Um escritor do nosso cotidiano
Conteúdo do livro: contos, crônicas e reflexões, abordando uma temática opulenta: reminiscências, sobrenatural, causos (narrações curtas, em geral faladas) de bichos e cobras, evocação e elogio de pessoas, recontagem de histórias populares...
       Anilto aproveita a generosa matéria-prima advinda da vida, dos fatos, do povo, de modo que algumas narrativas se enquadram numa dimensão folclórica.
       Contos mais notáveis: "Alma penada", "A transfiguração", "O carteiro e a rua sombria", "Minha
morte", "Do outro lado da vida", "Sobreviventes do fim do mundo", "Ama-de-leite", "Deus salve a América" e "Cadela vadia".

       Reflexões mais vivazes: "O tempo e as questões paralelas", "Planta mirrada e amizade comprometida" e "Fim de ano, começo de ano".
      Nessas composições - contos e reflexões - sua interpretação da realidade se realiza verdadeiramente através da ficção, da invenção, da imaginação criadora. Há na sua confecção uma entrega artística, resultando num autêntico apogeu literário.

 
 
              Elementos de um texto narrativo
     Através dos séculos, a História da Literatura seguiu consolidando os elementos que presidem a narrativa. Presentemente, existem:
1 – narrador - relata uma estória com personagens, que atuam num espaço, circunscritos num tempo. Há três tipos:
- narrador em primeira pessoa (ou narrador-personagem)
- narrador em terceira pessoa (ou narrador-observador)
- narrador onisciente.

1.1 - foco narrativo - ocorre conforme esse ângulo, essa visão, esse ponto de vista do narrador: primeira ou terceira pessoa do singular.

2 – personagens - criaturas que se movimentam, que agem, ocasionando os acontecimentos, realizando as ações; esses entes fazem a história se mover, gerar e gerir fatos,  evoluindo para o clímax (ou auge, ápice, desfecho) e o seu final, onde tudo se explica e resolve.
     Na classificação de E.M. Forster - universalmente aceita – eles se apresentam como redondos ou esféricos 
(complexos, contraditórios, profundamente angustiados, capazes de atos jamais imaginados...) ou planos (simples, previsíveis, calculáveis, presumíveis...).
(*)

3 – ambiente ou espaço – lugar, local ou cenário povoado pelos personagens, onde se desenvolve o enredo.

4 – enredo - ordenamento em série dos episódios, sequência lógica dos acontecimentos, entrelaçados entre si, vale dizer, em rede.
 

5 tempopode ser cronológico e psicológico.
Cronológico: é o tempo real, a contínua passagem das horas, que administra tanto os seres humanos quanto as figuras da ficção. É exterior aos personagens.
Psicológico: não há como medi-lo ou calculá-lo, pois engloba o tempo interior dos personagens: um tempo subjetivo, imperceptível portanto. Envolve lembranças, reflexões, planos mentais elaborados, divagações...

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(*) “Mais precisamente em 1927, aparece o livro Aspects of the novel, de E. M. Forster, romancista e crítico inglês que, apesar de todas as suas outras obras, imortalizou-se pela sua classificação de personagens em flat - plana, tipificada, sem profundidade psicológica - e round - redonda, complexa, multidimensional.” (Beth Brait)

 

      Aplicação desses elementos à Coletânea
Narrador:
Em suas histórias há quase sempre um narrador personagem, como em “Alma penada”, “A transfiguração”,
“Minha morte”, “Do outro lado da vida”, “Sobreviventes do fim do mundo”, “Ama-de-leite” e “Deus salve a América” e “Cadela vadia”.

Em “O carteiro e a rua sombria”, o autor preferiu um narrador onisciente.

 
Personagens:
Planos (previsíveis).
 
Enredo:
Elementar, sem sofisticação, sem maiores complicações ou dificuldades de entendimento e avaliação.
 
Tempo:
Cronológico (tempo real – exterior aos personagens), em geral.
Psicológico (interior aos personagens – fluxo de consciência) em “Minha morte”, onde depende deles para passar, fluir.

 
Espaço:
Ambiente urbano (cidades como o Rio de Janeiro e cidadezinhas, vilarejos, povoados).
Ambiente rural (campo, interior).
 

 
                           Verdades temerosas
       A verdade digamo-la: sua abordagem é amadora, de curioso das letras que começou e tomou gosto. Um vocabulário sem nenhum tratamento literário (sem a necessária reescritura - o que daria mais arte, mais finura, mais primor aos contos).
     Temas repetidos (histórias de sua autoria quase recontadas, seguidamente). Extrema semelhança de estruturas narrativas, de conto para conto.
     Ele imita a realidade, não a recria artisticamente.

     E quando se apropria de alegorias folclóricas de domínio público (como “Jesus, os cegos e o elefante” ou “A neve meu pé prende”), que preexistem com a genuína graça e o elevado simbolismo, apenas as reconta, sem maior destaque, sem nenhum relevo, requinte ou majestade literária.
     Assim, escrevendo ou reescrevendo mal e dizendo tudo, ele não deixa, não permite ao leitor qualquer possibilidade de chegar ao deslumbre das descobertas estilísticas ou à adivinhação das tramas, dos mistérios sussurrados. Não o deixa ler, pensar e concluir sozinho. Nem degustar o que leu. Sem delícias ocultas.
     Textos secos, brutos, triviais, mal trabalhados.



                            
Recomendando...
     Sugiro, indico o livro ao leitor comum, que busca entretenimento, distração, emoções e recreação; que gosta de histórias curiosas e divertidas e ainda com ensinamentos para a vida.
 

                              Sobre o autor:
José Anilto dos Anjos nasceu em 3 de julho de 1957, em Alagoinha, Pernambuco.

          Prêmios recebidos:
- Prêmio InteArte 2011, da Academia de Letras de Goiás Velho - Categoria "Melhores contistas"
- Troféu "Destaque 2011", da Academia Niteroiense de Belas Artes (ANBA)
- Acadêmico Correspondente da ANBA
- Selecionado para o livro "Panorama Literário Brasileiro (Poesias) - Ed. 2011 - CBJE"
- Selecionado para o Livro "Panorama Literário Brasileiro (Contos e Crônicas) - Ed. 2011 - CBJE"


          Participação em Antologias:
1. VINGANÇA - Prato que se come frio?
     (Org. Izabelle Valladares)  
    "A Enfermeira Tagarela"

2. Palavras Sem Fronteiras
    (Org. Izabelle Valladares)
      "Alma Penada"
      "A Cascavel no Pé de Gabiroba"

3. I Antologia da Academia Literária de
    Poetas, Escritores e Cronistas (ACAPEC)
    (Ed. Sapere)
   "Meu Boi Babão"
   "Borboleta Pequenina"
   "A Menina Atacada"
   "Deus Salve a América"
   "Joana de Alagoinha - Casada por Um Noite"

4. Antologia de Poetas Brasileiros
    Contemporâneos - 79 - Câmara
    Brasileira de Jovens Escritores – CBJE
   "Meu Amor, Basta-me..."

    http://www.camarabrasileira.com/

5. Antologia de Poetas Brasileiros
    Contemporâneos - 80 – CBJE
    "O Roçar do Teu Braço"
  
6. Antologia de Poetas Brasileiros

    Contemporâneos - 82 - CBJE
    "Sobre a Relva"
  
7. Crônicas do Cotidiano - Ed. 2011 – CBJE

    "Pescadores de Urubu"
      
8. Crônicas da Cidade - Ed. 2011 – CBJE

    "Pipoca, Amendoim Torrado"
      
9. Seleta de Crônicas - Ed. 2011 – CBJE

    "Pedro Amansador de Abelhas"
  
10. Crônicas "E lá vem a Esperança de

       Novo..." - Ed. 2011 – CBJE
       "O Periquito Verde"
  
11. Sexta-Feira 13- Contos 2011 – CBJE

      "O Carteiro e a Rua Sombria"
  
12. Do Outro Lado da Vida - 2011 – CBJE

      "Do Outro Lado da Vida"
  
13. Tempo de Tudo - Contos 2011 – CBJE

       "Revoada de Borboletas"

14. Contos de Outono - 2011 – CBJE
       "A Queda da Casa de Maria Gorete"
  
15. Contos de Inverno - 2011 – CBJE

       "A Caminhada"
  
16. Contos de Verão - 2011 – CBJE

       "A Menina Trepada no Umbuzeiro"

17. Grandes Contos de Autores Brasileiros
       - 2011 – CBJE
       "O Ratinho de Carretel"
  
18. Contos de Grandes Autores Brasileiros
       - Ed. Especial 2011 – CBJE
       "A Transfiguração"
  
19. Livro de Ouro do Conto Brasileiro

     Contemporâneo - 2011 – CBJE
     "Serpente no Caminho"
  
20. Panorama Literário Brasileiro

      - Poesias 2011 – CBJE
      "O Roçar do Teu Braço"
  
21. Panorama Literário Brasileiro

      - Contos e Crônicas 2011 – CBJE
      "O Carteiro e a Rua Sombria"



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      A sinopse da Livraria Cultura ressalta seu triunfo no difícil domínio de personagens, estilo, técnica e temas: 
     "Depois de sete anos escrevendo para blogs e para antologias, o autor reuniu neste livro seus contos e crônicas melhor avaliados. São temas diversos, que abrangem desde o universo infantil até o cotidiano dos adultos. Apesar do autor ser policial militar, evitou ao máximo tratar de temas como a insegurança e violência, embora um ou outro texto toquem de leve nestes assuntos, mas sempre trazendo nuances de esperança, amizade e alegria. Muitos textos remetem a um avô contando histórias para seus netos."
              (www.livrariacultura.com.br)
 
 

Fontes de consulta:
Textos  Selecionados: Coletânea de
Contos e Crônicas, de José Anilto dos
Anjos. 116 páginas. All Print Editora, São
Paulo, 2012.


Aspectos do Romance, de E.M. Forster.
4ª edição. Tradução de Sérgio Alcides.
Prefácio de Luiz Ruffato. Editora Globo,
SP, 2004.

 
Dicionário Aulete Digital. Lexicon
Editora Digital. SP, 2010.
 
Dicionário de Português | Michaelis - UOL.
Editora Melhoramentos Ltda., SP, 2009.

Notas de Teoria Literária, de Afrânio
Coutinho. Ed. Vozes, RJ, 2008. 
 
Português – Literatura, Gramática e
Produção de Texto, de Leila Lauar Sarmento
e  Douglas Tufano. Vol. 1. 1ª edição. Editora
Moderna, SP, 2010.
 
Site de textos:
http://textos.anilto.com
Escrivaninha:   Capitão Anilto
                    


                                         Fim

          
Enviado por Jô do Recanto das Letras em 11/10/2012
Reeditado em 09/11/2012
Código do texto: T3927143
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