Fernando Sabino e sua gente

Fernando Sabino não tinha do que reclamar: os amigos nunca lhe faltaram. E isso ia muito além dos seus amigos de quarteto (Otto Lara Resende, Paulo Mendes Campos e Hélio Pellegrino). Também não se resumia ao seu companheiro de Editora Sabiá, o cronista Rubem Braga. Sobre estes, inclusive, Sabino tinha uma dificuldade terrível de escrever alguma coisa. Travava. Intimidade demais. Mas Sabino tinha outros tantos amigos, na literatura, na música, no jornalismo, nas artes plásticas, na arquitetura, e todos figuras de destacada atuação e reconhecimento por vezes internacional. Cada um desses amigos mereceu uma espécie de “crônica-perfil”, que um dia Sabino juntou e publicou na ótima coletânea chamada “Gente”.

Na literatura, Sabino parece ter sido amigo de todo mundo. Lá estão textos sobre Mário de Andrade, com quem se correspondia, Manuel Bandeira (ao lado de quem sentou no ônibus sem ter coragem de se apresentar), Augusto Frederico Schmidt (um dos textos mais divertidos), Pablo Neruda (de quem mereceu um artigo o espinafrando), e ainda Drummond, Marques Rebelo, João Cabral de Melo e Neto, e até alguns que moravam mais longe, como Erico Veríssimo, Jorge Amado e Dalton Trevisan (só o fato de ter arrancado algumas opiniões de Dalton já vale a leitura).

Há também os poetas-músicos, como Vinícius e Jayme Ovalle (a julgar pelo texto, um personagem incrível). Na música há gente do porte de Villa-Lobos, Tom Jobim, Artur Moreira Lima, Dorival Caymmi… Na pintura, Portinari, Di Calvacanti, Salvador Dali… Na arquitetura, Lúcio Costa e Niemeyer. Até o Pelé foi ouvido. E por aí se seguem uma infinidade de personagens bastante respeitáveis em suas áreas de atuação.

Sabino captou bons momentos deles, quando não estavam praticando as atividades que os consagraram, e através deles conseguiu revelar um pouco mais da humanidade (e um pouco da loucura) que se esconde por trás de cada um. Também ele, Fernando Sabino, acaba de certa forma virando um personagem do livro, não tanto pelos raros textos que o envolvem, mas pela maneira como se relaciona com seus amigos.

Tudo isso, naturalmente, na escrita habilidosa e sempre ágil de Sabino, que tem uma das prosas mais gostosas de se ler da nossa literatura.

Henrique Fendrich
Enviado por Henrique Fendrich em 01/08/2013
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