UM ALPENDRE, UMA REDE, UM AÇUDE

UM ALPENDRE, UMA REDE, UM AÇUDE – RACHEL DE QUEIRÓZ

Alguns cristãos radicais querem nos forçar a acreditar que não há nada de bom no mundo, isso não é realidade. Quem fez as pontes? – os homens, ainda que alguns, não crentes; quem pintou quadros belíssimos que só enchem nossos olhos e nossa percepção? – os homens, apesar que alguns não eram cristãos; qual ser do conseguiu sair do planeta? – o homem, ainda que alguns não cristãos; quem transforma a geografia e cria obras fantásticas? – o homem, mesmo alguns não sendo seguidores de Cristo. Mas da onde veio essa percepção, para criar, fazer, desfazer, mudar seus espaços? De Deus, é a resposta. De Deus. O homem nãoconseguiria fazer nada se Deus não tivesse planejado sonhos para todos nós. Eu já disse isso antes, mas vou repetir, o caso do empresário que tinha um sonho desde criança: fazer camisas. O sonho do homem, desde a mais tenra idade, era fazer camisas, assim como mostrou um programa da Globo, Pequenas Empresas, Grandes Negócios.

Não fica atrás como criação humana o livro de Rachel de Queiroz: “Um alpendre, uma rede, um açude”. Lógico que não vamos compará-la a Kant, mesmo que o objeto de suas discussões serem de teor diferente e portanto líquidos que não se misturam. Kant tentou explicar o mundo de forma filosófica. Aliás diz-se ser filosófico toda discussão onde profundidades da alma são interpretadas de forma mais profunda, o que quer dizer, com mais acuidade, mais cuidado, mais elaboração. Um assunto é filosófico se conseguir discutir segundo os moldes das doutrinas filosóficas e todas as vertentes do mundo, ou todos os pensadores do mundo estão voltados para explicar o homem, o enigma que é o homem. Eu já andei por muitos lugares e acredito que a única resposta viável é a dada pela Bíblia.

Um alpendre só não é perene porque não trata de assuntos universais de forma mais requintada, nem aderindo a temas grandiloqüentes; entretanto, o livro trata de forma a nos sensibilizar a cada página, a nos permitir antever um mundo, que passou, lá pelos idos de 1920 a 1940, na qual Rachel de Queiroz podemos dizer, era uma estudiosa da alma humana.

Um alpendre, uma rede, um açude, é uma coletânea de ensaios quer versam praticamente sobre tudo, sempre baseados na época; onde Rachel consegue nos transportar. O livro é de um lirismo tão imenso, de uma poesia das mais profundas, apesar de não ser escritos em tercetos e outros. 100 Crônicas Escolhidas é o subtítulo, que só vem coroar ainda mais o que já era bom.

Eu recomendo esse livro. Eu e a Prefeitura de São Paulo, que andou dando esse livro aos alunos, como incentivo à leitura. Esse imenso livro, elaboradíssimo em suas entrelinhas, que cuida principalmente da alma humana – que é o que verdadeiramente interessa, abaixo de Deus, é e não é de fácil leitura. Engana-se quem acha que o livro é obra menor.

Uma das histórias (agora estória ou história começa tudo com hi, que é estória inventada, ou história verdadeira - simplificou!) do livro é a do Garoto, o Kid, que com dois anos fazia das suas estripulias, onde chamava Rachel de Madame, de forma terna e doce, onde o Madame nunca ofendia, ou vinha ele, o Kid, pequerrucho a mostrar uma flor de nenúfar a se abrir, muito roxa, no tanque do seu jardim; Sem contar a sua fidalguia quando ia entregar um presente. Ed, o Kid, que me puxava as saias, sempre querendo biscoito. Um dia porém Ed sumiu ao meio dia, passou-se dez minutos e ninguém deu por conta dele, mas passados quinze, foi sua ama a indagar. Os gritos da mãe, uma angustia na alma, denunciou. Encontraram o Kid, afogado, entre as flores de nenúfar, ao lado do tanque, morto, com um pingo de água. Decerto um raio de luz mais brilhante, uma flor ou um inseto o atraira, fazendo-o debruçar-se e cair. Talvez, ainda, no tanque houvesse uma iara, ou uma sereia, que seduzida pelo cabelo louro do menino, lhe abrisse os braços, chamando-o, e não o soltasse mais. A ele bastava sorrir para fascinar as mulheres. (Ilha, julho de 1946)

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Um Alpendre, pra mim adquire ainda um papel insuspeito pela autora, o de cobrir buracos. Como já é costume de duas décadas, de quinze em quinze dias, que é o tempo permitido para ficar com 4 livros, ou revistas, ou sortido, desde que some 4, nós vamos à biblioteca. Existe períodos que os Dom Quixotes ou os Comte, ou ainda Graciliano Ramos, parecem sem graça, perderam momentaneamente o sabor e é num desses momentos que Um Alpendre entra em ação. Existem alguns livros que de tão bons, eu quero saborear aos poucos, ou sofrer aos poucos. Um Alpendre é um desses coringas, que de tão bom serve pra todo ânimo, ou falta de ânimo, de humor, que possa estar passando. Ele me cabe quando estou triste, ou duro, ou angustiado, ou de tão alegre: disperso. Um outro que era pra mim um senhor coringa, era Maquinas que pensam, uma coletânea de ficção cientifica, que tanto me atrai. Infelizmente o livro sumiu das prateleiras, acredito que não para manutenção, mas que foi surrupiado. Feliz quem está com o livro, de um lado, pois é um senhor de um livro, e coitado quem vendeu sua alma, por um livro, sendo que poderia ter toda uma biblioteca, se fosse assíduo e devolvesse o tal. Nunca mais vi esse livro em lugar algum. Fiquei órfão, pois muitas das histórias não tinha lido.

Enfim, o livro:

UM ALPENDRE, UMA REDE, UM AÇUDE – 100 CRÔNICAS ESCOLHIDAS, de Rachel de Queiroz, eu recomendo.

pslarios
Enviado por pslarios em 26/12/2012
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