O PRIMO BASÍLIO: DO ROMANCE À TRANSPOSIÇÃO FÍLMICA

José Maria Eça de Queiroz nasceu em 25 de novembro de 1845, na cidade de Póvoa do Varzim, Portugal, e faleceu em Paris, França, em 1900. Começou sua atividade de escritor como jornalista do Distrito de Évora, jornal independente, que ele mesmo assinava todos os artigos. Em 1871, participou das Conferencias Democráticas do Cassino Lisbonense, pronunciando a segunda conferencia com o tema: “O Realismo como nova expressão da arte.” Melhor romancista do Realismo português, Eça publica, em 1878, O Primo Basílio. Nele, o autor, atacando ferinamente uma das instituições mais sólidas da sociedade, o casamento, tece duras criticas ao ambiente doméstico da família burguesa de Lisboa. O adultério é tema caro ao Realismo e assunto central do livro, que narra a historia de Luísa, jovem sonhadora, romântica e frágil, da sociedade lisboeta, que acaba envolvida pelos encantos de seu primo Basílio, com quem torna a se encontrar, depois de anos. Encontrando-a solitária, já que Jorge, seu marido, viajara ao Alentejo a trabalho; o primo a envolve numa teia de sedução e gracejos, até torna-la sua amante. Não resistindo à profunda atração que os envolve, Basílio procura um lugar para que se encontrem discretamente, uma vez que a vizinhança já destila o veneno da fofoca. Porém, logo a empregada Juliana descobre o romance dos dois e confisca a correspondência, passando a ameaçar a patroa. Desesperada, Luísa propõe a Basílio que fujam, contudo ele rejeita a proposta e vai embora sozinho para Paris. Nas mãos da criada, a jovem fica sem saída, tendo que se submeter aos serviços domésticos, providenciar melhores estalagens para Juliana e “presenteá-la” com sua roupa. Jorge retorna da viagem e estranha a situação da esposa; sem forças Luísa busca ajuda no melhor amigo da família, Sebastião, o qual pressiona Juliana, e recupera as cartas. A empregada, no auge da fúria, morre. A jovem esposa de Jorge em seguida adoece. Mais tarde, Luísa recebe uma carta de Basílio, porém quem a lê é o marido, que acaba por descobrir o adultério da esposa. Vendo a convalescência da mulher, ele decide perdoá-la. No entanto, a burguesa, ao saber do conhecimento do marido sobre seu envolvimento com o primo, piora e morre. O desfecho da obra revela a futilidade e falta de sentimentos de Basílio que, ao saber da morte de Luísa, lamenta não ter trazido sua amante de Paris. O Primo Basílio passou pela pena de Eça num momento de fortalecimento da escola Realista/Naturalista em Portugal, e se mostrou como um verdadeiro romance de tese, reunindo algumas características do estilo: a descrição de personagens com baixo caráter, a ironia, marcas de sexualidade, critica social; e acentuadas referencias à falsa moral, à religião “maquiada” e aos costumes. O consagrado romance de Eça de Queiroz inspirou o diretor Daniel Filho, em 2007, a adapta-lo a cinematografia brasileira. O clássico de Eça de Queiroz envolve o leitor na teia de uma trama atemporal, baseada em sentimentos de caráter universal, como paixão, desejo, amor, ambição, ódio, inveja. Sendo assim, uma das destacáveis diferenças entre o longa-metragem e o romance é o espaço, ao invés da Lisboa do final do século XIX, o enredo fílmico se passa em São Paulo de 1958. Mesmo com toda a inspiração, a transposição fílmica apresenta algumas falhas, a exemplo da não bem-sucedida trilha sonora, a julgar pelas senas de sexo entre Basílio e Luísa, que tinham tudo para serem sensuais, e não sentimentais, como foram apresentadas. No entanto, além da incrível e acertada escolha do elenco, o diretor criou um filme com tecnologia de ponta e uma fotografia excelente, tornando o longa uma digna transposição de um romance de Eça de Queiroz. Quanto à escolha dos atores, não poderia ter sido melhor, Reinaldo Gianechini, Debora Falabella e Glória Pires formam um trio magnifico, representando com maestria os complicados personagens de Eça. Glória Pires, por exemplo, ficou perfeita no papel de Juliana, conseguindo mostrar o caráter vingativo e ambicioso da personagem. No mais, o filme conseguiu representar muito bem o clássico do mestre da Literatura Portuguesa, manteve a ideia principal, a critica às famílias de classe media-baixa da burguesia lisboeta do século XIX e o inevitável adultério, motivado pelo excesso de fantasias sentimentais, plantadas nas cabeças das leitoras da época pelo romantismo. Portanto, tanto o livro quanto a versão fílmica merecem os devidos méritos por suas excelentes produções; sendo que, um não dispensa o outro, ou seja, é importante que se assista ao filme e se leia o livro, a fim de compara-los e ter uma visão mais ampla sobre os assuntos abordados em ambos os meios de comunicação.

REFERÊNCIAS:

QUEIROZ, José Maria Eça de. O primo Basílio. São Paulo: Ciranda Cultural, 2008.

PRIMO BASÍLIO. Direção: Daniel Filho. Intérpretes: Debora Falabella; Glória Pires; Fábio Assunção; Reynaldo Gianecchini; Simone Spoladore; Guilherme Fontes; Zezeh Barbosa; Laura Cardoso; Gracindo Jr; Anselmo Vasconcelos. Roteiro: Daniel Filho e Euclydes Marinho, baseado em obra de Eça de Queirós. Música: Guto Graça Mello. Globo Filmes/ Lereby produções/Miravista/Total Entertainment, 2007. 1 DVD (110 min).

LF Rodrigues
Enviado por LF Rodrigues em 21/02/2014
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