HUMBERTO DE CAMPOS E AS NOTAS DE UM DIARISTA (1ª série)
Miguel Carqueija

Um dos autores brasileiros que eu recomendo pela leveza e interesse de seus textos é Humberto de Campos, grande cronista dos anos 20 e 30 e que nos legou copioso material em muitos volumes de contos e crônicas que redigiu com fino estilo e refinado senso de humor, eu diria britânico. Não me parece que os colégios costumem acertar ao impor aos seus alunos o estudo de romances sociais ou de costumes escritos com amargo realismo ou vocabulário empolado. Romances de José de Alencar, Machado de Assis, Graciliano Ramos, Jorge Amado, Joaquim Manoel de Macedo, Aloisio de Azevedo, José Lins do Rego, por respeitáveis que sejam não me parecem adequados para adolescentes, quando dispomos de Malba Tahan, Cecília Meireles, Paulo Setúbal, Thales Andrade, Maria José Dupré, Francisco Marins, Jeronymo Monteiro, Hernani Donato, Vicente Guimarães, Viriato Correia, João Batista Melo, Maria Clara Machado e José J. Veiga, além de Humberto de Campos, é claro. No volume supra-referido encontramos 50 deliciosas crônicas que Campos publicou na imprensa e que foram reunidas em volume postumamente. O exemplar que acabo de ler é de 1960, de W. M. Jacson Inc. Editores. “A impunidade de Lampião” constitue (sic), sem dúvida, uma vergonha da civiização brasileira”, escreve H.C. na crônica VI, sem imaginar até onde irá a impunidade neste país, oito décadas depois. Na crônica XIX resume um delicioso conto de Tchekov, sobre um homem perseguido por caixões de defunto. A crônica 43 tem por título “A santa fome de ouro” e, com seu pitoresco estilo, H.C. fala dos males, das lutas que a cobiça do famoso “vil metal” atrai sobre a raça humana: “A posse de ouro, de muito ouro, é, assim hoje, o problema capital de todos os povos”. “E vendo que o ouro era prejudicial à felicidade humana, Deus tomou-o novamente e enterrou-o nos pontos mais profundos da terra. E é lá que o homem o vai buscar, perfurando poços imensos, até que o traz, de novo, à superfície do planeta, para motivo de discórdias, de pecados, e de guerras”. Como no filme de Rita Pavone, “Rita no Oeste”. São, como eu frisei, crônicas deliciosas, que lançam luz sobre acontecimentos do Brasil e do mundo na época de Humberto de Campos, escritor simples, humilde e despretensioso, porém amável e simpático em sua simplicidade e sinceridade. Rio de Janeiro, 10 de dezembro de 2013.


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