A SACRALIZAÇÃO E DESSACRALIZAÇÃO DA LIRÍCA MODERNA DE ROBERVAL PEREYR

Os anos passam? Não sei.

Quem sabe eu passo, eles ficam.

e me devolvo

mais novo

a outro tempo em que minto

Quem sabe o tempo em que sinto

Seja distinto e adverso,

e nele eu regresse, integro

ao velho que fui e nego.

(PEREYR, Robeval. Duo. In: Mirantes, p.38, 2012)

Roberval Alves Pereyr em seu texto: A unidade primordial da lírica moderna: O tumultuado aflorar de uma linguagem esquecida, discute sobre o mundo moderno que é considerado dessacralizado, permanecendo nele, o logos (razão) junto com à linguagem da ciência como algo superior para a explicação e expressão do que é verdade ou não.

No mundo sacralizado, Deus é o centro de tudo e explicação de todas as coisas, como também mantêm o equilíbrio entre o bem e o mal. Essa sacralização não é mais bem vista no mundo moderno, por questões logocêntricas e filosóficas. A permanência da razão para a explicação dos fenômenos, acontece pelas mudanças de pensamento filosófico e científico que visam um conhecimento não mais teocêntrico, ocorrendo assim, a morte de Deus.

Através da linguagem poética, ocorre a ressacralização para opor-se a dessacralização do mundo moderno. A ressacralização é alcançada pela poesia que, incide em resgatar as “diferenças, pela contínua revelação da alteridade constitutiva do homem e do mundo” (PEREYR, p.30, 2012). A ressacralização, buscada pelo poeta moderno é uma forma de voltar as suas origens, não negando o mundo moderno.

O vazio existencial, causado pela chegada do mundo moderno, sentido pelos poetas pode ser preenchido pela ressacracilização laica através da poesia. E no aflorar das angústias e questionamento sobre razão e morte de Deus, a razão não permaneceu como único processo criador poético. Ao contrário, a morte de Deus provocou na imaginação dos poetas “um despertar” da criação mítica.

O poeta moderno, apropria-se do mito, do sonho e do que é mágico para sobressai sua voz sufocada, romper limites e fundos falsos das supostas verdades. Nesse sentido, a poesia lírica sonha em reconquistar dentro do mundo moderno, uma tradição plural. Essa poesia se torna ao mesmo tempo sagrada e profana, e que o poeta transforma em deuses e demônios ou um mágico das palavras.

No entanto, os processos poéticos não são semelhantes aos atos mágicos ou dos rituais sagrados, já que, a poesia moderna se torna uma expressão simbólica de uma linguagem nova, mais preocupada com as ações negativas do homem no mundo moderno. Essa poesia, a manifesta em um contexto histórico e cultural instáveis, se opondo a uma forte resistência entre o bem e o mal, o amor e ódio e entre “o ser e não-ser", “a ordem e o caos”, causados pelos tempos modernos e suas complexidades.

Referência:

PEREYR, Roberval. A unidade primordial da lirica moderna. 2.ed. Feira de Santana, BA: UEFS Editora, Rio de Janeiro, RJ: 7 Letras, 2012. 106 p.