atenção do leitor, a atmosfera na qual se desenrolam as histórias é de grande tensão psicológica e a realidade e miséria entre classes são vistas de modo espetacular por Dostóievski. Considerado um dos maiores escritores russos do Realismo, também fundador do existencialismo – corrente filosófica que se ocupa do homem, suas angústias e quimeras. O escritor é genial, um dos maiores nomes da literatura universal e que muito influenciou a literatura do século XX.

A história narrada nos impulsiona a uma tentativa vã – porque é própria do humano a fragilidade - de compreensão sobre a humanidade, segundo seu autor, “a pobreza e a miséria formam o artista”. Eu diria que o homem só é capaz de se projetar sobre o problema do outro quando passa por situações semelhantes ou se aproxima delas através da literatura. A ficção é, pois, o canal utilizado pelo homem para se fazer melhor, mais humano e, quem sabe, livre de suas próprias amarras e preconceitos. Eis o motivo pelo qual me envolvi com Dostoiévski.

RosalvaMaria
Enviado por RosalvaMaria em 29/09/2012
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