Enclausurado

O tema “morte” muito me atrai. Descubro o que jamais pensei sentir. E sinto tanto, como se ela estivesse a me seguir, feito sombra, a morte. Tive o prazer de ir ao lançamento de um livro, na verdade um velório (*20/10/1992 † 20/10/2012), na Cidade de Atibaia no interior de São Paulo. O poeta se chama Claudemir Rodrigues Pinheiro, o Clau. O chamamento para me levar até lá foi “Aqui jaz um poeta”, o que me feriu na alma, profundamente. Mais Clau, de apenas 20 anos de idade, está “vivinho da silva”. Pude me deliciar nas páginas de terror, o verdadeiro amor às palavras. “Quando você se vai, caio em prantos por não tê-la feito ficar. Nada mais vai bem, minhas esperanças se vão, vou também”. Seus verbos são encantos. Este doce fingir. Fingir amor, ódio e até loucura. Fato. Um poeta precisa de todos os sentimentos, todos eles juntos para findar amor. Mesmo um amor trancado no peito. Estando enclausurado ou não. Recebi o convite para tal momento do amigo Guilherme Pedroso, Coordenador de Planejamento da Pixxcom, uma agência focada no desenvolvimento de campanhas e ações de Marketing Digital. Trabalham para inovar os processos já realizados em empresas, aliando a criatividade, tecnologias e estratégias diretas, visando sempre o objetivo final do cliente. Que também esteve presente para abrilhantar o evento, dando apoio não somente a um amigo, e também admirar seu talento. “Noutro tempo ele brincava, sentia a vida e nela via sentido. Brilhante época infante! Certo dia percebeu-se diferente, sentia-se confinado em um corpo pequeno demais para a sua alma. Suas limitações foram constatadas; suas expectativas, frustradas. Seus sonhos afundaram, suas ambições foram deixadas de lado. Não havia dúvidas, descobriu-se enclausurado. Preso dentro de si poetizou sentimentos. Foi o começo de sua expressão, razão pela qual viveu – Arte! Exprimiu angústias, experimentou sensações, transpassou suas emoções. O poeta em questão tratou neste livro da vida, da morte, da contemporaneidade, do bem e da maldade. E, e tanto tratar, veio a fatigar. Então ele fez uma escolha na vida – A morte. Explico-me. Quem morreu foi o poeta, já cansado de sofrer para criar, de chorar por amar. Matei-o, confesso, mas suicídio não é crime. Este livro é o corpo de delito, isto prova que me assassinei. Com efeito, prossegue o velório de pessoa viva, mas de alma morta. Ambos éramos um, ele tinha a poesia e eu tinha a escrita. Matei-o, foi preciso, pois ele queria me possuir com sua poesia, com sua rebeldia. Não penso nisso. Explico-me. Sou vítima e réu de mim mesmo. Um de nós morreu, e desde sempre vejo um cadáver no espelho. Este livro é um féretro aberto, leia-o para ver a morte de perto. Quem morreu foi o poeta Clau, seu caderno em estado terminal foi confiado a mim, Claudemir, e estas memórias póstumas eu dedico ao poeta confinado em cada um de nós, que está à espera de um pouco de poesia para vir à tona e impor a sua voz. Aos leitores, eu vos confio estas páginas obituárias”. Pensei que fosse a única louca, por pensar em morte em vida, a vida na morte. Desejar dor e sofrimento. Clau faz parte de uma parte da população louca, quer dizer, de poetas que devaneiam nesta loucura que é admirar a amiga de capa preta e de foice na mão. Credo, nem sempre sou assim. Bom, o livro não é somente uma “nota do inferno” (Pág.39), Clau é sensível nas palavras, sentimos uma busca amarga no amor, em momentos diferentes, um sonho de um mundo melhor... “Somos todos espantalhos, crucificados em plantações. Na proteção do que possuímos, desdenhamos as afeições, então murcham-se os milharais e também os corações”. Certamente, em meio a tantos ditos e não ditos, mesmo tendo matado seu próprio poeta, tens no sangue ainda resquício de poesia, já basta. Parabéns!

www.sullamino.com

Sulla Mino
Enviado por Sulla Mino em 23/05/2013
Código do texto: T4304806
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2013. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.