Primeiras Estórias


O Mestre Rosa alimenta de beleza e profundidade poética nossa alma e coração.


Tem horas em que, de repente o mundo vira pequenininho mas noutro de-repente ele já torna a ser demais de grande, outra vez.A gente deve de esperar o terceiro pensamento. Em  Nenhum, Nenhuma de JGR
 

     Não sei se interessa a alguém, mas me faz bem escrever impressões sobre as leituras que faço. É claro que não escrevo sobre TODAS, mas na maioria das vezes, escolho escrever sobre as que me emocionam.
     Meu sonho, bobo talvez, de pessoa e educadora é de que mais pessoas nesse país adquiram o hábito de se dedicar à leitura. Com certeza melhoraremos muito como pessoas e como nação.
     Infelizmente a escolha de muita gente é somente a televisão, que quase sempre em suas programações refletem o lixo, a indigência cultural, a desumanização que grassa, imponente, com a nossa aquiescência e submissão aos ditames do que é moda, insensíveis a intenção nefasta de quem “faz TV” para emburrecer quem a acompanha.
     Não fico no muro dos que apenas lamentam. Ao contrário, trabalho e luto diuturnamente para que este lamentável (sim!) quadro se reverta e mantenho viva a esperança de que dias melhores virão. Dias mais cheios de intelectualidade, de poesia, de cultura, de leitura.
     Com os pés bem fincados na sensibilidade, no olhar que alcança realidades para além das aparências é que indico o profundo, sensível e poético Primeiras Estórias, livro que nos enche a alma de brasilidade, de humanidade e de ternura poética para com o universo do Mestre Guimarães Rosa, presente especial de um amigo que sabe o quanto me é caro, o quanto me encanta esse universo.
     “À primeira vista, a leitura de Primeiras Estórias pode, falsamente, parecer difícil e a linguagem soar erudita e ininteligível, mas essa é uma avaliação precipitada. Na verdade, o autor busca recuperar na escrita, a fala das personagens do sertão mineiro; a poesia presente nas imagens, sons e estruturas de uma linguagem que está à margem da norma estabelecida pelos padrões urbanos.” *
     Publicado em 1962, portanto um ano antes do meu nascimento, o livro traz na 15ª edição da Nova Fronteira, uma nota do editor esclarecendo alterações na grafia de muitas palavras decorrentes da Reforma Ortográfica, o poema de Drummond Um chamado João (João era fabulista/fabuloso/fábula? Sertão místico disparando no exílio da linguagem comum?) e um excelente ensaio de Paulo Ronái explicando o Por que “primeiras” e por que “estórias”? e muitos aspectos como a construção dos personagens, o cenário, a diversidade e muito mais da obra do Mestre.
     Coisas lindas se leem e se veem, com os olhos da alma e da poesia, coisas lindas e profundas sobre a alma humana me surpreenderam e me encantaram nesse universo tão peculiar  nessa obra prima de João. Este, certamente, é um dos livros que irei ler e relê muitas vezes em minha vida.
 
*Recomendo também a excelente análise da obra
no   http://www.passeiweb.com/na_ponta_lingua/livros/analises_completas/p/primeiras_estorias