Capítulo IV- OS CAVALEIROS DE CRISTO
 
     Jerusalém foi conquistada pelo exército cruzado em 15 de julho de 1099. Depois de uma pavorosa luta para romper as muralhas e entrar na cidade, na qual a maior parte dos cem mil habitantes de Jerusalém são mortos, os cristãos vitoriosos instalam-se nos principais edifícios, ainda em pé, na cidade sagrada. Ali começam a organizar um governo. Godofredo de Boillon, o comandante do exército é eleito rei do recém fundado reino de Jerusalém, mas se recusa a tornar-se o “soberano da cidade onde morreu o Salvador”, como ele diz.    
       Aceita, porém, o título de “Defensor do Santo Sepulcro”, e com um punhado dos seus cavaleiros, começa a expulsar das fortalezas limítrofes a Jerusalém os assustados sarracenos. Um ano depois, a 18 de julho de 1100, morre o grande comandante, sendo sucedido por seu irmão Balduíno. Este, bem menos humilde que o seu místico irmão, logo aceita o título de rei, que aquele recusara. Dessa forma, nasce o reino cristão de Jerusalém.
        Entre os cavaleiros que entraram em Jerusalém, naquela sangrenta tarde de 15 de julho de 1099, estão dois companheiros de Godofredo de Boillon, tão místicos e crédulos em sua missão redentora, quanto o romântico príncipe da Lorena. São os cavaleiros Hugo de Paganis (Hugues de Payen) e Godofredo de Saint-Omer (Godefridus de Sancto Audemardo). O primeiro era originário da região de Champagne, o segundo vinha da região de Frandles.
        Depois de um tempo lutando em diversas frentes para ampliar os domínios cristãos na Terra Santa, no ano de 1118, esses dois cavaleiros decidem consagrar-se a Deus, tornando-se monges. Escolhem como regra a ser seguida a dos monges de Santo Agostinho e fazem votos de perpétua obediência á Igreja, de manter a castidade, e de viver na pobreza.  E para a “remissão de seus pecados”,  propõem-se a servir os peregrinos que demandam ao Santo Sepulcro, lutando para prover sua segurança. É um voto religioso e cavalheiresco ao mesmo tempo, muito próprio dos místicos cavaleiros medievais, que de pronto agrada ao jovem rei Balduino II e ao Patriarca de Jerusalém.
      Assim, eles se tornam os guardiões das estradas, se instalando no desfiladeiro de Athilit, o lugar mais perigoso do caminho que conduzia ao Santo Sepulcro. Aos dois românticos cavaleiros juntam-se outros sete – André de Montbard, Gondemare, Godofredo, Roral, Payen de Montdésir, Godofredo Bisol e Arquibald de Saint-Agnan, todos devotos como os primeiros e completamente assumidos com a missão. Assim, eles tornam-se nove.
    Tornam-se famosos pela valentia com que lutam conta os sarracenos e pela piedade com que tratam os peregrinos. Sua pobreza é estrema, de tal maneira que dois cavaleiros ocupam a mesma montaria, e todos os recursos para sua manutenção vem da caridade dos peregrinos por eles servidos.
     Balduíno II reconhece a utilidade e a serventia dos nove pobres cavaleiros de Cristo e lhe concede uma sede. Esta será uma ala reconstruída do antigo Templo de Jerusalém, onde se dizia ficar as estrebarias do rei Salomão. Naquele momento fazia parte da mesquita El-Aqsâ, a da cúpula dourada. Ali eles se instalam e passam a ser conhecidos como “Os Pobres Cavaleiros de Cristo e do Templo de Salomão ( Pauperes Commilitiones Crhisti Templique Salomoni).”
      Durante nove anos esses nove cavaleiros iriam exercer, com extrema eficiência, sua função de policia dos caminhos que levam ao Santo Sepulcro. Sua bravura, sua conduta exemplar, sua piedade e dedicação, sem reservas, á causa que abraçaram, conquistam para eles a admiração de toda a mídia cristã e o respeito dos inimigos muçulmanos. O Rei Balduíno II, após a outorga da ala do Templo para a montagem da sua sede, os cumula de favores e regalias. A Igreja, a quem eles estão sujeitos por força de seu juramento, reconhece a sua utilidade e importância, e dá-lhes todo o crédito.
      No ano de 1127, a fama dos nove cavaleiros já é tanta que o próprio rei de Jerusalém e a Igreja decidem oficializar a organização, fazendo dela uma verdadeira Ordem de Cavalaria, com estatuto de corporação religiosa. É com esse propósito que, no outono de 1127, juntamente com seis dos seus cavaleiros, Hugo de Payen se dirige a Roma, para oficializar esse pedido ao Papa.
       O Sumo Pontífice, já ciente da fama dos cavaleiros guardiões dos caminhos do Santo Sepulcro, se mostra ampla-mente favorável á essa oficialização. Assim, para redigir um Estatuto para a novel Ordem, ele escolhe o mais respeitado dos intelectuais da Igreja, na época, o erudito padre Bernardo de Clairvaux. Nasceria, dessa forma, a famosa Regra Latina, que doravante seria o Estatuto pelo qual se regeria a nascente Ordem dos Pobres Cavaleiros de Cristo e do Templo do Rei Salomão, conhecida na História como Ordem dos Cavaleiros Templários.
(continua)
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RESUMO DAS ATAS DO JULGAMENTO DOS TEMPLÁRIOS- OS GRANDES JULGAMENTOS DA HISTÓRIA- CLAUDE BERTIN- ED. AMIGOS DO LIVRO- LISBOA,S.D